quarta-feira, janeiro 31, 2007

Hips don't lie, do they?






Como fazer Deus rir? Conte a ele seus planos futuros.







Hoje, sei lá por que raios, eu acordei com o novo hit da Shakira tocando na cabeça. Acho que tive algum sonho escuso com o rebolado dela, ou algo assim. "Oh baby, when you talk like that/ You make a woman go mad/ So be wise and keep up reading the signs of my body/ Oh, my hips don't lie..."

Bem, voltando ao texto. Acordei com a música na cabeça e estranhamente me sentindo... bem. Feliz. Apesar de ter acordado com dor de cabeça. Como diz uma amiga minha, "Allana tem dores de cabeça tanto quanto eu tenho vontade de ir no banheiro". Prosseguindo, fiquei o resto do dia cantarolando a música (na verdade, apenas o refrão, que é só o que eu sei) e meu namorado resolveu tocar no assunto: "Incrível como a música hoje em dia fala só de sexo".

Sim, porque, afinal, Hips don't lie é praticamente nigga music. E começamos a tomar nota da decadência da música pop: Nelly Furtado, que aparecia no vídeo em um belo campo verdejante cantando "I'm like a bird that only fly away" hoje se passa por uma "Promiscous Girl". A própria Shakira, que cantava não tão inocente "Estoy aqui, querendo-te" já fala dos sinais que o quadril dela dá. Meu exemplo maior, contudo, é Britney Spears.

Joguem as pedras que quiser, mas eu acho que não tem nada melhor de ouvir pra uma garota de 13 anos baladinhas como "Sometimes I run/ sometimes I hide/ Sometimes I'm scared of you/ But all I need is only hold you thight/ Treat you right/ Be qith you day and night/ Baby all I nedd this time", e coisinhas bonitinhas como "I was born to make you happy".

Sim, eu tinha o primeiro CD da Britney, e se surpreendam, alguém roubou ele de mim. Ou eu emprestei e esqueci de pegar de volta. E cheguei a comprar o segundo, apesar de não ter gostado muito. Mas ainda me lembro de outras letras, como "Oops, I did it again/ I played with your heart/ Got lost in this game, oh baby". E... bem, hoje ela rebola uma bunda que não tem, exibe uns 500ml de silicone e se acha a dona do mundo. É a vida...

E eu ainda poderia citar Christina Aguilera, embora eu sempre defendi que ela fosse uma vadia, mas com níveis diferentes de vadiagem. Veja bem, no mesmo álbum que temos coisas como "Who is that girl I see/ Staring a strange back at me?/ When will be my reflection show?/ Who I am inside?" (tema do primeiro Mulan, da Disney, vale salientar) nós temos a famosa "Baby, se quiser ficar comigo/ Há um preço a se pagar/ Sou um gênio numa garrafa/ Do jeito certo você tem que me esfregar*". Bem, essa não é das posturas mais... inocentes, hã?

E a MTV ainda diz que ela está retomando suas influências do jazz... difícil de engolir, hã?


* Tradução livre do primeiro hit da vad... er, cantora em questão: "If you wanna be with me/ Baby, there's a price to pay/ I'm a gennie in a bottle/ You gotta rub me for right way".

Notícia de Jornal





Love is just a game



Era um lugarzinho pacato, não muito violento ou badalado. De fato, a maior novidade girava em torno de um grupo de jovens que se hospedavam numa das pousadas dali. Aparentemente, eles descobriram um lugar ótimo para fazer “turismo radical” nos limites da cidade. A área era realmente bonita e propicia para tal atividade. Tinha morros, quedas d’água, ficava próxima da mata. Tudo o que os visitantes queriam.

No entanto, o jornal local se cansara disso. Seus leitores não escalavam pedras, pulavam de pontes nem faziam trilhas na floresta. As notícias e informações sobre o que aquele grupo fazia ali já não atraía os habitantes da cidade. O redator-chefe também não agüentava mais publicar sobre enterros, casamentos e batizados. Seu jornal precisava de ação, emoção, talvez de sangue. Será que não havia um caso de adultério seguido de homicídio? Quem sabe um jovem drogado agredindo os transeuntes?

- Desculpe, senhor, mas o máximo que aconteceu foi uma briga entre dois vagabundos – Disse um jornalista, com voz cansada.

- E o que aconteceu?

- Nada demais. Só um olho roxo.

- Então, a notícia terá que ser criada. – Resolveu o redator-chefe, com um brilho estranho nos olhos.

No dia seguinte, a notícia lida pelos moradores da pequena cidade continha medo, violência e sangue. Um mendigo matou outro com pauladas na cabeça. Disputa territorial, o agredido estava dormindo no banco da praça que “pertencia” ao outro. De quebra, ainda roubara a latinha de cola do agressor.

Fato parecido era realmente novidade por ali. Havia brigas, é claro. Tinha aquele senhor que era alcoólatra, outro que discutia toda noite com a mulher. Mas homicídio, drogas; aquilo assustou a população.

Os velhinhos, aterrorizados, pararam de conversar na calçada ao anoitecer. As mães passaram a super-proteger seus filhos. Os homens discutiam entre si, no intervalo dos jogos de futebol dominicais, sobre como as pequenas cidades haviam perdido a vantagem de serem seguras. Esse mundo estava perdido! Não havia mais segurança ali, então não havia segurança em lugar algum desse planeta!

E, naquele dia, o jornal vendeu. Vendeu como nunca!



* Reedição, ainda que nunca tenha sido publicado no Membrana. Fernanda está passando por um pequeno bloqueio criativo (ataque de estrelismo) e resolveu não publicar nada novo esses dias. A idéia de publicar justamente esse conto partiu do Rascunhos de uma Mente.

Black-Music-seiláoquê X Funk



Vermelho, vermelho cereja, vermelho morango, corselete vermelho, unhas vermelhas, lençóis de seda vermelhos, vermelho fogo, vermelho sangue, vermelho.



Certas pessoas “se jogam” na pista da boate ao som de músicas como “Don’t Cha” e “Buttons” de Pussycat Dolls, “My Humps” do Black Eyed Peas e “Candy Sop” do 50 Cent, mas saem correndo se o Dj quiser “brincar” e colocar nas pick-ups algo como “Boladona” da Taty Quebra Barraco ou “Vacilão” da Perla... “Ai eu odeio funk, as letras são fúteis e baixas...isso é coisa de pobre".

Será mais uma vez aquele famoso preconceito pelo que é “nosso”? Será que só porque a letra é cantada em inglês as pessoas acham legal?

Muitas dessas músicas pop/black-sei-lá-o-quê têm letras com o teor bem mais “incorreto”, “carregado”, “baixo” “vazio” e afins que o das cantadas nos bailes cariocas...

Tenho uma música eletrônica no meu computador que se chama “Dirty Mary” (“hello, my name is Dirty Mary, your horny secretary...I'll be whatever you want me to be... I can be a motherfuckkin' slut …”), e aí? Não deixa muito funk no “chinelo”?

Não sou amante do funk, nem vou dizer que gosto de ouvir músicas chamando mulheres de “cachorra” – mesmo que muitas façam por merecer o apelido carinhoso, mas gosto do ritmo, gosto de música eletrônica e gosto de black-music-seiláoquê...essas musiquinhas pop também me agradam e, pra falar a verdade, é difícil algum estilo me desagradar por completo...escuto forró, rock, metal, samba...o que for...depende do momento. O que vale é a diversão.

Então penso que uma pessoa que está numa festa se divertindo e fazendo “altas coreografias” ao som de “my hump, my hump, my hump, my hump” e do nada sai correndo pra sentar porque começou um “tá dominado, tá tudo dominado” e não pode ser vista dançando “essas coisas de baile funk de periferia” estará sendo um pouco hipócrita ou não sabe nada de inglês e acha que Black Eyed Peas falava sobre preservar a natureza...

- devaneios enquanto ouvia "n" músicas no mp4 que salva o tédio de uma manhã no estágio.
- sim, eu respeito quem não gosta de pop, música eletrônica, black music...espero que esteja claro pra que "gênero de gente" vai o post.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Rainy days

Como fazer Deus rir? Conte a ele seus planos futuros.

"Admirar um velho quadro é verter a nossa sensibilidade numa urna funerária, em vez de lançá-la adiante pelos jatos violentos de criação e ação. Você quer portanto estragar suas melhores forças numa admiração inútil do passado, do qual você sai forçosamente esgotado, diminuído, espezinhado?"
(F.T. Marinetti, Manifesto Futurista)



Chovia pesadamente aquele dia. Era fevereiro, afinal. Chovia pesadamente quase todos os dias daquele mês. Giorgio sempre acreditou que chuvas em dias de funeral queria dizer alguma coisa, embora ele nunca soubesse o que. Preferia pensar que a torrencial chuva ia levar embora aquele sentimento vazio que, ironicamente, o preenchia.

Já era viúvo havia anos - e aquele buraco foi preenchido por um espírito prático e racional. Naquele dia, no entanto, não pôde evitar de lembrar dela. Sofia. O que ela diria se estivesse ali? O que ela teria feito se tivesse presenciado a morte do seu primogênito?

Era estupidez pensar naquilo. Ela estava morta, afinal. Talvez ela tivesse feito isso justamente para não precisar passar por aquele momento. Ele estava sozinho, isso que importava. Seu filho mais velho, Richard, havia morrido por vingança de um grupo rival. Todos os seus homens de confiança também. Pensando agora, eles também tinham família. Filhos e esposas estavam chorando sobre túmulos agora.

Não que aquilo fosse um pensamento reconfortante.

Fez um sinal-da-cruz, pensando que não queria enterrar outro filho. Mattew estava no hospital, estado grave. Coma. Ao menos tinha alguma chance. Ao menos ele não estava enterrando seu irmão, a quem sempre fora tão apegado.

Giorgio amou Sofia, e conscientemente ela o havia deixado. Enforcada. A imagem dos seus lábios arroxeados pela falta de ar surgiu em sua mente. Amou Richard desde quando segurou-o quando ainda era um bebê chorão até quando fecharam o caixão antes de enterrá-lo. Amou Matt, o mais introvertido e talvez o mais sensato dos três. E amava Nicole, a garota sonhadora e a menina dos seus olhos. Teria que trazê-la de volta por mais que não quisesse.

Então seu telefone tocou.

Olhou o número e não conseguiu evitar um meio sorriso. Aquele massacre não ficaria em branco, afinal. Logo prepararia sua vingança. Deu as costas ao túmulo, levantou o capote, deu uns passos na grama molhada e atendeu o celular.

- Créditos do avatar: li-bra's deviantart
- Sim, eu sou péssima com títulos.

sábado, janeiro 27, 2007

Controle de Volume Cerebral




Quanto mais queijo, menos queijo.



Existem várias, várias coisas mesmo que eu gostaria de poder fazer mas ter um controlador geral de volume na minha cabeça seria algo fantástico.

Claro que não seria somente para o mundo externo, eu teria como aumentar o volume da minha biblioteca interna de músicas e conversas também. E dividiria o som externo.

Por exemplo: nesse exato momento, meu irmãozinho chato está ouvindo música a todo volume na sala. Não é que a música esteja ruim, é que ela está alta! E eu simplesmente odeio música alta. Me irrita, dá dor de cabeça, me estressa e impede que eu foque nos meus próprios pensamentos.

Eu poderia, nesse momento, baixar todo o volume que vem da sala, manter o do teclado e ligar minha biblioteca virtual. Já notou que no pensamento as coisas são mais perfeitas que na vida real? Com música não seria diferente: a qualidade seria melhor.

Quando o pestinha viesse reclamar, eu desligaria o som da voz dele na minha cabeça, assim ele poderia xingar o quanto quisesse.

Desligaria o som das buzinas impacientes num pequeno congestionamento de semáforo. Desligaria o som de pedintes, o de carros de som, o de manés com mega-caixas-de-som no porta-malas na praia, o da voz de pessoas chatas...

E claro, ampliaria o som da voz daquela amiga que está me contanto uma fofoca bem baixinho pro resto não ouvir, assim eu a ouviria perfeitamente e os outros, não. Aumentaria também o som dos pássaros, das ondas do mar, das pessoas que estão cochichando para que eu não ouça o que elas tem a dizer.

Eliminaria o som de gente comendo e conversando no cinema e melhoraria a qualidade do som do filme. Aumentaria bastante o som de uma gargalhada (principalmente a da minha professora de francês, a gargalhada dela é fantástica) e de cumprimentos felizes e sinceros e nunca mais ouviria um resmungão mal-humorado.

Seria bom também pra editar os sons, e usar só a parte construtiva das broncas que recebo/recebi. Assim, quando começasse a se repetir, tchau tchau. Desligamento e deletamento automático da parte sobressalente.

Um troço desses seria bem útil e eu seria uma pessoa tremendamente mais feliz, se pudesse fazer uso desse recurso.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Novas Mudanças




Quanto mais queijo, menos queijo.



Provando mais uma vez que somos um site democrático, abri uma nova enquete. A decisão a ser tomada dessa vez é se abrimos ou não novas sessões no blog.

Uma das escritoras daqui é a favor, a outra é contra e uma terceira ainda não se manifestou. Mas já que quem lê são vocês, decidimos (minto, eu decidi) abrir uma enquete.

O lado bom das sessões é que o blog fica mais organizado. Os leitores que não tem interesses por livros ou filmes simplesmente não precisam entrar. Os leitores que tem vão ter a certeza de achar algo por lá com uma certa freqüência, a ser determinada por nós caso a mudança aconteça.

O lado ruim é que é mais trabalho para todas nós, principalmente para mim, que vou ter que montar as páginas. Nada que não possa fazer em uma ou duas tardes, mas ainda assim é trabalho.

Bom, aqui está a enquete, votem, deixem comentários e opiniões (a própria janela da enquete oferece recursos e vocês sempre podem cometar no blog) e decidam o futuro do Membrana.

Ou não. Vai que a gente decide não acatar o resultado da enquete? Hehehe!!!

Ah! Só lembrando: se vocês lerem um texto, acharem interessante e quiserem comentar, fiquem a vontade, ainda que seja o primeiro texto do blog. Todos os comentários são recebidos por e-mail. Assim sendo, nós sempre os vemos. E se alguém quiser falar conosco, basta clicar em "Contato" e nos mandar um e-mail. Será sempre bem vindo!

quinta-feira, janeiro 25, 2007

O estranho caso do cachorro morto - Resenha




A lua não passa de um grande queijo suíço. E que será comida por ratos alienígenas.




Em um dos meus momentos entre-leituras, li um livro que ganhei no meu aniversário. O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon. Leitura rápida, interessante. Livro com páginas amarelas sempre são mais fáceis de ler. E a diagramação utilizada nele ajudou bastante.

Christopher Boone é um garoto de 13 anos, 5 meses e 2 dias quando a história começa. Quando fazia sua habitual caminhada da madrugada até o final da rua onde morava, encontrou o cachorro de uma vizinha deitado no chão, como se estivesse dormindo. O único diferencial era que um forcado de jardim atravessava o cão.

A história é contada sob a ótica de Christopher, que depois de ter sido acusado de matar o cão e acabar passando a noite na cadeia por ter agredido um policial, resolver investigar o caso. Até aí nada de original, certo? O inusitado é que nosso garoto, agora de 13 anos, 5 meses e 3 dias é um autista. Em sua investigação, no entanto, ele há de descobrir muito sobre sua própria vida e também de passar por muita coisa, como uma viagem a Londres e um passeio no zoológico.

O livro é estruturado em pequenos capítulos, que ao invés de serem numerados em ordem cardinal (1, 2, 3...) são enumerados na ordem dos números primos (2, 3, 7...). Isso porque o personagem tem uma fixação incrível por matemática, ao ponto de querer fazer o exame avançado de Matemática e Física.

Haddon consegue introduzir o leitor na mente de um autista através de uma linguagem simples e disgressões bastante oportunas. O modo como Christpher explica e vê o mundo ao seu redor é realmente curioso, além de engraçado e às vezes comovente. Eu não deixei de sorrir quando, depois de uma discussão com o pai, o homem pergunta:

"- Christopher, você entende que eu amo você?

- Sim, eu entendo.

Porque amar é ajudá-lo quando ele está com problemas, tomar conta dele, falar sempre a verdade, e o Pai toma conta de mim quando eu estou com problemas, como quando ele foi atrás de mim no distrito policial, cozinha pra mim e sempre me diz a verdade, e isso quer dizer que ele me ama."

PS.: Acho que a gente devia fazer algo como uma Cotação Membrana, pros livros que fôssemos falando aqui.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Verdade Inconveniente




Queijo é apenas queijo. E eu prefiro Cheesecake.



Vi hoje no site do Ministério da Ciência e Tecnologia uma notícia sobre emissão de CO2, nenhuma novidade, mas tive vontade de escrever sobre isso aqui.
É assombroso saber que a quantidade de CO2 emitida em uma semana pelo Reino Unido é mais ou menos a mesma que países mais pobres emitirão durante todo o ano.
Este gás é o principal causador do efeito estufa [aumento da temperatura global causado pelo excesso de gases na atmosfera que retém o calor que deveria ser devolvido ao espaço em forma de luz infravermelha] que, como já sabemos, é responsável por fenômenos "agradáveis" como as secas extremas, inundações, furacões, ciclones, tufões.

O que mais me irrita é que estas conseqüências atingem com mais violência a massa pobre que não pode simplesmente pegar um carro ou um avião e mudar de casa ao saber que um furacão está por vir ou que uma inundação está pra ocorrer. Enquanto isso, nos países ricos, pessoas confortáveis em suas residências assistem às desgraças “naturais” em suas tvs a cabo e emitem 100 vezes mais CO2 que as pobres vítimas das catástrofes climáticas.

A União Européia está se movimentando a fim de dar eficácia ao Acordo de Kyoto e convencer outros países industrializados a diminuírem a emissão de gases do efeito estufa, entretanto os EUA rejeitam compromissos com esta causa arrimados na política desenvolvimentista de Bush; nenhuma novidade também.
Sobre o assunto, An Inconvenient Truth – filme de Davis Guggenheim, baseado no novo livro de Al Gore (candidato à presidência dos EUA, perdeu para Bush em 2000), estava pra chegar aos cinemas aqui em novembro de 2006 e até agora nada, ao menos que eu saiba.

Este documentário mostra a realidade em relação ao aquecimento global, as principais causas do efeito estufa e as conseqüências para o planeta. É feito um apelo às pessoas para que mudem de atitude em relação à produção e gasto de energia – aquele famoso slogan de que "cada um deve fazer a sua parte", batido, mas sempre válido.

Pretendo assistir ao filme e ficar, mais uma vez, indiganada com as atitudes norte-americanas, pois o "país mais importante do mundo" e auto-suficiente não parece temer a resposta da natureza ao descuido com o qual é tratada...mas e se o resto do mundo acabar? Ah, para eles parece ser só o "resto do mundo"; não terão mais a quem explorar, mas também não terão mais a quem mostrar que são os "melhores".

Eu tenho Medo
(Trânsito)




Quanto mais queijo, menos queijo.



Ciclistas. Pedestres. Pedestres doidos que saltam na frente do carro. Motoqueiros. Aquele povo que dirige umas lambretinhas e acham que estão indo muito rápido (na incrível velocidade de 40 Km/h). Animais.

Buracos. Passagens estreitas. Carros que andam muito grudados. Carros que andam rápido demais. Carros que andam devagar demais. Gente que não sabe o que quer. Gente que sabe tanto o que quer que nem se importa de dar seta. Gente que sai costurando o trânsito.

Lombadas - fantasma (elas estão ali, ainda que não haja uma única indicação). "Anarelinho" tentando atingir a cota. Me perder num bairro estranho. Ruas que mudam o tempo todo (um dia é mão única pra ir, depois é pra voltar, passa a ser mão dupla e volta a ser mão única de novo). Não saber qual a mão de uma rua.

Motoristas velhos. Motoristas iniciantes (já basta eu nas ruas). Motorista experiente que fica buzinando como se a mão tivesse colada na porcaria da buzina, me faz perder a concentração e deixar o carro morrer. Gente que não respeita nada.

Dirigir é um troço complicado. Não me admiro que a pressão suba horrores quando se está com as mãos no volante, um pé no acelerador e outro pertinho da embreagem. Existem milhões de coisinhas chatas, estressantes, um tantinho amedrontadoras e os outros motoristas não ajudam em nada.

Às vezes se tem a nítida impressão de que as pessoas a sua volta dirigem tão bem quanto ou pior do que você, quando o caso é que, para sua própria segurança, seria melhor se eles dirigissem um pouquinho melhor. Ou ao menos que tivessem consciência de como dirigem e tomassem mais cuidado.

Não sei, sei que se os outros motoristas respeitassem um pouco mais, não fossem tão fominhas e dirigissem um pouco melhor, talvez sair às ruas não desse medo à ninguém.

Exceto, claro no caso de ciclistas e pedestres doidos. Os ciclistas são doidos por natureza. Eles simplesmente se emburacam de qualquer jeito na rua, com a plena certeza de que todos podem vê-los. O caso é que essas criaturas dirigem um trocinho leve e nem um pouco seguro e se metem no meio de uma turba de "armaduras" enormes, em alta velocidade e que nem sempre vão conseguir frear para não mandar o ciclista voando pra cima de outro carro. Muitas vezes a situação no trânsito está tensa, tem um caminhão à esquerda, um carro tentando disputar espaço com ele numa faixa onde só cabe um, você na outra faixa tentando escapar da batida e da sua direita sai um homem com uma bicicleta, surgidos do ar, bem na frente do carro. O que se faz nessa hora é puro reflexo, já que o único pensamento é: "fodeu!"

Já os pedestres doidos dispensam comentários. Eles simplesmente se metem a atravessar a rua, com plena consciência de que "todos podem vê-lo" ao invés de esperar que o carro passe, procurar uma faixa ou um semáforo. Aí acontece um engavetamento e ninguém sabe o que foi!

sábado, janeiro 20, 2007

Personagens Femininas no RPG




A lua não passa de um grande queijo suíço. E que será comida por ratos alienígenas.




Lendo A Game of Thrones, de Martin (cuja mini-resenha vocês podem encontrar em posts anteriores) e conversando com Fernanda, me ocorreu uma conversa que tive com meu digníssimo a algum tempo atrás: por que todas as jogadorAs fazem personagens com o arquétipo "mulher decidida e corajosa"?

Na ocasião da conversa, my lord groom(1) perguntou: por que todas as personagens de vocês seguem esse tipo? Parei para pensar e fiz uma rápida retrospectiva mental sobre as protagonistas da minha vida rpgística (ou ao menos as mais queridas), que segue abaixo:

  • Aila, barda com sangue celestial, devota da deusa da beleza. Cresceu com a mãe, não conheceu o pai, e aos 15 saiu viajando como aprendiz de um elfo bardo pela qual se apaixonou. É uma mulher independente, metida a casamenteira, e certas vezes toma decisões que se afastam das do grupo. Faz parte do arquétipo.
  • Akane, atualmente guerreira. Supostamente abandonada pelos pais, cresceu adotada por um taverneiro. Aos 13 anos fugiu de lá para tentar descobrir de onde veio. Acabou se juntando a um grupo de aventureiros famosos, e graças a uma reviravolta envelheceu 10 anos em 10 dias, que foram passados no plano do deus da guerra. Também se encaixa.
  • Tessa, abandonada pelos pais (repararam que eu adoro um drama?), cresceu nas ruas de Sharn. Traz como marca de nascença uma misteriosa marca que lhe concede um certo poder místico de influência sobre as pessoas, e graças a essa marca ela sempre esteve à margem da sociedade. Adotada aos 11 anos por um professor de universidade, seguiu os passos do amado pai adotivo e hoje é uma exploradora à lá Indiana Jones. Se encaixa tanto no perfil que transborda nele.
  • Edrien, personagens de Star Wars. Não tem força combativa alguma, mas é dona de uma mente rápida como um tiro de blaster bem dado. Com um talento nato para construir coisas, pretende fazer um droid protocolar que vai fazer todo o serviço pesado pra ela: lavar roupa, carregar coisas, e só. Pilotar naves, construir armas, veículos, consertar coisas diversas é a sua vida. Bem, apesar de meio dependente combativamente, age por si só na maior parte do tempo. Também se encaixa no perfil.
E então, lendo o romance referido acima, eu noto: as personagens que mais me atraem são as mulheres decididas, que respodem, que agem, e que, de preferência, carreguem uma espada. Ou ao menos seja uma personagem realmente interessante, com desejos além de "casar, tornar-se rainha e ter muitos filhos". O mesmo acontece em outras coisas: séries, quadrinhos e filmes. Mais exemplos? Eden, de Heroes. Jenny Sparks, do Authority. E eu gostei da Arwen de Peter Jackson. E claro, a Lust de Full Metal Alchemist, do meu avatar.

O motivo é óbvio: nós vivemos numa sociedade pseudo-igualitária. Mulheres seguem carreiras outrora seguidas apenas por homens (ou melhor, mulheres seguem carreiras), o inverso também é válido, e hoje em dia já se vê saltos altos no meio de uma construção civil. E claro, há mulheres por demais dirigindo(2). E o RPG, assim como a arte, imita a vida. Afinal, não seria nada atraente para uma garota jogar com uma lady que passa seus dias bordando ou com uma camponesa que morre de trabalhar o dia todo para ser tomada pelo marido quando a noite cai. Ao menos isso não parece nada atraente para mim.

No entanto, a vero-semelhança (grafia intencional, vale salientar) não pode faltar de todo. Devem existir personagens chatas e melosas que sonham em se casar, ter filhos, e não necessariamente amando o seu marido. Se assim for, tanto melhor. Se não for, paciência. Amantes servem para isso. Essas personagens, normalmente, se encontram sob o controle do mestre. Ou do roterista. Ou do escritor, e normalmente não são personagens protagonistas.

Um outro detalhe inerente à personalidade feminina é o drama. Eu mesma adoro um drama. Pais perdidos, um inimigo jurado, um amor não-resolvido... quanto mais background, melhor. Pena que nem sempre eu tenha criatividade para isso. Ainda partindo das minhas personagens: Tessa conseguiu em suas jornadas um amor proibido; Akane está grávida de um homem que atualmente ela odeia e prestes a fazer um casamento por conveniência; Aila fez um acordo com uma criatura infernal e sua alma pertence agora ao lorde do segundo círculo dos infernos, e Edrien acabou de se ver metida em uma intriga que lhe tomou muito mais que um braço (sim, ela tem um braço mecânico).

E mais uma vez caímos na premissa de que tudo se adapta às necessidades de mercado. ^^

(1) Eu realmente acho que estou lendo romances de fantasia medieval demais...
(2) Sim, um pouco de machismo: sou contra as mulheres dirigirem. Principalmente eu.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Conversas no Pomar




Quanto mais queijo, menos queijo.



Era tarde e o sol brilhava quente sobre o solo tropical. Ele visitava seu amigo nesse país estranho, para apresentar suas condolências diante da morte do pai.

Não que o amigo gostasse tanto assim do pai. Fora um homem rico. Riquíssimo! E sovina como nunca a história reportara antes. Morrera na semana anterior, mas nem todos os seus compatriotas puderam comparecer ao funeral, tendo em vista que naquela época não tinha como atravessar um oceano a não ser em navios. E os navios eram muito lentos. Aqueles que se importavam muito com o velho senhor fizeram a viagem quando souberam que sua enfermidade agravara. Esses ficaram desapontadíssimos quando o velho finalmente morreu e seus nomes simplesmente não constavam no testamento. Desiludidas, voltaram para suas casas.

O testamento trazia um nome, e apenas um: o do filho mais velho do sovina. Nem na morte este pensara em distribuir seus bens, concentrou-os todos nas mãos do seu filho. O dinheiro, as propriedades - desde casas em Londres a fazendas de gado em Minas Gerais -, os navios mercantes. Não pensou ao menos na mulher ou na filha.

Para sorte dessas duas mulheres, o rapaz não era como o pai. Sabia que sua mãe era uma boa administradora, deixou parte da fortuna nas mãos dela, já havia arrumado um noivo competente para sua irmã, que poderia ajudá-lo a controlar as finanças e daria algum status à família. O pretendente era um lorde inglês, jovem, bonito, educado e amigo de infância do filho do falecido.

O lorde chegou, instalou-se num dos grandes aposentos da fazenda e foi conhecer a propriedade com seu amigo, enquanto discutiam seus últimos estudos. O maior interesse dos dois jovens era a ciência. Eles queriam fazer alguma diferença, marcar a história. O rapaz, novo dono das terras, discutiu alguns minutos com um de seus empregados a respeito dos novilhos recém-nascidos num português inpecável e guiou seu amigo até o pequeno pomar onde, enquanto o fazia provar carambolas, contou de seu mais novo projeto: uma biblioteca.

Não uma biblioteca qualquer, mas uma grande biblioteca; mandaria trazer livros de todo o mundo, talvez até mandaria traduzi-los para o português, faria vários andares, mesas amplas, cadeiras confortáveis. O projeto estava pronto, a construção da biblioteca começaria dali a pouco tempo e levaria um ou dois anos para ficar pronta.

O lorde riu, achou a idéia fantástica e sugeriu que o amigo exportasse aquelas frutinhas estreladas para a Inglaterra. Os dois voltaram à antiga casa senhorial para se arrumarem para o jantar, onde o lorde conheceria sua futura noiva, antes de voltar à Inglaterra e encerrar seus estudos.

domingo, janeiro 14, 2007

Bussiness Man



A lua não passa de um grande queijo suíço. E que será comida por ratos alienígenas.



Ele era, antes de tudo, um homem de negócios. Ilícitos, mas negócios.

Armas – todas as gangues precisavam de armas. E seu tino de negociante, herdado dos seus pais sicilianos, foi fundamental. Giorgio tinha uma mente prática e racional, e um raciocínio afiado como a ponta de uma faca. E mesmo assim se casou e teve filhos.

Não que ele não gostasse das crianças, mas cedo ou tarde aquilo atrapalharia sua vida profissional – ou assim pensava nos primeiros anos de Richard, seu primeiro filho. Em seguida, veio Gabriel. A essa altura, já gostava de chegar em casa e encontrar brinquedos espalhados na sala de estar. E afinal, ele teria que ter herdeiros.

Amava sua esposa, e ela era fiel e compreensiva. Assim pensava, até certa noite abrir a porta do banheiro e encontrá-la enforcada. Depressão pós-parto, disseram uns. Ela não agüentava a pressão, disseram outros. Giorgio, no entanto, sempre soube o verdadeiro motivo: vingança. Ele carregaria aquela visão consigo para o resto de sua vida, e sempre se sentiria culpado.

Talvez para se redimir, fez de tudo para manter a recém-nascida afastada da família. Nicole, a garota de sorriso fácil, a menina dos seus olhos. Com ela ele não poderia errar, como fez com os outros dois, que já tomavam parte de tudo. Com ela seria diferente: estudos, viagens, uma profissão, e uma vida tranqüila e feliz. Mas nem tudo sai como planejado.

Uma sabotagem – uma emboscada, na verdade. Em uma verdadeira guerra nos bastidores, vidas e mais vidas foram perdidas. Mortes violentas, brutais, que os jornais faziam questão de não divulgar, ou ao menos esconder a verdade. Ninguém disse que era um ramo fácil, afinal. Concorrência acirrada.

E quase que o derrubaram. Perdeu boa parte dos seus homens, mas eles poderiam ser substituídos. Um filho, no entanto, é diferente. Richard morreu, pelas balas que ajudou a repassar. Gabriel, o mais sensato da família, estava em coma no hospital. E seus negócios arruinados. Precisou chamar Nicole de volta.

E ela voltou, bem diferente. Ainda sorria, e não conseguira se livrar das sardas. Mas não era o mesmo sorriso fácil, e tinha sempre um olhar distante, como se não estivesse ali. Não era mais a mesma. Mas ele também não era, e não podia esperar o mesmo da filha que não via a... três anos?

No entanto, não esperava que ela tentasse se matar. Sua cota de suicídios por uma vida já havia chegado no limite. Encontrou-a semi-consciente, prostrada no chão do banheiro, sangrando. Parecia ter esboçado um sorriso de alívio ao vê-lo – teria se arrependido? Por que ela fizera isso afinal?

E ali estava ele, sentado numa cadeira de hospital, lendo revistas velhas, enquanto esperava o desgraçado do médico aparecer com alguma notícia. Estava virando perito naquilo. Olhou para o relógio de parede: oito da noite. Tinha um compromisso em meia-hora. Fez alguns cálculos mentais e se levantou. Deixou o número do celular com a enfermeira e saiu. O efeito da anestesia não deveria passar daqui a pelo menos três horas.

Ele era, antes de tudo, um homem de negócios.


E para quem não viu o começo, aqui vai: parte I

sábado, janeiro 13, 2007

Winter is coming.




A lua é um grande queijo suíço.




Eu acho que não tenho estrutura para uma boa história. Ou ao menos uma história bem contada.

Sou uma pessoa facilmente impressionável (e nisso eu incluo a minha aversão a filmes de terror e derivados): fico com medo facilmente, me envolvo com um bom enredo, um bom clima... Até hoje eu me lembro que chorei no final de Capitães da Areia, de Jorge Amado, que nunca foi um dos meus escritores preferidos.

Há pouco mais de um ano me apaixonei por Thomas, e no livro seguinte por Robin (e não, não é o do Batman), personagens de Bernard Cornwell na Trilogia do Graal. Em seguida eu me diverti com Nárnia, apesar da pouquíssima originalidade. Então apareceu meu tão querido Drizzt do'Urden, nas palavras de R.A. Salvatore. Depois... bem, eu passei o ano inteiro sem ler nada que realmente me cativasse.

Até essa semana.

A Song of Ice and Fire, série de fantasia medieval, divinamente escrita por George R.R. Martin. Eu ainda não passei dos 15 primeiros capítulos do primeiro livro (são 4), e eu posso dizer que tenho um novo ídolo. E coincidentemente ou não, ele também tem duas letras no nome artístico.

A narrativa é soberba, e os personagens... ah, os personagens. Eles têm defeitos, eles choram - eles são, antes de tudo, humanos. E dramáticos. God, how I love some drama. O livro emociona, alegra, fomenta o ódio por certos personagens e fatos... Se alguém chegou à perfeição em termos de literatura de fantasia, esse alguém é George R. R. Martin.

No entanto, livros bons também me decepcionam. Porque me lembram que eu nunca vou escrever desse jeito.

"Winter is coming" é o bordão de uma casa nobre. E o inverno de Martin dura anos. And I pray to the gods this long winter brings us so good histories.
PS.: Quando eu terminar de ler a série eu faço uma resenha de verdade, não tão apaixonada. xD

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Desumanidade




Crie uma nova versão de si mesmo...se reinvente.




Fernanda me mostrou uma notícia que falava sobre um bebê anencéfalo que está sobrevivendo há 51 dias. Preciso escrever sobre isto.

O código penal diz que não se pune o aborto praticado por médico quando a gravidez é resultado de estupro ou quando não há outro meio de salvar a vida da mãe.
Quando usa o termo "não se pune", o legislador pretende deixar a idéia de que o aborto sempre será crime, mas não será punido quando ocorrer nas situações elencadas no código.

O STF anda julgando de forma contrária à interrupção da gravidez de feto anencéfalo (sem cérebro), logo a mãe que tira o feto nestas condições está cometendo crime e deve ser punida.

O que posso dizer disto é que sou totalmente contra a atitude do STF e do presente código, pois acredito ser desumano fazer uma mãe carregar no ventre, por nove meses, um bebê que tem o destino traçado e cuja vida poderá durar apenas algumas horas e, quando prolongada, atinge a marca de um ou dois meses.

Os genitores sofrem com a idéia de que a criança não sobreviverá e ainda precisam ter essa angústia prolongada durante todo o período de gestação, causando um abalamento emocional desnecessário, devido pensamentos tradicionalistas e rígidos, defendidos por aqueles que se dizem pró-vida.

Devem ser analisadas as especificidades da situação, pois a regra nem sempre se aplica de forma justa para todos, alguns precisam se enquadrar nas exceções. É ser pró-vida ser contra o aborto? No geral, acredito que sim. Entretanto, ter padrões tão rígidos a ponto de sacrificar a vida de mães, pais e outros familiares fazendo-os passar pelo calvário de acompanhar a evolução do bebê rumo à morte é ser desumano e, para mim, antivida.

Talvez o mais correto fosse abraçar estes pais e mães, dando a eles o apoio devido pela situação difícil que enfrentam, por saberem que o bebê não tem condições de sobreviver e que não poderão vê-lo crescer e brincar no jardim de casa...mas acho que o STF prefere punir com detenção de um a três anos.

terça-feira, janeiro 09, 2007

A Biblioteca




Quem não arrisca, não vive.



Era um perfeito cavalheiro do século 19. Entrou calmamente pela porta da velha biblioteca, com suas roupas antiquadas e sua bengala com punho de ouro. Aquilo sugeria que era rico. Talvez um nobre. Não sou de prestar atenção à cada ser que cruza as portas de vidro, mas aquele prendeu o meu olhar.

Estava estudando, como quase todas as tardes daquela época, rodeada por anotações e livros - meus e da biblioteca. Eram 3 horas, horário em que o sol está baixo, mas nem tanto, esquentando as paredes, refletindo nas prateleiras e esculturas antigas de madeira e trazendo aquele sono e aquele marasmo quando ele entrou.

Olhou em volta, tirou seu relógio de bolso e examinou as horas, voltou a olhar a biblioteca e espantou-se com as prateleiras de metal. Pouco depois, me viu e notou que eu o encarava. Fez um meneio de cabeça e sorriu. Sorri de volta, envergonhada, e desejei-lhe boa tarde. Perguntei se não gostaria de se sentar. De certo modo, ele não me parecia um lunático que arranjou umas roupas velhas num antiquário e queria zombar das pessoas ao redor. E estava certa.

Sentou-se um pouco sem jeito e pareceu chocado ao constatar que eu usava um vestido simples. Perguntou-me como eu tinha coragem de sair por aí usando roupas de baixo. Disse-lhe que não eram roupas de baixo e fiquei pensando sobre seu modo de falar. Era tão rebuscado e antiquado. Indaguei quem era e de onde viera. Um lorde. Um lorde inglês, para ser mais exata. Um amigo do fundador daquela biblioteca, inclusive.

Impulsionada pela curiosidade, perguntei-lhe outras coisas. Ele quis saber mais algumas sobre mim e sobre o que eu fazia ali. Puxou um monóclo para ler a minha pesquisa. Achei engraçado, perguntei porque não usava óculos, como todo mundo, para atiçá-lo. Como ele não sabia o que era, fui atrás de um livro, espantada com o que estava acontecendo. A não ser que fosse um ator espetacularmente bom, o homem era mesmo um cavalheiro do século 19.

O cavalheiro ficou espantado ao constatar que não estava mais "em casa", e sim dois séculos adiante. O que explicava muita coisa para ele. Ficou encantado com os carros de atualmente e perguntou-me se não podia arranjar-lhe um relógio de pulso. Pedi que me mostrasse seu relógio de bolso e expliquei que tinha um certo encantamento com as coisas da época dele e anteriores.

O relógio era belo. Feito em prata, com uma locomotiva à vapor entalhada na frente. O cavalheiro explicou-me que aquilo era a maior novidade no campo dos transportes. Abri seu relógio e fechei-o algumas vezes e ele riu da minha curiosidade.

Emprestei-lhe meu relógio de pulso e ele pareceu igualmente intrigado. Foi a minha vez de rir. Não atrevi-me a pedir seu relógio mas dei o meu. Disse-lhe que não deveria funcionar por muito tempo, afinal ele não acharia as baterias para mantê-lo funcionando. No primeiro momento, ele não quis aceitar, mas expliquei que tinha outro em casa, então ele agradeceu e quis me recompensar de alguma forma. Deu-me uma moeda de ouro. Achei um exagero, mas ele insistiu que eu aceitasse.

Passamos o resto da tarde conversando sobre as diferenças entre nosso tempos. Eu espantei-me como ele aceitara bem a idéia de estar em outro século. Talvez ele soubesse mais do que eu. Às cinco e meia ele olhou novamente em seu relógio, levantou-se apressado e disse-me que precisava ir. Uma carruagem o esperava na entrada e ele precisava comparecer a um jantar dali a pouco tempo.

Deu-me um levíssimo beijo na mão, virou-se e foi embora. Observei sua silhueta passar pela porta de vidro da biblioteca e, depois de alguns minutos, resolvi segui-lo. Saí da biblioteca e observei o saguão. O homem simplesmente sumira. Ninguém o vira passar. Voltei para a minha mesa, reuni minhas coisas e fui para casa.

Nunca esqueci aquelas poucas horas, as feições daquele jovem lorde ou o jeito como se inclinou para a minha mão. Nunca esqueci seu relógio de prata. Não tenho idéia se foi apenas um sonho numa tarde de marasmo ou se realmente aconteceu. A memória, no entanto, não poderia ser mais vívida.

sábado, janeiro 06, 2007



Góticos de verdade não existem. Góticos de verdade se matam.




TLEC.

Esse foi o barulho que fez o interruptor quando Nicole entrou no banheiro acendendo a luz. As paredes revestidas de cerâmica branca já estavam meio fofas, mas o cômodo era limpo e organizado. Suspirou, cansada de mais um dia de trabalho, e distraidamente se despiu, largando as roupas de qualquer jeito no chão. Olhou de relance para o pequeno espelho ovalado mas logo desviou o olhar. Detestava aquelas sardas, por mais que quase ninguém as notasse. Faziam-na parecer uma adolescente.

Ligou o chuveiro e deixou que a água banhasse seu corpo desnudo. Nada como um banho quente depois de uma tarde inteira tendo que aturar uma excursão escolar na galeria. "Você finge que explica algo, eles sequer fingem que prestam atenção, e você ainda precisa responder perguntas imbecis. Nem parece que eu fui assim um dia", pensava, esperando que a água levasse seus aborrecimentos ralo abaixo.

Fechou os olhos para retirar o xampu e percebeu que uma escuridão repentina tomou conta do banheiro. Levou a mão a uma das paredes, buscando apoio, mas a luz voltou. "Ufa, achei que tivesse queimado... de novo". A oscilação continuou, e logo Nicole percebeu que não era um fenômeno puramente elétrico. Fechou os olhos novamente, e desligou a ducha, temendo algo mais sério.

Um calafrio súbito desceu-lhe pela espinha, e a jovem continuava de olhos fechados. Não queria ver, não de novo...

Igualmente repentino um vento forte invade o cômodo fechado, derrubando vidros de produtos diversos. A oscilação na lâmpada continuava incessante, cada vez mais rápida. Nicole tremia, e não era de frio. Por instinto tapou os ouvidos, mas em sua desorientação escorregou no chão, caindo indefesa. Não resistiria por muito tempo, e logo se ouviu gritando:

- O que você quer?! O que diabos você quer de mim?!

O box abriu-se estrondosamente, certamente rachando o vidro temperado em algumas partes. A jovem encolheu as pernas, abraçando-se. Seu maxilar tremia, e todo o seu corpo parecia suar frio, suor se misturando à água. Mas não conseguia desviar o olhar.

Conforme a lâmpada acendia e apagava, no espelho ovalado Nicole via sendo escrito com o vapor da água quente: Ajude-me. Logo abaixo, rompendo o branco da cerâmica, viu as letras se formando, dessa vez em sangue: AGORA!

E como aqueles pensamentos que nos ocorrem nos momentos mais importunos, veio à sua cabeça: "De onde vem esse sangue?" Seguindo o rastro do líquido vermelho com os olhos, percebeu a origem: do seu lado, um pedaço da embalagem de sabonete líquido estava suja de sangue, enquanto seu pulso esquerdo sangrava abundantemente.

Seu impulso foi gritar, e, irracional que estava, esfregava o ferimento. Trêmula e em pânico, a respiração lhe faltava, e a hemorragia não parava. Via seu sangue escorrer livremente - como podia ter tanto sangue assim? - até que uma fagulha de sensatez a atinou para tentar estancar o ferimento. Puxando uma toalha, tentou improvisar um curativo, quando vozes ecoaram na sua mente:

- Ajuda... eu preciso... de você... tortura... dor... ajuda...

As vozes ganhavam cada vez mais força, mais ímpeto, mais vigor. Pedidos de ajuda, gritos de sofrimento, e em meio a tudo aquilo, a voz lhe era conhecida.

- Minha... irmã... ajuda...

Mas como? As últimas palavras fizeram gelar seu coração. Seu.. irmão...? Mas... por quê...? Como... por que não a procurou antes? Por que tanta tortura...? Seus pensamentos se confundiam e se esvaíam juntamente com o sangue do seu pulso. O corte devia ter sido mais profundo do que julgara, afinal. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, sentiu a consciência se esvair conforme a porta do banheiro era aberta violentamente. Nunca ficara tão feliz em ver seu pai.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Membrana Seletiva 2007




Quem não arrisca, não vive.



Bom, acho que todo mundo notou que quem saiu ganhando na enquete foi o azul, então esse é meu primeiro desafio do ano. Deixar essa birosca azul.

Achei vários templates legais azuis. Inclusive um que era azul e rosa. Nem preciso dizer que era o eleito da noite. Aí adivinha? Nenhum deles se dá bem com o precioso aqui.

Ô blogzinho exigente!!!

Bom, troquei o template pela versão azul do antigo, só pra ficar mais tranqüila, enquanto luto contra os outros malditos pra ver se algum deles funciona aqui.

Para os curiosos que não checaram o resultado da enquete, aqui vai. As opções foram:

* "Rosa, porque é um blog de meninas" ~> Teve 1 voto (2,56%)
* "Lilás, porque também é fofinho" ~> Teve 4 votos (10,26%)
* "Rosa, por causa do primeiro texto de Allana" ~> Teve 7 votos (17,95%)
* "Qualquer uma, vocês, autoras, que decidam!" ~> Teve 8 votos (20,51%)
* "Azul, só pra ser do contra" ~> Teve 19 votos (48,72%)

Foram, ao total, 39 votos. Vocês são uns chatos que nunca participam!!! Mesmo assim, adoramos vocês. Continuem visitando, viu? Não nos esqueçam nem nos abandonem! =D