quarta-feira, junho 13, 2007

Damien


"- Nobody is really ready.
- For knighthood?
- For death."


Um instante. Tudo o que ele precisava era de apenas um instante - o tempo de um simples piscar de olhos era mais que suficiente para levar um cavaleiro ao chão. Não tinha nada contra duelos - apesar de serem um tanto burocráticos e fantasiosos demais - mas o campo de batalha era diferente. Justa alguma poderia se comparar à batalha: suja, lamacenta e escorregadia, onde os homens lutam por suas vidas. Em uma batalha, você mata, pisoteia, esmurra e até tortura. Com sorte você aprende a gostar disso.

Damien escutava os tambores dos inimigos, soando ao longe, mas aqueles bastardos não o incomodavam. Era um mercenário, sem fé, e que adorava matar - não importava o lado dos soldados, ou a quem servia. Era vassalo apenas de sua espada. Carregava a bandeira de quem pagasse melhor - desde que pudesse matar. Prisioneiros rendiam resgates, e por isso deixava os nobres emplumados para quem os desejassem. O dinheiro só era útil enquanto pudesse pagar uma boa armadura e uma espada melhor ainda. Sorriu quando o primeiro destacamento veio na direção de atacá-los.

Fez um gesto para que seus homens esperassem. Que a carga seguisse em sua investida desvairada, desfazendo a linha inimiga. Que eles os enfraquecessem com as lanças, e que eles morressem primeiro. Logo os primeiros gritos soaram, acompanhados pelo clangor de espadas. Damien não deixou de sorrir quando viu um cavaleiro ser atingido por uma espada, e tombar para a esquerda do cavalo, preso pelo pé no estribo, enquanto o animal andava erraticamente. Aquele era o destino dos heróis do rei: uma morte inócua, a profanação do seu corpo, e acima de tudo, seus bens pilhados.

Levantou-se em seguida, guiando seus homens para a esquerda. A infantaria já estava engajada em combate, e aquele pequeno grupo surpreenderia pelo flanco. Sangue iria encharcar aquele gramado, e apenas os céus presenciariam os corpos inchando sendo comido por abutres. E mais uma vez, ele não estaria entre eles.

Damien desembanhou a espada e sem cerimônia cravou-a num jovem que não parecia ter mais de 18 anos. A morte de um camponês não tinha honra ou glória - embora ele não desse importância a nenhuma das duas - e, acima de tudo, era apática. Raramente imploravam misericórdia, tão paralisados de medo que estão. Preferia ver o desespero nos olhos de um cavaleiro arrogante e ouvir seus últimos impropérios.

Sem o elmo, pôde ver quando uma lâmina brilhou à luz do sol da manhã, e virou o corpo a tempo de bloquear o ataque com facilidade. Aproveitou a força do golpe do inimigo e girou um pouco a espada, desarmando-o. Por um instante, o soldado ficou estarrecido diante da habilidade do mercenário. Só por um instante. Tempo mais que suficiente para que a espada de aço reluzente trespassasse sua carne, e o fizesse de cair de joelhos. Os olhos arregalados, a boca ensangüentada, os braços largados ao lado do corpo. Tentava balbuciar alguma coisa. Uma prece?

Tsk. Como se Deus fosse escutar. Bem? Mal? Todos os exércitos acreditam ter Deus ao seu lado. Todos dizem que seus inimigos são enviados do demônio, afirmam que queimarão no inferno. Damien não se importava com sua alma - e, se ela existisse mesmo, ele não poderia comprovar. Se pudesse, a trocaria por uma espada. Também não se incomodava em pagar a um padre para rendê-la. Se todos aqueles guerreiros realmente queimassem no inferno, ele deveria ser um bom lugar, afinal.

Bla, bla, bla, estamos com um concurso, bla bla bla, vejam os detalhes aqui.

7 comentários:

Anônimo disse...

Olha as influências dos romances de cavalaria dando frutos aí =D

Muito bom!

Esse Damien é algum personagem de campanha ou surgiu só pro conto?

Allana disse...

Surgiu só pro conto. Nem tenho ele muito definido ainda.

Esse texto é meio velhinho, de 2006. Escrevi na época em que estava lendo O Andarilho... xD

Italo disse...

Uma mistura de Diablo com O Arqueiro, foi o que me pareceu. Isso nas mãos - ou na mente - de uma mente sórdida, no que poderia resultar? Um conto, é claro. ^^

Ivo Brunet disse...

Massa demais.

Fernanda Eggers disse...

Deu vontade de reler (pela 4ª vez) O Arqueiro! =D
E os livros seguintes, de repente...
(Still in love w/ Thomas, maybe?)

Muito massa, Allana!

Eduardo Costa disse...

Era vassalo apenas de sua espada.

Talk about obsession...

Quem é esse, Arqueiro?

Anônimo disse...

O Arqueiro é o primeiro livro de uma trilogia de Bernard Cornwell, A Busca do Graal (ou qualquer coisa envolvendo busca, cálice sagrado, etc). Seguem-no o Andarilho e o Herege. ^^