sexta-feira, outubro 27, 2006

Uma História Grega

Páris não conhecia os verdadeiros pais, porque uma profecia dizia que o menino seria uma derrota. Mas a história não começa com ele, começa com um banquete. Na verdade, começa antes do banquete, começa com Tétis.

Tétis era uma linda ninfa do mar e todos os deuses queriam ter algo com ela, inclusive Zeus e Poseidon. Acontece que Prometeu, aquele Titã que ensinou os humanos a fazerem fogo e foi amarrado no alto duma montanha com o fígado sendo comido dia após dia por uma ave de rapina; o fígado, naquela época, ainda não tinha essas habilidades de regeneração, mas Zeus fez com que tivesse, pra Prometeu continuar sofrendo. Isso foi muito útil quando inventaram a bebida alcóolica.

Mas acontece que Prometeu profetizou que o filho de Tétis seria maior que o próprio pai. Aí nenhum dos deuses quis ter nada com ela. Imagina: uma das poucas criaturas bonitas do mundo grego que Zeus não tocou!

Zeus chamou Poseidon num canto do Olimpo, pra ter uma conversa séria com ele a respeito de Tétis:

- Vem cá, meu irmão. Tu que é senhor dos domínios das águas, não tem ninguém por ali pra gente casar com Tétis? Ela é bonita, amável, não pode passar a vida assim, sozinha. E eu não sou muito fã de comer criancinhas, como nosso pai, não vou nem me arriscar a tê-la como amante.

- Ora, Zeus! Você já tem amantes demais! Depois, se não fosse a profecia, ela seria minha amante. Muito mais fácil pra nós dois, já que ela pertence ao reino das águas. Mas não tem ninguém que chegue aos pés dela. Quem sabe um semi-deus?

- Não, não. É perigoso demais. Vamos procurar um herói grego. É mais seguro pra gente e deve ter um que seja bom o suficiente pra ela.

- Ouvi dizer que aquele Peleu é o maior dos heróis da atualidade. Por que não ele?

- Boa idéia. Vou lá falar com Tétis, ela vai me ouvir. Organiza o casamento, tá certo? Ah! E não chama aquela Éris não! O mulherzinha encrenqueira!

- Nem se preocupe com isso, não quero ela contando a história da chuva de ouro pra Hera.

- Pô, Zeus! Deixa as pobres das princesas em paz!!!

- Ah, Poseidon, você sabe como é. Eu fico admirando aqui de cima, só olhando, aí o pai vai num oráculo que diz pra esconder a filha, ele esconde... e espera que aconteça o quê? Ninguém pode desafiar um deus poderoso como eu! Além do mais, o fruto proibido é o mais gostoso.

- E por que você não se apresenta à Tétis então?

- Tá pensando o quê? Eu ainda tenho juízo, rapá! E não me desafie nos meus domínios!

Poseidon foi embora, falar com Tétis e Hera chegou em Zeus toda desconfiada. Ele amainou sua descrença deixando a cargo dela a organização da festa. Mulher gosta dessas coisas!

Tétis casou com Peleu, a contragosto, e houve uma bela festa no Olimpo, com todos os deuses, deusas e divindades menores, porém não menos importantes. Só Éris não estava lá. Ela, furiosa, subiu ao Olimpo, invisível. O que eles pensavam? Que podiam negligenciá-la e tudo ficaria por isso mesmo? Ah! Mas não ia mesmo!

Éris fora ao jardim das Hespérides, enrolara as ninfas e pegara um pomo de ouro. Nele, gravou as palavras: "À mais bela" e jogou na mesa onde acontecia o banquele. O pomo rolou até uma das extremidades, onde estavam Zeus, Hera, Palas-Atena e Afrodite. Elas começaram a discutir entre si, sobre de quem deveria ser a maçã. Não chegando a conclusão alguma, se viraram para Zeus:

- E aí, pai? - começou Atena - A maçã vai pra quem? Pra mim, claro, sua filha, não é? Você bem sabe que sou a mais bela das deusas.

- Oras! Só porque ela saiu da sua cabeça acha que tem o direito ao pomo? Você deveria dá-lo a mim, sua esposa e mais bela deusa do Olimpo.

- Ah, Zeus... - falou sedutoramente Afrodite - Eu sou a mais bela das deusas. Quem seria, senão a deusa do amor? Você sabe disso, não sabe? - e piscou o olho para o poderoso deus, que nesse momento estava com a maior cara de pateta do mundo, pensando no que devia fazer.

Após olhar para as três, para sua bela filha, sua bela mulher e a bela e sedutora Afrodite, chegou a conclusão que não queria a fúria de nenhuma das três e resolveu que ia escolher um humano para resolver a disputa. Lá de cima, viu o Monte Ida, perto de tróia, e o jovem pastor Páris.

"É esse mesmo!"

Mandou as três deusas para lá, e ele que resolvesse. Hérmes guiou as três ao encontro de Páris, aparecendo para ele antes dela e explicando a situação. Ele, admirado com a aparição do deus, escutou atentamente e achou que tinha capacidade para escolher qual das três era a mais bela.

As três deusas apareceram na frente de Páris, cada uma na sua melhor forma (Afrodite, obviamente, nua) e cada uma fez uma oferta. Hera ofereceu riqueza e poder. Atena, habilidade militar e sabedoria. Afrodite ofereceu o amor da mais bela mulher do mundo.

Páris estava inebriado pela presença das deusas. Quando conseguiu se concentrar, pensou nas propostas, olhou pro pomo, olhou pras deusas, olhou pro pomo, olhou pra Afrodite. Ela era, claramente, a mais bela. E ainda estava oferecendo o amor da mulher mais bela do mundo. Entregou o pomo à Afrodite.

As outras duas deusas ficaram furiosas! Juraram se vingar e se tornaram inimigas de Tróia.

Já Afrodite, pronta pra tornar a vida do rapaz mais feliz, mandou que fosse para Tróia e participasse das competições da cidade. Lá, sua beleza e suas habilidades atléticas fizeram com que chamasse a atenção de Príamo e Hécuba, seus pais desconhecidos.

Quando estava grávida de Páris, Hécuba sonhou que dava à luz a uma tocha de onde surgiam várias serpentes. Isso foi tomado como um mal presságio. Príamo chamou uma criada e mandou que ela desse fim no menino, quando ele nasceu. A criada foi incapaz de matar um bebê tão bonitinho, guti-guti e fofinho, então abandonou-o na extremidade de uma floresta, aonde ele certamente seria devorado pelas feras locais. Acontece que um pastor viu o bebê abandonado e levou-o pra casa, onde cresceu forte e saudável, tornando-se também um pastor.

Ao verem Páris crescido, forte, belo e habilidoso, seus pais o chamaram ao palácio, reestabeleceram sua real identidade e o acolheram calorosamente. Provavelmente contaram alguma história pro pobre rapaz, pra ele não se sentir mal por ter sido abandonado.




*** continua ***

3 comentários:

Anônimo disse...

nao sabia a historia do figado, e ri quando vc falou da bebida alcoolica.. =P

mas.. i ai? vai postar a continuação quando?

Fernanda Eggers disse...

Vou postar cada parte em um dia.
Talvez não consiga postar no domingo, mas aí posto na segunda. =)

Ivo Brunet disse...

Pra Zeus não ter pego é porque o negócio alí era brabo mermo!

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