Um triângulo amoroso, como tantos outros. Não havia grandes diferenças entre esse e qualquer um dos vários casos espalhados pelo mundo.
Letícia, casada com André há 15 anos. Não tinham filhos, ela não queria. André bem que tentou boicotar a cartela de pílulas, mas ela mudou o método. Como uma mulher moderna, acompanhava o desenvolvimento da medicina e descobriu o mini-DIU. Além de tê-lo implantado, adotou um anticoncepcional em adesivo, por precaução quase obsessiva.
O marido de nada desconfiou no início. A mulher sempre teve manias estranhas, sempre foi extremamente cuidadosa. Não podia reclamar que faltasse organização na casa, comida boa e saudável, nem mesmo do corpo da mulher. Ela cuidava da alimentação, fazia exercícios, ninguém diria que já se aproximada dos 40 anos.
André era um homem bem-sucedido. Bem-sucedido e frustrado. Queria filhos, podia sustentá-los, era louco por crianças; mas Letícia parecia não compartilhar essa vontade. Assim como já não compartilhavam a cama, a não ser em ocasiões especiais.
Ela era fria, distante, não participava do ato. Ele perdera a vontade de estimulá-la. Costumavam ir direto ao ponto, depois cada um virava para o seu lado e dormiam. Frustrados, insatisfeitos, inclusive com raiva inconsciente um do outro, mas nunca conversavam. A rotina continuaria no dia seguinte, inalterada. Aparentemente perfeita; como num comercial de detergente.
É aqui que entra Vítor, colega de trabalho de Letícia. Um moreno alto, sedutor, discreto e pouco confiável. Almoçava com ela todo dia. Passaram a lanchar juntos à tarde também, após certo tempo.
Vítor a conquistou - não que ela não tivesse culpa - e Letícia dedicou a ele a atenção que, há tempos, não dedicava ao marido. O caso se prolongou. Ela não tinha intenção de acabar o casamento e ele estava satisfeito com as vantagens e a liberdade proporcionadas por aquele relacionamento.
Após um longo tempo naquele triângulo amoroso, André começou a desconfiar da mulher. Houve uma festa na empresa dela, para a qual foram juntos. Eles conversavam numa mesa com outro casal e Vítor estava no bar, estrategicamente posicionado para ficar em frente à amante. Seus olhos fixos em Letícia, olhando de relance o generoso decote de seu longo vermelho.
Ela desculpou-se e atravessou o grande salão em direção ao banheiro. Vítor prontamente a seguiu. André percebeu a movimentação. Passou algum tempo na mesa, em dúvida. Talvez a mulher apenas fosse ao banheiro. Daqui a pouco ela estaria de volta. Letícia não o trairia com aquele tipo. Ou trairia?
Seguiu-os. Entrou no banheiro masculino e encontrou Letícia apoiada na pia, com o vestido erguido, aos beijos com Vítor. Olhou-os por algum tempo chocado, então começou a gritar com o homem que agarrava sua mulher.
Ela pediu que ele se calasse e os três seguiram para o luxuoso apartamento do casal. Tentaram agir com calma, André, porém, estava exaltado. Ameaçou a esposa e o amante, discutiu, chorou, exigiu que aquele relacionamento abjeto terminasse.
Apesar da promessa, feita para acalmar o marido, Letícia não chegou a acabar o caso. Seu marido não compareceu mais aos eventos da empresa dela, por escolha própria.
Meses depois, Letícia descobriu Ísis. Recém-formada em turismo, magra cabelos negros, assim como os olhos, cortados na altura do queixo. A garota mantinha uma franja e até parecia ter saltado de um mito egípcio. Apesar da aparência inocente, seus olhos revelavam uma mente maliciosa.
Ísis era, há três anos, amante de André. Conheceram-se numa livraria. Ela derramara café em sua camisa. Pediu desculpas e ofereceu-se para lavar em seu apartamento. Ele poderia esperar, tomar um café, um chá. Quem sabe algo mais?
O casamento não acabou. A vida diurna do casal permaneceu a mesma. Sempre perfeita e eficiente. Já as noites - as poucas que passavam juntos - esquentaram; como nos tempos de namoro. E assim o relacionamento se manteve, a única precaução era manter a cortina de mentiras, mantendo discrição a respeito dos amantes.
quarta-feira, outubro 04, 2006
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6 comentários:
Praticamente revivendo o "DayDreamer". Qualquer coisa pra manter esse blog movimentado!
E a vida hipócrita continua.
Estamos vivendo num tempo em que cada vez mais o ser humano perde a fé em si mesmo e em seu igual.
Deixamos de acreditar em viver não apenas para si mas também para o outro.
Ainda bem, entretanto, que alguns superam o meio.
Heh, e viva à hipocrisia, ou seria a modernidade? Ou seria à razão? Humm, nao sei. Legal o texto, parece coisa de filme brasileiro... Nao sei porque.
Mas preferi o anterior, das confusoes no cérebro, muito legal. Imaginação e Insanidade temporária comandam! =D
Tem razão, depende do ponto de vista.
Mas pelo ponto que pode ser chamado de tradicional, seria mais edificante haver uma verdadeira relação entre dois ao contrário de uma superficial entre quatro.
Old, really old days of my life!!!
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