O celular toca. Pra quê? Pra atrapalhar a vida dela claro! Pra que mais um celular tocaria às 10h da noite numa quarta-feira, quando ela tem aula no dia seguinte de manhã, curso à tarde e ensaio de noite? Mencionei que ela está estudando direto à 4 horas? Pois é.
Ela é Lara, uma jovem, solteira, universitária, não diria linda, mas atraente, que gosta de sair com as amigas, dançar, ler, ir ao cinema e tomar sol. Lara odeia que liguem pra ela às 10h da noite numa quarta quando ela está estudando e tem um dia carregado por vir, usar óculos (mas não se adaptou às lentes de contato) e gente idiota. Era justamente uma idiota que ligava.
Lara não tinha como saber disso, não conhecia o número que piscava na tela do celular. Se soubesse, seria capaz de atender xingando. A não ser que fosse aquele paquerinha da outra turma, claro. E se fosse ele, ligando do celular da irmã ou de algum amigo? Atendeu.
- Alô?
- Quem fala?
Sim, a pessoa do outro lado era extremamente grosseira. A pessoa, inclusive, era do sexo feminino, casada, um pouco acima do peso, cabelos descoloridos com as raízes escuras, uns 45 anos, extremamente insegura, ciumenta, paranóica e obcessiva.
Claro que Lara não tem como saber das características físicas da mulher pelo telefone. Não que isso importe em alguma coisa para a vida dela.
- Quem fala, por favor?
- Eu quero saber de quem é esse número e você vai ter que me dizer!
- Mas foi você quem ligou, como é que vai ligando assim pra alguém que nem sabe quem é?
- Não se faça de besta, sua Jezabel! Você está destruindo minha família! Fala comigo como se não soubesse de quem é esse celular! Deus vai te punir e você vai queimar no mármore do inferno com o canhoto espetando a sua bunda!
- Ai, meu Deus! Isso é hora de uma louca ligar pra mim? Minha senhora, eu estou estudando, tenho um dia puxadíssimo amanhã e eu nunca vi esse número de celular na minha vida.
- Nem invente histórinhas pra desligar! Eu sei que você está dormindo com o Otávio, sua vaca loura!
Lara é morena. E Otávio, o marido dessa senhora, é um homem de 57 anos, alto, respeitáveis cabelos brancos (ele já era grisalho aos 25) e um início de calvice despontando. Fora magro, mas a idade e o sedentarismo começavam a trazer uns quilinhos a mais, evidentes na região abdominal. O homem era pacífico, calmo e muito, muito rico. Montara uma empresa com seu pai e o negócio dera mais do que certo.
- Eu? Dormindo com Otávio? Mas...
- Lembrou, não foi? Pois agora...
- Ah!!! O Tavinho! Um belo senhor o Tavinho. Faz um favor pra mim? Diz pra ele que nossa última noite foi fantástica, amei o restaurante! Sabe que eu nunca tinha comido comida tailandesa? E ele me levou para um quarto luxuosíssimo! Só você vendo! Todo em estilo oriental. Ele me dá cada presente... Você é o quê? Irmã mais velha dele ou coisa assim?
Com essa, a mulher quase se jogou da janela de seu belíssimo apartamento no bairro mais nobre da cidade. Otávio sendo chamado de Tavinho? Ele odiava apelidos! Nunca a levara para nenhum restaurante exótico ou um quarto de motel na vida. Ela morreria nesse momento, se pudesse.
- Eu... eu sou a mulher dele... ele... ele... ele realmente foi passear assim com você?
- Ah, é a mulher, é? Achei que você tivesse morrido... Conversa com ele então, tá? Boa noite.
Lara desligou completamente o celular. Depois dessa, pensou, aquela doida não ia incomodar mais ninguém. De manhã, ela sentiria um remorso horrível.
Otávio nunca encontrara mulher alguma. Tivera, sim, um caso passageiro com uma turista certa vez, quando sua mulher estava grávida, mas não passou de um mês e desde então se comportou exemplarmente bem. Claro, ele ligara para Lara, mas fora um engano. Ele tinha certeza de que ea o telefone da mocinha simpática da floricultura e queria pedir um arranjo de flores para o aniversário da mulher.
sexta-feira, setembro 08, 2006
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3 comentários:
Meu Deus, tadinha da "pobre" e gorda senhora!!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Tavinho???? kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Comida tailandesa eu nunca provei, oh...tsc tsc...
Bjooooooooooo
Tirando os typos, está show. Parabéns, moleca!
Eu já estive na pele da Lara certa vez. Não, nenhuma dona de casa gordinha me ligou exigindo algum tipo de pedido de desculpas por ter dormido com o marido alheio. Na verdade, uma mocinha bastante simpática me ligou, perguntando pelo que suponho que fosse o namorado. Eu normalmente não sou uma pessoa má, mas veja bem, aquele foi um dia dos diabos, e não é que eu estava mesmo sentindo uma fagulha de inspiração?! ^^
Expliquei pra ela que no momento, o possível namorado estava se recuperando em um apartamento do hospital Samaritano, e que decerto alguém na recepção poderia dar-lhe maiores informações sobre o estado do pobre rapaz. Claro, ela quis saber o que aconteceu, e essa era uma dúvida a qual eu certamente me via capaz de sanar. O Possível Namorado tinha sofrido um assalto à mão armada em seu próprio lar. O lugar estava revirado de uma ponta a outra, um verdadeiro caos, mas o importante é que ele estava bem apesar da sova que havia recebido. Tão sem reação que estava, que nem mesmo me pediu o telefone do hospital, a pobrezinha, mas eu o ofereci assim mesmo (minha mãe trabalhou lá por anos, e eu ligava pra kct).
Por acaso já presenciou uma galinha saltitando alegremente por aí um segundo após ter sua cabeça arrancada do pescoço por um golpe de facão? Eu também não, mas dizem que acontece, e imagino que era assim que a moça no telefone se sentia.
Ela não ligou outra vez.
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