domingo, novembro 12, 2006

Na Terapia

- Reconheço que tenho um problema, doutor.

- Humhum.

"Aleluia!” Pensa o pobre coitado do psicólogo. Há dois anos aquele jovem o visitava semanalmente, por imposição da mãe, e jamais admitiu ter qualquer problema. Finalmente iria dizer que era excessivamente tímido e introvertido, tinha problemas com sua altura, dificuldade para se comunicar com os outros e conflitos com o pai.

- Vacas.

- Como?

- Estou obcecado pelas vacas!

- Como assim? Que tipo de vaca?

- Todo tipo de vaca! Malhadas, leiteiras, com chifres, sem chifres, gordas, magras... Até vacas de desenho animado!

-Prossiga.

O terapeuta esperava outra confissão do garoto, é verdade. Mas se ele estava a fim de falar sobre vacas, que falasse. Quem sabe isso não revelaria algo a mais sobre ele? Talvez tivesse algum trauma de infância.

- Há mais de um mês sonho com elas. Às vezes é uma coisa simples: as vacas pastando em colinas verdes, mugindo, os bezerrinhos mamando. Já sonhei com vacas pulando cerca, como se fossem ovelhas. Vacas vestidas, indo trabalhar.

- Certo. Me conte com calma, não precisa se exaltar.

- Ontem sonhei com vacas carnívoras, que comiam carne de humanos. Os humanos eram o gado, entende? E as vacas dominavam o mundo.

- Você vê essas vacas só em sonhos?

- É. Não. Bom, encontrei uma vaca na rua, ontem. Era uma vaca comum, tava pastando num dos terrenos baldios, perto da minha casa. Você sabe, eu moro num bairro distante, pouco povoado...

- Qual a impressão que a vaca lhe causou?

- Ela falou comigo, doutor! – O paciente estava de olhos arregalados, como se tivesse acabado de ouvir a vaca falar. – Ela disse que nosso fim está próximo e que hoje elas vão explodir o empresarial mais importante da cidade!

O empresarial, óbvio, era aquele onde se encontrava o consultório.

O psicólogo estava preocupado com o garoto. Iria encaminhá-lo a um psiquiatra e pedir exames de sangue e urina, para ter certeza de que ele não estava usando alucinógenos.

Antes que pudesse dirigir novamente a palavra ao seu paciente, o jovem transtornado saltou da cadeira, gritando, e correu para fora do consultório. Iria tentar alcançar a segurança das ruas pela escadaria de incêndio.

Quem olhasse pelas janelas voltadas para o leste, poderia ver vacas saltando de pára-quedas, com granadas nas patas, que elas atiravam para dentro do edifício, quebrando as vidraças.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vacas terroristas!!!

Historia legal.
Tem mais pra agente depois?

Quero ver q fim vai dar na revolta das vacas.

Ivo Brunet disse...

Macabro... muito macabro.
Nessas horas é que eu chamaria meu amigo Coffin Joe.