sexta-feira, junho 29, 2007

Motivos Pelos Quais Quase Não Escrevi Pro Blog




Fumaça de fogueira sucks. ¬¬




:: Meu computador não chegou. (Sim, eu tenho um, mas eu quero o outro, oras!)

:: Não estou em casa.

:: Estou na casa do meu namorado. (Sim, tem computador aqui... Mas fale sério! Quem é que vai passar o dia enfurnada no pc do namorado?)

:: A Inspiração tirou férias, no mesmo período que eu. Safada, não?

:: Tô malhando. (Ok, não tem nada a ver com computador, criatividade ou esforço mental, mas tá pensando que fazer exercício físico não cansa, é?)

:: Tem uma espinha no meu nariz. (Veja bem: não é tão simples quanto parece... A espinha não está fora, mas dentro do meu nariz. E cresce mais a cada dia. Ela dói, coça, me irrita e me incomoda. E me dá vontade de espirrar. É difícil se concentrar assim.)

:: Ganhei "300 de Esparta" de dia dos namorados. E "Lenore" chegou um dia desses. (Hm... Ok... Não gastei muito tempo lendo-os, até porque quadrinhos se lê num instante. E eu poderia ter aproveitado e me inspirado em algum deles pra escrever algo. Mas... Bem... Tá! Tá bom! Sei que não é desculpa! Mas eu escolhi lê-los a usar o computador, portanto eu não poderia escrever pro Membrana.)

:: O computador tem me dado dor de cabeça. (Ou eu já tenho uma leve dor de cabeça e o pc piora minha situação, depende do dia.)

:: Fiz maratona de anime. Alguém que passa 2, 3 dias seguidos inteiros vendo uma série na tv não pode estar no computador escrevendo, não é mesmo?

:: Fui abduzida por alienígenas estranhos sem rosto e que pareciam feitos e vidro, como em A.I., que se comunicavam por telepatia. (Ok, ok... Não fui abduzida por nenhuma forma de vida inteligene de fora da Terra. É mentira, eu admito. Mas devido à minha incomunicabilidade - diversas vezes opcional, mas não vou admitir isso - é quase como se tivesse sido.)


Você não tem desculpa nenhuma para não participar do nosso fantástico concurso. Clique aqui, confira as regras e concorra a um dos nossos prêmios fabulosos. =)

sábado, junho 23, 2007

Eneida - Canto V



A única coisa boa do São João é porque é feriado. Mas nem pra isso o santo serve, que esse ano caiu em um domingo.



Ao longe, os marinheiros vislumbravam a grande fogueira que queimava no pátio. A maioria deles, no entanto, tinha coisas mais importantes a fazer, como se preocupar com o jantar, as cuecas sujas e limpar o convés. Outros se preocupavam com coisas mais inúteis, como por exemplo saber para onde estavam indo. Enéias, por sua vez, como um bom capitão de navio, dormia tranqüilamente na sua cabine.

Juno, ainda ressentida pela morte idiota de sua protegida, trama o destuino de Enéias. Na verdade o que ela faz é dar grandes nós na linha do Destino de Enéias, deixando a vida do herói mais emabaraçada que cabelo de mulher quando acorda. E tecendo, com as agulhas e linhas, a deusa teceu uma bela tempestade.

Tempestade é um eufemismo. O Dilúvio de Noé foi fichinha perto daquela tempestade. E os navios, se pudessem falar, falariam de lugares nunca antes vistos, de grandes guerras, e outras coisas. O navio de Enéias, se pudesse falar, naquele momento diria: "Putaquepariu, tempestade DE NOVO?!"

E sem rumo sobre a água, Enéias aportou en terras conhecidas. Por mais que não lembrasse o nome do reio, sabia que ele era um bom homem, e pediu hospedagem. A lei da hospedagem é muito simpes: você entra na casa de alguém, come do bom e do melhor, é presenteado e tem servas a seu dispor. A única coisa que você não pode fazer é roubar a esposa do anfitrião. Foi aí que Páris errou. E isso acarretou na guerra de Tróia, e toda aquela conversa que nós já sabemos.

E os dias no reino do qual não se lembrava o nome - mas é Drépano, caro leitor - seriam tranquilos para Enéias: rezar pela alma do pai, celebrar jogos em seu nome, e ir embora, rumo à terra prometida. Simples, não?

Seria simples, se não estivéssemos em uma epopéia. Enéias celebra seus ritos, promove seus jogos, e enquanto isso as mulheres da sua tripulação fofocavam:

- Ah, mas você viu os vestidos que a rainha usava? Um luxo! Ah, todos aqueles detalhes bordados...
- E as sandálias de salto alto? LIN-DAS! Só aquele cabelo dela que era meio cafona...
- UM HORROR! E aquele cinto...?

Juno era mulher também, obviamente, e pior: era deusa. Sabia divinamente como infernizar a vida de alguém. Mas não podia fazer isso diretamente, afinal, era a esposa do patrão. Mandou então Íris. Sua missão? Fazer com que as mulheres queimassem os navios.

O que Íris fez exatamente não se sabe. Dizem que ela jogou entre as mulheres alguns metros de seda chinesa, e de tanto se estapearem, as mulheres se pisotearam até a morte. As sobreviventes ficaram ensandecidas diante da visão e queimaram os navios. Outros contam que ela teria jogado um boneco inflável do Brad Pitt ou do Eric Bana, e o calor que se seguiu foi tamanho que ateou fogo nos navios. Alguns mitógrafos, no entanto, se perguntam porque a própria Íris não queimou os navios, usando querosene e fósforos. Acho que ela não achou que seria épico o bastante.

O fato é que os navios pegaram fogo, mas alguns foram salvos. Nenhuma das mulheres sobreviventes conseguiu explicar o que realmente tinha acontecido, e o herói toma uma árdua decisão: as mulheres ficariam em Drépano. Elas já não cozinhavam tão bem, nem cuidavam dos outros afazeres femininos como deviam. Além do mais, andar com loucas incendiárias por aí não seria saudável.

As mulheres se casaram com nativos, tiveram filhos, constituíram família e tudo o mais. Mas de vez em quando se reuníam às escondidas e iam incendiar algumas coisas. Só para matar o tempo.

Partes anteriores: confiram aqui.

Quer coisa mais fantástica que textos envolvendo mitologia? Pois é, com uma sátira desse tipo, você pode participar do nosso concurso! Veja as informações aqui.
Créditos da imagem: Willdan.

terça-feira, junho 19, 2007

Winter is Coming



"Dark words come in dark wings."




AVISO: Esse texto contém spoilers. Se você pretende um dia ler a série A Song of Ice and Fire, de George RR Martin, e não gosta de spoilers, não leia.

Cabelos negros como a noite sem luar eram levados aleatoriamente pelo vento frio do Norte, juntamente com lágrimas furtivas. Kateryn tentou sufocá-las, mas falhou miseravelmente. Passara a noite acordada, arrumando os pertences do seu pai, e estava cansada demais agora para se policiar. Não era mais uma garotinha, e tinha que ser forte. Prometera isso, e haveria de cumprir.

Palavras sombrias chegam em asas negras, costuma-se dizer. Daquela vez não havia sido um corvo o mensageiro, mas sim o seu pai, cavaleiro jurado ao Lorde Cerwyn. Sir Willam Goodhunt, homem simples, guerreiro disciplinado e um tanto rude, mas principalmente, seu pai. Fora ele quem chegara abatido da viagem e deu a notícia de que Lorde Stark havia falecido. Executado. Acusado de traição ao rei, decapitado em praça pública.

E então houve a reunião. O melhor homem do Norte, dissera Lorde Cerwyn. E Kateryn não precisava conhecê-lo para saber disso. A reputação de um homem de verdade o precedia, e não era diferente com Eddard Stark. Bondade, sabedoria, justiça e quase todos os adjetivos eram ditos pela maioria das pessoas quando falavam do Lorde de Winterfeel. E tudo isso foi relembrado por lorde Medger em seu discurso.

E além de morto injustamente, suas duas filhas eram mantidas cativas nas terras do sul. Sequer o direito de enterrá-lo junto a seus ancestrais havia sido dado à família. E Robb Stark, herdeiro da casa, chamava seus homens à guerra. E isso incluía a casa Cerwyn

Aquelas palavras caíram pesadas como rochas rolando de uma torre. Mesmo depois da noite de trabalho, e mesmo naquele momento, vendo os homens que mais amava na vida partirem para um destino incerto, o discurso do lorde ressoava na sua mente. Guerra. Seu pai, Medger Cerwyn, a quem tinha como um pai, e Cley Cerwyn cavalgavam para uma guerra que não era sequer deles. Era uma guerra de reis. O Rei do Norte, Robb Stark, garoto mais novo que a própria Kateryn, e Jeoffrey Baratheon, um infante feito rei pelas tramas do destino.

“Prometa que vai estar aqui”, dissera Cley. “Prometa que vai estar aqui quando eu voltar.”

Queria ir com ele, queria estar ao lado dele. Morreria protegendo-o, se preciso fosse. Mas as lágrimas não a deixaram dizer. O povo do Norte não era muito bom com palavras, e por mais que ela quisesse, não conseguiu. Amava-o, tinha certeza disso. Mas o máximo que conseguiu dizer foi:

“Eu prometo”.

quarta-feira, junho 13, 2007

Damien


"- Nobody is really ready.
- For knighthood?
- For death."


Um instante. Tudo o que ele precisava era de apenas um instante - o tempo de um simples piscar de olhos era mais que suficiente para levar um cavaleiro ao chão. Não tinha nada contra duelos - apesar de serem um tanto burocráticos e fantasiosos demais - mas o campo de batalha era diferente. Justa alguma poderia se comparar à batalha: suja, lamacenta e escorregadia, onde os homens lutam por suas vidas. Em uma batalha, você mata, pisoteia, esmurra e até tortura. Com sorte você aprende a gostar disso.

Damien escutava os tambores dos inimigos, soando ao longe, mas aqueles bastardos não o incomodavam. Era um mercenário, sem fé, e que adorava matar - não importava o lado dos soldados, ou a quem servia. Era vassalo apenas de sua espada. Carregava a bandeira de quem pagasse melhor - desde que pudesse matar. Prisioneiros rendiam resgates, e por isso deixava os nobres emplumados para quem os desejassem. O dinheiro só era útil enquanto pudesse pagar uma boa armadura e uma espada melhor ainda. Sorriu quando o primeiro destacamento veio na direção de atacá-los.

Fez um gesto para que seus homens esperassem. Que a carga seguisse em sua investida desvairada, desfazendo a linha inimiga. Que eles os enfraquecessem com as lanças, e que eles morressem primeiro. Logo os primeiros gritos soaram, acompanhados pelo clangor de espadas. Damien não deixou de sorrir quando viu um cavaleiro ser atingido por uma espada, e tombar para a esquerda do cavalo, preso pelo pé no estribo, enquanto o animal andava erraticamente. Aquele era o destino dos heróis do rei: uma morte inócua, a profanação do seu corpo, e acima de tudo, seus bens pilhados.

Levantou-se em seguida, guiando seus homens para a esquerda. A infantaria já estava engajada em combate, e aquele pequeno grupo surpreenderia pelo flanco. Sangue iria encharcar aquele gramado, e apenas os céus presenciariam os corpos inchando sendo comido por abutres. E mais uma vez, ele não estaria entre eles.

Damien desembanhou a espada e sem cerimônia cravou-a num jovem que não parecia ter mais de 18 anos. A morte de um camponês não tinha honra ou glória - embora ele não desse importância a nenhuma das duas - e, acima de tudo, era apática. Raramente imploravam misericórdia, tão paralisados de medo que estão. Preferia ver o desespero nos olhos de um cavaleiro arrogante e ouvir seus últimos impropérios.

Sem o elmo, pôde ver quando uma lâmina brilhou à luz do sol da manhã, e virou o corpo a tempo de bloquear o ataque com facilidade. Aproveitou a força do golpe do inimigo e girou um pouco a espada, desarmando-o. Por um instante, o soldado ficou estarrecido diante da habilidade do mercenário. Só por um instante. Tempo mais que suficiente para que a espada de aço reluzente trespassasse sua carne, e o fizesse de cair de joelhos. Os olhos arregalados, a boca ensangüentada, os braços largados ao lado do corpo. Tentava balbuciar alguma coisa. Uma prece?

Tsk. Como se Deus fosse escutar. Bem? Mal? Todos os exércitos acreditam ter Deus ao seu lado. Todos dizem que seus inimigos são enviados do demônio, afirmam que queimarão no inferno. Damien não se importava com sua alma - e, se ela existisse mesmo, ele não poderia comprovar. Se pudesse, a trocaria por uma espada. Também não se incomodava em pagar a um padre para rendê-la. Se todos aqueles guerreiros realmente queimassem no inferno, ele deveria ser um bom lugar, afinal.

Bla, bla, bla, estamos com um concurso, bla bla bla, vejam os detalhes aqui.

Valentine's Day. Ou quase.


"Pleonasmo é quando você é redundante: hemorragia de sangue, subir pra cima, descer pra baixo, mulher burra..."



No carro, de noite, muita chuva. Saí mais cedo do trabalho, tomei aquele banho e passei mais de meia hora na frente do guarda-roupa, encarando minhas roupas. No final, escolhi um conjunto de saia-e-blusa que ele havia me dado de presente de... aniversário de namoro, e que eu já tinha usado algumas milhões de vezes.

- Amor, eu tava pensando, a gente nunca...

Olhei de soslaio, levantando uma sobrancelha, do jeito que ele batizara simplesmente de cretino. Acho que se olhares tivessem legendas, o meu teria uma de: "Seu cretino, você não está pensando em me levar para um motel imundo, está?"

- Não, amor, eu não estava falando da estrada de Cabedelo. Mas se você quiser...

Frequentadores de motéis que não se sintam ofendidos, mas acredito que é fisicamente impossível um motel ser um lugar limpo. Mas eu tenho uma mórbida curiosidade de conhecer um. Devo admitir, no entanto, que fiquei aliviada quando ele disse isso.

- E o que era, então?
- Eu lembrei que você nunca comeu comida japonesa. Não tem vontade?
- Vontade, vontade não... mas uma curiosidade...

Minha frase terminou aí, porque percebi que era a mesma posição que eu tinha em relação a motéis. E a comida japonesa combinado com o que se costuma fazer em motéis me remeteu automaticamente aos hentais. Desde monstros de tentáculos (o que todo mundo sabe que é básico na pornografia japonesa) até moças nuas servindo de bandejas para sushis e sashimis.

É, eu viajo.

Mas a noite pode se resumir em: de soja, só o óleo; consegui comer o sushi de primeira (apesar de ter vontade de cuspir logo em seguida); e por fim, eu tenho muito jeito com pauzinhos.


Esses pauzinhos.


E agora, um momento para nossos patrocinadores!

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terça-feira, junho 12, 2007

Voilá L'Invern



"Ni!"


Chove. Chove cântaros. Lembrei de um conto de Lygia Fagundes Telles, "Apenas um Saxofone", que além de falar de inverno no início, não tem absolutamente nada a ver com o que eu vou escrever aqui.

Eu não entendo muito bem essa coisa de alguém dizer que há quatro estações aqui no Brasil. Na maior parte dele só tem verão e inverno. No Nordeste, especialmente no litoral, tem estação de sol e estação de chuva(e ainda querem nos vender luvas...).

Com essa chuvarada toda, acordei tarde. E, ao ouvir o barulho da água batendo na pedra e sentir o friozinho ao qual só tenho direito no meio do ano, dormi ainda mais um pouco.

Quando finalmente me levantei, pensei na academia, que já tinha ido pelos ares, pelos menos o horário da manhã. Enquanto encarava calças de lycra, tops, tênis, meias de algodão pensava que a estação da chuva não fora feita para queimar calorias, mas para adquirir mais algumas. Não que eu realmente queira uns quilinhos a mais (senão estava minha alimentação básica seria batata frita e meu único exercício seria dirigir até o fast food mais próximo), mas certos prazeres da vida foram criados para o inverno.

Não estou falando apenas das confortáveis blusas de manga comprida, do dvd assistido agarrada com o namorado ou das horas a mais embaixo das cobertas toda manhã. Acho que todos sabem que comer é uma das coisas mais prazerosas e que graça tem dividir um fondue de queijo ou chocolate com os amigos em pleno verão? Ou um café com biscoitos doces, quem sabe um bolinho, numa tarde de fofoca com as amigas mais proximas?

Inverno é época de comer essas coisas. De tomar aquele chocolate quente que queima o esôfago de tão quente (mas cujo sabor compensa) na entrada do cinema. De dividir um petit gateau e um capuccino com o namorado. Ou de comprar trocentos gramas de pastilhas de chocolates naquela loja de chocolates caros e se deliciar com cada uma delas. Nada acompanha melhor que um belo prato de macarrão ao molho de quatro queijos do que a chuva tamborilando na janela.

Em compensação não é muito interessante trocar todo o guarda-roupa por outro dois números maior quando overão chega. Se esforçar mais nos exercícios pra se sentir a vontade naquela blusinha linda. Readquirir fôlego para agüentar o passeio light de tarde, a balada de noite, o longo passeio na praia. Tudo isso requer uma disposição que 5Kg a mais não me proporcionariam.


Fernanda não gosta da idéia de fazer exercícios na chuva, mas adora poder comer um extra no fim de semana e não está nem um pouco disposta a brincar de "io-io" novamente.


Que tal exercitar a sua imaginação e nos escrever um conto? Pode ser uma cronica também. Quem sabe uma fábula... Esforços mentais também gastam calorias! Clique aquie participe do nosso concurso! Garantiremos a diversão do verão para o nosso ganhador. ;)

sábado, junho 09, 2007

Awakening - Part I


"Give me Cersei Lannister and I'll show you how a woman can be gentle".
(George RR Martin, A Game of Thrones)


Os uivos soavam alto, e tudo o que eu podia fazer era fechar a boca com mais força para não ouvir meus dentes se batendo. O apartamento cheirava a mofo, mas também a éter e drogas como maconha e cocaína. O reboco descascava nas minhas mãos, e eu não precisei fazer esforço para ver que havia preservativos espalhados e pedaços de agulhas usadas no chão. Não que aquilo importasse agora, pois tudo o que eu sentia era o meu coração acelerado e uma vontade imensa de não estar ali.

- O que está acontecendo por lá? – ouvi Simon perguntar a Mike, que acabara de voltar. Os uivos pararam por um momento, e dessa vez eu quase podia ouvir meus ossos se batendo.

- Um... lobisomem. Eu nunca achei que fosse dizer isso com tanta certeza, mas tem um lobisomem na entrada. De quem foi a idéia maluca de vir nesse lugar mesmo?

- Acho que temos coisas mais importantes para nos preocupar agora...

Todos nós temos momentos de questionar nossas ações e escolhas. As minhas escolhas tinham me levado àquele lugar, e àquela situação. Um lobisomem, ele havia dito. Desde aquele dia na igreja o mundo deixou de ser o que parece – alguém que vê gente morta sabe que há muito mais atrás dos bastidores. E se eu estava lá, que fizesse aquilo direito. Um lobisomem. Se ele estava lá, eu queria vê-lo.

Aproveitei o momento de distração dos dois, a escuridão do apartamento e passei despercebida. O mundo, as coisas... tudo funcionava de alguma maneira. Nada acontecia de graça. Se eu estava ali, tinha algum motivo. Coincidência? Definitivamente não. Coincidência, sorte e azar são palavras que as pessoas usam para explicar o que elas não conseguem entender. Nossas escolhas nos fazem. Se não as escolhemos, elas nos escolhem. O próprio Simon havia me dito isso.

O corredor estava tão escuro quanto o apartamento, mas havia iluminação no lado de fora. Barulho de lataria amassada, talvez? Jurava que podia ouvir também uma conversa. Uma voz gutural, certamente inumana, falava algo, embora eu não pudesse entender daquela distância. Dei mais um passo, queria chegar mais perto, queria ver...

E então tudo mudou. Eu ainda estava no prédio, mas agora as paredes eram verdes e o chão de metal. Eu já não ouvia os uivos, nem as conversas, nem nada. Simon e Mike não estavam lá. Toquei na parede, e ela era real. O que teria acontecido?

Não tive muito tempo para pensar, pois logo ouvi um grito alto e desesperado, além de muito familiar. Procurei as escadas e subi apressada, meus passos soando alto conforme eu quase corria. Botas tinham estilo, mas definitivamente não eram nada práticas.

Nada no primeiro andar, embora eu já soubesse disso. Os gritos vinham de cima, do terceiro andar. Continuei correndo, mesmo que eu não soubesse bem o motivo. Eu apenas tinha que estar lá, precisava ajudá-la.

- Nicole? Nicole, é você?

Parei, quase tropeçando. Aquela voz, aquele tom... Olhei para trás e não vi ninguém, mas sentia a presença. Saberia quem era mesmo que eu estivesse drogada. Richard, irmão mais velho que morreu baleado na última “negociação calorosa” do meu pai. Nosso último encontro não foi dos mais amigáveis, devo confessar. Mas ele era o meu irmão, e isso que importava. Ele precisava de ajuda.

- Rick, onde... onde você está? Cadê você?

- Nicole, eu preciso... me ajude... isso é terrível... ME AJUDE!

E então eu pude sentir seu desespero, uma dor indescritível. Por uma fraqueza minha, o ar saiu dos meus pulmões e minhas pernas fraquejaram. A voz dele reverberava na minha cabeça, e por instantes o mundo pareceu rodar a uma velocidade vertiginosa. Quase agradeci quando ouvi novamente o grito alto da mulher, que me tirou daquele torpor. Voltando a mim, tornei a correr. Não sabia bem como, mas aquilo era um teste. Eu tinha que chegar a ela, precisava...

Os gritos do meu irmão ainda ecoavam na minha mente quando voltei a subir os degraus. Por Deus, aquela escada não acabava nunca? Quando finalmente cheguei ao último andar, meus passos ecoavam no metal. Os gritos haviam parado, mas eu sabia que ela estava ali, em algum lugar. Comecei a andar pelo corredor, olhando para os lados sem saber ao certo o que esperar.

Então eu vi algo... ou talvez alguém. Era um homem, ou ao menos eu tinha a impressão de que fosse. Conforme se aproximava, parecia ganhar tamanho, se agigantar diante de mim. Por instinto, ou medo, eu recuei um passo. E como se acionando um gatilho, gritos vários começaram a soar na minha mente, e por uma fração de tempo indefinida, me vi em uma igreja de arquitetura mista. Não, aquele lugar de novo não...

- Você não devia estar aqui. Este não é o seu lugar!

Embora ele abrisse a boca para falar, a voz não parecia vir dele. Ecoava por todo o andar, todo o prédio. As paredes pareciam se avantajar, me sufocando, me abatendo... e o homem se aproximava, os gritos se juntando à voz ininterrupta, minha visão turvava... Caí de joelhos, fraquejando. Senti o chão gelado na minha pele, baixei os olhos e de relance percebi que ele não tinha sombra. Ele não tinha sombra! Não era real! Consegui me colocar de pé e passei por ele, fazendo assim todas as ilusões desaparecerem.

Mas o pior ainda estava por vir.

E agora, um momento para nossos patrocinadores!

Vocês já devem ter visto, mas não há problemas em relembrar: o Membrana Seletiva está organizando um concurso entre os nossos leitores! Isso mesmo! É a sua chance de ganhar prêmios inúteis que não vão fazer nenhuma diferença na sua vida, e tudo isso arranjado por nós! Não é excelente? Detalhes do concurso vocês podem ter aqui.

sexta-feira, junho 08, 2007

1 Ano de Membrana: O Concurso



"Ni!"




Estamos a dois meses do primeiro aniversário do Membrana Seletiva e, para comemorar, resolvi lançar um concurso, com o apoio de Allana e o consentimento de Denise (quem cala, consente, oras!).

O Tema: Fantasia.
Pode ser conto, crônica, fábula... O formato tanto faz, desde que seja em prosa, por favor.
Os textos devem ter em média 800 palavras (o Word conta por vocês) e não deve conter erros gramaticais, para facilitar a nossa vida. Queremos ler os textos, não corrigi-los. =)

Os textos podem ser enviados a partir de... hm... hoje, 08/06/2007. Receberemos todos até o dia 01/08/2007 no e-mail membrana.seletiva@gmail.com. Mandem com o Assunto "Concurso Membrana Seletiva" ou algo parecido para podermos identificar. No e-mail, além do seu texto, inclua o seu nome completo e o endereço do seu blog, caso possua um.

Escolheremos 5 textos para publicar e o melhor será publicado no dia 08/08/2007, além de ganhar uma cópia do filme "O Senhor dos Anéis" e uma do livro "Entrevista com o Vampiro". (Nenhum dos dois originais, sinto muito... Mas é melhor do que um bombom xáxá!)

Esperamos ansiosas os textos de vocês e que vença o melhor, o mais engraçado, o mais sensível ou... enfim... o que acharmos que mais vai agradar nossos leitores e o que mais vai merecer nossos lindos prêmios.
Crédito da foto: Fernanda Eggers.