Imposto sobre beleza
por Mônica Vitória
Um escritor argentino está defendendo uma idéia polêmica e curiosa: quer que as pessoas consideradas muito bonitas paguem imposto! Segundo Gonzalo Otálora, a cobrança compensaria o sofrimento daqueles que não foram contemplados pela natureza com um belo semblante ou um corpo escultural.
O escritor afirma que as pessoas comumente chamadas de "feias" não usufruem dos mesmos direitos que os mais bonitos e que são prejudicadas pela sociedade. A campanha de Otálora critica o enorme culto à beleza que há na Argentina. Seu livro, intitulado "Feio", relata os preconceitos dos quais ele mesmo foi vítima durante sua vida.
Imaginem se a moda pega no Brasil... Um domingo de sol na praia seria o suficiente para denunciar os sonegadores!
Dizem que beleza não põe mesa, mas se dependesse dessa campanha, ela ia esvaziar os bolsos de muita gente...
Notícia de O Globo.
Pois é. Copiei essa matéria na íntegra do site
Bolsa de Mulher (que eu indico, inclusive) e li o "original" do Globo e, sinceramente, achei um absurdo. O autor diz que sofreu preonceitos por ser feio e acredita que quem é bonito deveria pagar imposto.
Aí entram os questionamentos: o que é ser bonito? Como se pode classificar alguém como bonito ou não, se os gostos são os mais diversos possíveis? Para que tal imposto pudesse ser aplicado, deveria ser criado um padrão, que não seria justo. Principalmente porque teria que ser baseado no gosto de alguém, que já é diferente do de outra pessoa. O que você acha bonito eu posso não achar, e vice-versa.
As pessoas consideradas bonitas têm alguma culpa disso? Ou tem alguma culpa sobre a feiúra alheia? Será que não é simplesmente uma questão de auto-estima? Tenho uma amiga que é baixinha, 1,55m. Cabelos loiros cacheados, olhos castanhos e tem seios pequenos. O padrão de beleza imposto pela mídia não é esse, é o de mulheres altas, magérrimas, com seios grandes (é a moda da vez), cabelos lisos e que mudam de cor a cada estação. No entanto essa minha amiga é feliz da vida. Vai à academia e trabalha seus pontos fortes, cuida muito bem dos cachinhos dela e não conheço um cara que não diga que ela é linda ou, no mínimo, muito bonita. Tenho amigos que se encantaram por uma conhecida minha que está acima do peso - condição génetica. Ela se cuida, é elegante, faz academia, dança, sabe o que usar para valorizar suas qualidades. No entanto tem outra pessoa que conheço que tinha um lindo cabelo castanho e pintou, agora está todo ressecado; tem um formato de rosto muito bonito, mas que está desvalorizado por causa do cabelo e pelo excesso de peso, que também tirou atributos do corpo dela.
Quem não nasceu igual à Ana Hickman não precia enfiar pinos entre os ossos para ficar com 1,80m de altura, deixar de comer para deixar os ossos à mostra, gastar fortunas com lentes de contato azul e rios de dinheiro (sem falar no tempo) para manter o cabelo lindo, liso e loiro.
Deve, sim, fazer um exercíciozinho físico, dar uma voltinha na praia ou na praça durante o dia e aproveitar que tomar sol moderadamente faz um bem danado, cuidar do que tem, valorizar os pontos fortes, não tentar a todo custo parecer algo que não é. É isso, dentre outras coisas, que vai fazer com que cada um se sinta bem consigo mesmo e, pra melhorar, se sinta bonito.
Claro que é um absurdo o preconceito, seja lá porque é feio, bonito, branco, preto, azul, verde-com-bolinhas-cor-de-rosa... (E obrigar alguém a pagar imposto porque foi favorecido pela genética não seria também preconceito?)
Além do mais, como é que isso iria ser cobrado? "Ah, você é alto, vai pagar R$10. Além de tudo é malhado, tem que pagar metade do que gasta com academia. Xi, que sorriso bonito, branquinho! Vão uns R$50 aí. Por cada dente. Quer dizer que você corta as unhas com freqüência, usa produtos condizentes com seu tipo de cabelo e sabe se vestir? Ah, eu sinto muito, mas acho melhor você desistir de comprar um carro. Por uns dez anos."
No site do jornal, o autor fala que o ambiente escolar deve desestimular o preconceito com as pessoas feias. Isso não é da escola, é da educação de cada um dos alunos. Dos pais dos alunos, que abdicaram da educação das crianças, jogando a responsabilidade para outros meios. No caso dos desfiles, o que está sendo exposto ali não é uma pessoa, é a roupa. A pessoa não passa de um cabide. Não vou entrar em maiores detalhes, que isso dá material para um outro texto.
Quando ao
sr. Feio (escritor argentino Gonzalo Otálora), ele diz que aprendeu a gostar de si mesmo e leva a vida com bom humor. Ele deveria, então, ser condizente com as próprias palavras e gastar o tempo dele com algo menos inútil. Não é por aí que se vai combater o culto (ridículo, eu concordo) à beleza.