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quinta-feira, abril 05, 2007

Eneida - Cantos II e III




"Preparem-se para a glória!"




E aqui segue a tragetória do herói fundador de Roma. Depois de vagar longa e penosamente por uma tempestade mandada por Juno (ou eu poderia chamá-la de Hera? Acho que não faz muita diferença...), aporta nas praias de Cartago e segue para encontrar a raina Dido. Dido, como toda rainha que se preze, convida o herói para jantar. Mal sabe ela da artimanha perparadas por Afrod... hã, Vênus: escondendo o pequeno Ascânio, filho de Enéias, ela pede que Cupido tome a forma dele e induza no peito da rainha furioso amor.

Enéias suspira, toma mais um bom gole do vinho africano, e a pedido da rainha, começa a contar a história da queda de Tróia.

- Um dia estávamos lutando e no outro dia *ic* PUF! Nada! Os gregos *insira aqui algum xingamento proibido para o horário* simplesmente sumiram! De primeiro achamos que... *ic* era algum tipo de estratégia idiota... mas bem, não é como se eles tivessem muito para onde ir, afinal. Mas o mais estranho era um *ic* cavalo! De madeira, enorme, maior até mesmo que as nossas muralhas! - gesticulava o herói exageradamente, enquanto tomava mais vinho. No fundo, um aedo (aquele sujeito que ficava cantando histórias, acompanhado de uma harpa, e normalmente era cego) cochichou com uma das escravas:

- Depois eu quem invento histórias...

Enéias fingiu que não ouviu, e continuou sua narrativa. Falou que um sacerdote de Posídon tentou convencer o rei a queimar o cavalo, que não se podia confiar nos presentes dos gregos. Mas os troianos, cegos que estavam pelo fim da guerra, não lhe deram ouvidos, e quando uma cobra "que era desse tamanho, juu*ic*uuro!" sufocou e devorou o sacerdote, acharam por melhor deixar o cavalo entrar.

E o resto do dia foi somente festa: a guerra de dez anos, narrada em mais de 8 mil versos por aí, havia finalmente acabado! À noite, enquanto todos dormiam o sono dos justos, os soldados gregos escondidos no cavalo começaram a chacina.

- E bem*ic*, eu achei que havia sido algo pesado que eu comi *ic* antes de dormir, mas naquela noite eu tive um sonho. Heitor, filho de... de... de... como era mesmo o nome dele, do rei de Tróia... bem não importa. Ele era um bom homem. Heitor. Mas o rei também era. Onde eu estava? Ah, sim, eu sonhei com Heitor. Sim, sim. Foi um sonho estranho, na época. Ele disse que eu saísse correndo, pegasse os Penates de Tróia, e fugisse, que um reino me aguardava. Um bom reino, com água, terras férteis e todas essas coisas que se diz em profecias.

- E claro, eu acordei, e vi a cidade queimado. E o que eu fiz?

- Fugiu com sua comitiva? - perguntou um figurante qualquer.

- Claro *ic* que não! Eu sou um guerreiro, oras! Peguei minhas armas! Me juntei *ic* a um punhado de homens e se fosse para morrer, que morresse como homem! Até que resolvemos usar as armaduras dos gregos, matando a maior quantidade deles disfarçados. E essa até que foi uma boa idéia, até o momento em que os troianos passaram a nos atacar. Tivemos que fugir para o palácio do rei... Príamo! O nome dele era Príamo! E foi onde eu o vi morrer pelas mãos do filho de Aquiles. Era um bom homem, o rei. E Aquiles também, apesar de meio esquentado.

- E eis que eu vi Helena: a grande *insira aqui um xingamento bem forte* que causou toda a guerra. Por um momento eu fiquei cego. Sim, eu morreria, enquanto ela iria só jogar um charminho para o marido chifrudo dela e sair ilesa. Ah, não, não. Eu não poderia deixar aquilo passar. Quando levantei a minha espada, minha divina mãe apareceu. Me lembro até hoje das palavras sábias e carinhosas dela.

- Olha aqui, seu mané! Você acha que isso é trabalho desses mortais? Não, meu filho desprovido de inteligência. São os deuses, os deuses que estão fazendo isso. Deixe essa vadia pra lá e vá cuidar da sua família, como um homem de verdade deveria fazer! Pegue seu pai, os Penates de Tróia e vá embora! Entendeu ou quer que eu desenhe?

-
Bem, então eu fugi. Carregando meu pai nas costas, e ele segurando os Penates, e meu filho pela mão. Só que no meio do caminho eu meio que perdi a minha esposa... como era mesmo o nome dela? Bem, ela morreu, não importa. E bem, daí juntei os sobreviventes e comecei a viagem.

- E como foi a viagem? - perguntou a rainha, que já sentia uma coisa estranha no peito quando ouvia o herói falar. Tanta coragem, tantas provações, braços tão fortes, pernas tão bem trabalhadas, e o tanquinho, nem se fala...

- A viagem foi um inferno na terra. No mar, *ic* quer dizer. Na terra e no mar, na verdade. Ulisses? Rá! Ele *ic* deveria agradecer por ter tido uma viagem melhor que a minha! Ficou anos e anos com uma deusa imortal e ainda queria voltar para Ítaca... *ic* cara burro. Vi vários lugares, enfrentei monstros terríveis, ouvi *ic* oráculos dos mais estranhos... mas nunca me preparei para *ic* a morte do meu pai. Ah, meu pai. Era um bom homem, ele também. Como era mesmo o nome dele...? Bem, depois de queimá-lo e fazer toda aquela frescura de ritual fúnebre, segui o caminho. Mas pegamos uma tempestade grande no meio do caminho e agora estamos aqui. Agora, se me permite, rainha... *ic* eu preciso descansar da viagem...

E assim Enéias terminou sua história, se levantou meio trôpego e foi dormir.

quinta-feira, março 08, 2007

Eneida - Canto I





E uma mulher era o chefe da expedição.




A noite ia alta, as estrelas brilhavam no alto céu, e a frota de navios seguia seu caminho como previsto e ordenado pelos deuses. Previsto, porque os deuses sempre têm um oráculo duvidoso para tudo, e ordenado porque eram eles que mandavam naquela joça mesmo.

De repente, as nuvens se juntaram no céu e uma tempestade terrível abateu a frota. E era uma tempestade experiente aquela: usava de todos os efeitos especiais a seu alcance, como raios, trovões, ventos, ondas gigantes – adorava ondas gigantes; tinham todo um charme oriental. E além de experiente, estava dando tudo de si: queria ser promovida a tornado. E para isso era necessário mostrar serviço, ora pois!

Essa é a história de Enéias, vale salientar. Enéias, foragido de Tróia, se meteu mares adentro, e viveu uma jornada homérica. Na verdade, foi uma jornada virgílica, visto que Virgílio pegou tudo de bom (e de ruim) de Homero. Enéias, filho de Afrodite, ou melhor, Vênus, deveria seguir longa jornada até chegar à terra prometida das melhores pizzas do mundo, a Itália. Claro, foram os deuses que determinaram que ele deveria fazer isso. O porquê? Perguntasse a eles!

- Esse é o grande problema de ser o protagonista de uma epopéia – falava Enéias para o vento, enquanto tentava se manter de pé no seu navio. – Não bastando enfrentar monstros terríveis, descer ao Inferno e voltar de lá, ou lutar por dez anos numa guerra sem sentido, ainda tenho que aturar uma tempestade chata que vai me tirar do rumo de novo. Só espero que o cachê seja bom!

A Eneida é uma narrativa in media res. Ou, no bom e velho português, que começa com o bonde andando. Ou o navio, como preferir. Por isso cabe aqui uma pausa para o uso de uma técnica deveras comum na literatura: o flashback.

Há muito, muito, mas muuuuito tempo atrás, uma rancorosa deusa, ciumenta e possessiva, resolveu participar de um concurso de beleza. Esta deusa, Hera, ou melhor, Juno, resolveu competir com Atena, aliás, Minerva, e Vênus. O juiz desse concurso foi o primeiro mané que elas encontraram: um pastor bonitinho, meio magricela, troiano, chamado Páris. Como boas deusas gregas que são, aliás, romanas, partiram para a famosa técnica do suborno. Juno, esposa de Zeus, hã, bem, de Júpiter, ofereceu impérios e terras. Minerva, deusa sábia e guerreira, ofereceu ao jovem a invencibilidade em batalhas. Vênus, que não era boba nem nada, seguiu literalmente o dito popular “Meta os peito”: desnudou os seios e ofereceu a mortal mais bela do mundo – Helena. Páris, como homem, deu como vencedora a deusa seminua.

E bem, como o mundo já está cansado de ouvir, isso acarretou na Guerra de Tróia. Os troianos, claro, perderam, mas essa é outra parte da história. A questão é que Juno ainda não estava completamente satisfeita. Não bastava ter colocado a cidade abaixo, os templos destruídos, os soldados mortos, as mulheres feitas escravas. Não, ela queria mais: ela queria acabar com o sangue troiano, principalmente porque eles estavam destinados a destruírem sua terra preferida, Cartago. E usando seus encantos de deusa do casamento, bateu um pequeno papo com Éolo, deus menor dos ventos, e encomendou uma tempestade. Éolo, não querendo fazer feio com a esposa do patrão, acatou as ordens como qualquer deus menor faria.

Voltemos à nossa tempestade, que infelizmente não conseguiu sua tão sonhada promoção. Poseidon, aliás, Netuno, não gostou nada nada que deuses menores se intrometessem no seu território. O mar era dele, afinal de contas. Com seu tridente mágico +20 expulsou a tempestade e assegurou um porto seguro para Enéias, embora ele não tivesse a mínima idéia de onde estava.

Vênus, preocupada com o destino do filho, foi bater um papo com o chefe. Vestiu a saia mais curta, a blusa mais decotada, aquele perfume especial e marcou uma hora com o manda-chuva.

- Júpiter, sabe... você prometeu um reino para o meu filho, abundância e paz. Já não basta tudo que ele passou? Pobre rapaz, perdeu a mulher, o pai... por acaso esqueceu do que prometeu?

- Ah, mas isso você nem precisa se preocupar. Sim, Enéias terá um reino. E depois dele Iulo, que dará origem ao famoso Júlio! E será um reino grande, quase eterno. Sim, sim, eu... bem, só não sei muito bem quando isso poderá acontecer.

- Podemos negociar algo a mais... curto prazo?

Júpiter olhou para a deusa a sua frente. Seria um incesto. Não que ele fosse famoso por ter muita moral, mas ainda assim era um incesto. No entanto, seria um incesto muito bem aproveitado. Sim, sim, um belo de um incesto. Na verdade, seria incesto de acordo com a versão da lenda.

Incesto ou não, foi muito bem aproveitado.

Enquanto isso, no plano terreno, Enéias seguia por entre as terras desconhecidas. Eles já erguiam seus próprios muros, as mulheres vestiam púrpura. Sorte deles que já haviam realizado o sonho da casa própria! E nos muros dos templos pinturas com os acontecimentos da guerra de Tróia. Mal sabia ele que aquele lugar seria odiado por sua raça, dali a alguns milhares de anos à frente. Mal sabia ele que acabara de aportar em Cartago.

- É, Acestes. Todo mundo já sabe da guerra. Até parece que alguém resolveu escrever uma epopéia a respeito, e dramatizar isso em peças e peças. Às vezes é até bom ser famoso, não acha?

Depois de algumas boas horas, Vênus, recuperada da longa série de exercícios, recorre a seu filho mais novo, Cupido. Com as chantagens de mãe, diz que ele tomasse a forma de Iulo, filho de Enéias, e fizesse com que Dido, rainha de Cartago e que há muito não conhecia as coisas boas que o amor poderia trazer, se apaixonasse por Enéias. “Sempre é bom ter uma rainha apaixonada por protagonistas”, pensou. Não que ela duvidasse do destino, mas uma ajuda sempre é bem vinda.

E deu no que deu: Dido, ao vislumbrar o herói que chegara de tão longas terras, em jornada, o convida para um jantar. E não é preciso ler a Eneida para saber o que acontece agora: ela estende a conversa e pede que ele conte sobre a guerra. E Enéias, depois de um charminho necessário, se desata a falar.

E isso, nós deixamos para o próximo episódio.