sexta-feira, dezembro 29, 2006

Re-começo




Crie uma nova versão de si mesmo...se reinvente.




Benditos sejam os que inventaram o calendário com inícios e finais de ano.
Não podemos negar, o dia 31 [de dezembro], por mais que seja “apenas um número” nos traz aquela sensação de final de ciclo, de “mais um ano se passou”, mais uma etapa concluída, mais quatro estações vividas [aqui no Nordeste nem tanto].
Não há nada de mal em aproveitar este dia para fazer aquelas resoluções para o próximo ano, para juntar a família e amigos em volta da mesa com Chester Perdigão, ou porco assado [para aqueles que acreditam que aves atrasam nosso ano porque ciscam para trás e porcos trazem sorte porque “fuçam” para frente].
Fazer a contagem regressiva, ver os fogos, abraçar quem gostamos, beber até cair [e não dirigir depois], prometer parar de fumar, pular sete ondas, comer lentilhas, jogar moedas para dentro da casa. Jogue fora o que te magoou e guarde apenas o que te alegrou.

E depois da meia-noite? Existe algo mais renovador que ver o início “de tudo” de novo?
É certo que você vai continuar pagando contas, tendo que trabalhar, estudar, ir ao médico fazer check-up, fazer a feira, enfrentar filas... mas você também terá mais um ano de nascer do sol [assista ao menos a um], de banhos mornos no final da noite, de amigos com os quais irá sorrir bastante, de coisas que lhe tirarão o fôlego, de filmes excitantes, de planos em longo prazo, de fotografias [tire muitas e faça um mural], de preguiça numa rede, de idas à academia, de oportunidades para alcançar o que quer, de surpresas.
Acho que a palavra que melhor define um ano que se inicia é surpresa, pois quase nada sai como planejamos, mas muitas coisas que acontecem de forma diferente são bem melhores do que imaginávamos.
Entre no novo ano com disposição e vontade de viver, encha seus pulmões com os primeiros ares de 2007 e não tenha medo da renovação. Esteja aberto às mudanças, não tenha preconceitos, faça algo diferente, saia da rotina. Você só vai viver 2007 uma única vez. Vi esta frase em algum lugar: coma a vida com uma colher grande.

Haunted



Góticos de verdade não existem. Góticos de verdade se matam.




Seus passos ecoavam pelo grande salão, enquanto seus olhos claros se perdiam nas cores renascentistas. Sabia que aquelas não eram as artes originais da construção – a igreja era bem anterior à Renascença, mas passara por tantas reformas que as paredes originais haviam se perdido. Além do mais, não seria muito bom para a Igreja Católica relembrar das barbáries cometidas da época da Inquisição.


Enquanto passeava pela grande construção de pedra sólida, pendurado na cintura um mp3 player levava música aos ouvidos da jovem Nicole. Um barulho, no entanto, se fez soar mais alto: o crepitar de chamas.
Não foi somente o barulho que fez a jovem se virar, mas também um forte cheiro de carne queimada e um calor tanto intenso quanto repentino. Para a cena que desabrochava diante dos seus olhos havia apenas duas palavras: inexplicável e assustador.

Uma fogueira imensa ardia enquanto a fumaça espiralava para o teto da construção, agora invisível pela fumaça. Uma mulher, desnuda, gritava loucamente, atada por cordas a um grande mastro de madeira. Já não se via seus pés ou joelhos, consumidos pelas chamas, e seu rosto já trazia grandes queimaduras, assim como o que restava do seu corpo. A mulher tremia e gritava tal qual um animal enjaulado, e tentava balbuciar algo em meio à tamanha agonia. Quando virou o rosto na direção de Nicole, a jovem percebeu: a mulher tivera a língua cortada.


Nicole fechava os olhos com força, e abanava as mães diante de si, na tentativa de fazer a visão desaparecer. Aquilo tinha que ser falso, afinal. Se fez gritar, até que notou que os gritos da mulher pararam, e que o calor da fogueira havia cessado. Abriu os olhos, e no mesmo momento se arrependeu de ter feito aquilo.

Viu pessoas, muitas delas. Andavam pelo salão, e pareciam ter percebido a presença da jovem. Todas elas estavam num estado deplorável – traziam várias marcas nos corpos, a maioria indizíveis. Homens, mulheres e crianças até, com marcas profundas no pescoço, as órbitas vazias e os lábios entreabertos, roxos pela falta de oxigênio. Enforcados.

E haviam outros mais – pescoços e braços quebrados, membros amputados, olhos arrancados. Andavam como podiam, ora se arrastando pelo salão, ora tropeçando. Nicole desejava correr, gritar e sair daquele lugar, sair dali e fingir que nada acontecera. Suas pernas, no entanto, não obedeciam. Estava paralisada de medo. Sua respiração faltava e sentia o corpo inteiro tremer – por mais que quisese, não conseguia sair dali. Deixou-se cair sentada no chão, encostada na parede. A inércia pelo medo era tanta que sequer baixar a cabeça conseguia – não era capaz até de desviar os olhos de tão horrenda visão.

E então desmaiou.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Os Amigos do Namorado




Quem não arrisca, não vive.



Namoro costuma ser um pacote. Claro que de início você não espera. "Adquire" o namorado sem ao menos pensar nos amigos que vêm junto, ou na família. O que, claro não é sempre ruim.

O difícil é se acostumar, claro. Um monte de gente que você não conhece e que, de repente, faz parte da sua vida. Gente que você encontra uma vez por mês, quando não semanalmente. Gente com quem você esbarrava na rua e não tinha idéia de quem era e, agora, mas pessoas para você conversar quando esbarra na rua (e pra pedir desculpas quando está atrasada e não pode nem se dar ao luxo de um "oi").

Essas pessoas conhecem seu namorado melhor do que você, afinal são amigos dele antes de você ser a namorada (o que pode ser útil na hora de dar idéias para presentes), por isso mesmo merecem ser tratados com respeito e vale o esforço para que seja estabelecido um tênue laço de afinidade.

Existem os amigos que não valem tanto a pena, claro. Tem sempre uma criatura pé-no-saco, que acha que o rapaz deve continuar vivendo como quando solteiro ou que não trata a pobre namorada direitinho. Tem aqueles que interferem no namoro. Uns querendo, outros porque são extremamente desligados. Alguns simplesmente não têm vida e não pensam que as outras pessoas ao seu redor podem ter.

Deixando de lado essas criaturas, com o passar do tempo, os amigos do namorado vão ficando mais familiares, assim como as namoradas dos amigos do namorado. Os "tênues laços" de antes vão se firmando com alguns e chega num ponto em que você pára, olha e nota: "Olha só! Eu acho que posso chamá-los de amigos!"

De repente eles não são apenas parte do pacote que você tem que aceitar. Eles já fazem parte do seu círculo social. Ou melhor: você faz parte do círculo social deles. Esse povo todinho, de repente, faz parte do seu pacote, junto com a reca de amigos que você trouxe para o relacionamento e seu namorado teve que aceitar e estabelecer algum vínculo.

Não são todas as pessoas que tem a sorte de incorporar os amigos que os namorados ou namoradas trouxeram para o relacionamento, mas, já que é fim de ano, essa é uma das coisas que desejo pra esses 365 dias que estão por vir. O seu círculo não precisa ser ampliado somente pelos amigos do seu namorado ou namorada, de onde vierem, eles são bem vindos. Mas eu desejo amigos, eles são a família que você se dá o direito de escolher.

Só me faça um favor... Escolha direitinho, tá?

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sexta-feira, dezembro 22, 2006

Sites Interessantes e Canalhas Úteis



Eu adoro a humanidade, das pessoas é que não gosto.




Há algum tempo descobri esse site e uma amiga minha me falou sobre esse aqui depois. Ambos os sites são, de certa forma, de utilidade pública.

Imagina só! Você conhece um fulano, ele é legal, bonitinho, engraçado; você se interessa, mas o sexto sentido te cutuca e te diz pra não confiar muito. Aí o que você faz? Pega o nome do rapaz, o estado e manda buscar no site! Aí, se o nome dele aparecer, você agradece ao sexto sentido por ter te avisado e, se quiser algo sério, já tira o cavalibnho da chuva. Se quiser só diversão, vai, aproveita e dá um pé antes que ele possa pensar em te chutar.

Acontece que as brasileiras não levam a nossa versão do site tão a sério assim. Claro, é muito bom pra rir, mas veja só: listar um cara num site porque ele tem o pinto pequeno? Dizer que ele é um canalha porque não é bom de cama? Tadinho! Vai ver ninguém ensinou pra ele, oras!

Claro que listar o cara porque ele namora com duas é um bom motivo. Colocar o nominho dele no site porque ele é um controlador, um compulsivo-obcessivo, porque é um vagabundo e outras coisas do gênero é um serviço que se faz pra comunidade. Assim as mulheres nem perdem o tempo com quem não vale a pena. Bom , né?

Outra coisa que me chamou a atenção foi de gente sugerindo que as autoras dos "posts" fossem processadas. Só não sei como eles esperam fazer isso, porque as informações sobre elas não são verdadeiras. Mesmo que fossem, vão querer processar as mulheres que se juntam pra falar dos homens? Fofoca é crime? Porque o site funciona como um bate-papo pós-namoro entre amigas, a diferença é que atinge mais gente numa velocidade maior.

Aí eu vejo uma história duma menina apaixonada que colocou o nome do ex no site porque ele acabou com ela. Isso não faz dele um canalha. Se for assim, cada um de nós vai ter que casar e morrer junto do primeiro(a) namorado(a). Imagina só! pelo menos dá pra rir!

Bom, eu recomendo o site pela diversão. E recomendo também que as mulheres aprendam a aproveitar os canalhas como casinhos "one night stand". Pelo menos eles servem pra algo: divertir a platéia.

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domingo, dezembro 17, 2006

Saudade by mim feat. Houaiss



Todo mundo usa máscaras.




* Saudade
/ 1- sentimento mais ou menos melancólico de incompletude, ligado pela memória a situações de privação da presença de alguém ou de algo, de afastamento de um lugar ou de uma coisa, ou à ausência de certas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados pela pessoa em causa como bem desejável.

Vim aqui para filosofar sobre este verbete do Houaiss, inspirada pelo evento de ontem (aula da saudade do meu namorado).

Cada pessoa carrega consigo uma gama de experiências, de convivências, de frustrações, de lembranças e estes elementos são alguns dos que compõem um indivíduo e fazem dele humano. Acredito que para que o ser humano seja completo (ou ao menos chegue perto disto) deve sentir esta tal incompletude da qual fala Antonio Houaiss.

A saudade é sinal de que a pessoa experenciou boas coisas, boas fases - há quem tenha saudade até mesmo de momentos difíceis, porque era jovem na época, porque tinha mais energia para lutar, porque ainda acreditava nas pessoas - boas pessoas.

Você pode querer voltar ao passado para recordar tudo isto - quem nunca desejou retornar por um dia ao colégio antigo, à casa da infância, ao programa familiar feito quando a família era maior e você menor? - só não queira viver preso ao passado como se este fosse sempre melhor que o presente, entenda que o que você é hoje é resultado de todas estas experiências e lembranças, que elas fazem parte de você e que o que você vive hoje contribui para o que será amanhã.

Olhar para trás e sorrir ao lembrar de uma queda na calçada de casa brincando de pega-pega; lembrar nitidamente do cheiro do avô que contava histórias e não está mais aqui; ver uma antiga fotografia em que você estava mais gordo, brega e mesmo assim sorridente; ouvir aquela música que seu pai ouvia nos domingos de manhã quando você era criança; lembrar da roupa que usava e do quanto estava nervoso ao encontrar a namoradinha virtual; recordar os 2 ovos por dia que comia quando tinha 12 anos e ainda não tinha colesterol alto; rir das coisas que antigamente te fizeram chorar.

Sentir esta tal incompletude é normal de quem vive e viveu.

Acredito que se alguém passa pela vida sem sentir saudades... ou nunca teve nada ou nunca amou o que teve.



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sexta-feira, dezembro 15, 2006

Enquete



Eu adoro a humanidade, das pessoas é que não gosto.




Vou linkar o texto inteiro para a nossa enquete.

Nós, do
Membrana Seletiva, gostaríamos de saber o que vocês acham do nosso blog.

Basta clicar em qualquer canto do texto (menos n
o nome do blog, nesse caso vcs serão redirecionados à página principal) e dar sua opinião. Olha que legal! O Membrana é interativo! =D

Mas só até o dia 31/12. Ano novo, cara nova! =D

Obrigada a todos, Feliz Natal, Ano Novo,
Hanukkah, festa da colheita, Samain... Bom, Boas Festas!

Perguntas a se fazer para Deus quando morrer.



E a reforma do Sistema Solar veio antes da política.




1. Capitu traiu Bentinho?


Óbvio que essa vai ser a minha primeira pergunta que eu vou fazer a Deus quando eu morrer. Isso se eu for para o Céu, obviamente. Não creio que ande sendo uma boa menina.
Quem me garante, no entanto, que Machado de Assis vai estar no céu? Ou pior: quem me garante que Deus vai ter a resposta a essa pergunta? Acho que quando Machado morreu, Deus chegou a perguntar e o nosso realista se negou peremptoriamente a responder. Daí Deus abriu aquele alçapão e disse: "Que o diabo te carregue, filho da mãe!".

É... acho que essa eu não vou saber nem quando eu morrer.

2. Finalmente, Jesus deu uns pegas em Maria Madalena?

Sabe, eu nunca vi nada de errado na relação dos dois. Jesus era um cara bacana, Maria vendia o corpo para sobreviver, e... bem, ele se apiedou dela, deu roupa, comida, e ela se apaixonou. E antes de qualquer coisa, Jesus era judeu. Os judeus não pregam, até onde eu saiba, o voto de castidade. Acho que fariam um belo casal.

Na minha opinião, Pedro era apaixonado por Jesus e ficou colocando terra no namoro dos dois. Aí Jesus morreu, Pedro deu uma de bonzão e fundou a Igreja Católica, e Maria ficou mal falada por toda a eternidade. Tsc.

3. Por que todo herói veste cueca por cima da calça?

Tá, tudo bem, não são todos. Mas principalmente os cinqüentões. O Superman, o Batman, o Lanterna Verde... eu nem falo dos colantes, porque tudo não passa de masturbação do ego dos desenhistas, que querem posar como grandes conhecedores de anatomia masculina. Como se isso fosse um grande mérito.

4. Por que o canudo é menor que a garrafa?

Eu não sei com vocês, mas quando eu tomo um refrigerante naquelas clássicas garrafinhas de vidro, sempre tenho que ficar catando o resto do refrigerante, uma vez que o canudo nunca alcança o "chão" da garrafa. Quando eu morrer, vou sugerir que ele mande um padrão para todas as fábricas de canudo, e que eles sejam maiores que as benditas garrafas.

5. Por que a laranja (fruta) se chama laranja (cor)? E porque o limão não se chama verde?

Essa sempre me inquietou. Oras, a laranja (com exceção da tangerina, que não é exatamente laranja) não é laranja, afinal! Ela é verde, e quando madura, fica amarela. Mas não laranja. Nem o suco da laranja é laranja!

Mas seguindo o princípio: porque o limão, que também é fruta cítrica, também não se chama verde? Afinal o limão é verde em todos os seus estágios (a não ser quando está podre, que fica num tom entre o marrom e o verde escuro).

Espero que Deus não se incomode com as minhas perguntas.

No Palco



Eu adoro a humanidade, das pessoas é que não gosto.




Ah, o palco. Local fascinante. Fico pensando no que ele diria se falasse. Teria tantas histórias, boas, ruins e engraçadas pra contar! Algumas constrangedoras, claro. E reclamaria um bocado do peso que colocam sobre ele.

Esse fim de semana um certo palco tem muito o que contar. Tem criancinhas dançando, dando tchauzinho e chorando, tem criancinhas maiores com florzinhas despregando das roupas. Tem patinhos, cisnes, formigas, lendas gregas e tupiniquins. Tem até a busca pela mulher perfeita, que, acredite, está no mar. Tudo isso com muita música, passos ensaiados à exaustão, suor, lágrimos (poucas) e risos (muitos).

Se o palco tem o que contar, imagina quem está sobre ele! Porque se apresentar pra uma mulditão de desconhecidos (e alguns conhecidos) é emocionante. Tanto que teve formiguinha chorando, patinho olhando pros lados, gente de tudo quanto é lado tremendo, esquecendo a coreografia e se desequilibrando levemente.

E tudo isso é absolutamente compreensível. Principalmente pra marinheira de primeira viagem aqui. Se apresentar deve ser viciante. Há uma expectativa, uma apreensão, depois vem o nervosismo e, por fim, a descarga de adrealina quando a música começa. Hora de entrar.

De repente, já não lembrava mais a coreografia, mas não importava. De certo modo, a música me guiava e sabia exatamente o que fazer, para onde ir, para onde pisar, qual o giro e qual a hora de parar. E a multidão desconhecida ali na frente já não causava medo.

E mesmo com os deslizes, o público aplaudiu quando nos retiramos, eles devem ter gostado no fim das contas. E vem o alívio, a satisfação e um sorriso desse tamanho. E daí se tremi, me desequilibrei, se a coreografia não saiu perfeita em cada detalhe? Todas saímos do palco inteiras, ninguém notou os erros e tudo acabou bem.

E isso é só o dia 1.

Um palco, um teatro, uma apresentação.
Detalhes aqui.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Heróis. Com H maiúsculo.



E a reforma do sistema solar veio antes da política.




Hoje eu assisti ao último episódio da primeira temporada de Heroes, série que trata, como podemos notar, de pessoas dotadas de super poderes. Não se trata de um X-men live action, muito pelo contrário. Os personagens são bem desenvolvidos, e a trama é apresentada no melhor estilo "aos pedaços". Esse, no entanto, não é o ponto.

Podemos notar uma mudança drástica nos heróis criados recentemente. E eu não falo dos colantes coloridos (porque, aparentemente, isso permanece, principalmente com heroínas siliconadas), mas sim das atitudes dos personagens. O clássico Superman é o típico bom moço, que salva mocinhas caindo de prédios e tem um grande ponto fraco. Creio que eu não precise recorrer ao Capitão Marvel, e aos outros inúmeros personagens que usam uniformes berrantes. Personagens completamente previsíveis, que hesitam diante de um grande vilão. Personagens irreais.

Não irreais do ponto em que são fictícios, mas irreais visto que pessoas normais não agiriam assim. Ah, mas você me diz: "eles não são normais". Todo herói é, antes de tudo, humano. O nosso azulão era um estudante caipira de uma cidadezinha no meio do nada; o Bruce Wayne teve os pais assassinados quando saiam do teatro; o Homem Aranha era um estudante zé-ruela apaixonado pela garota ruiva que morava no fim da rua, e por aí vai.

Exemplo de heróis contemporâneos? The Authority. Vocês podem encontrar mais informações aqui. Eles são personagens que são, primeiramente, humanos. Arrogantes, cheios de si, e, principalmente, eles têm raiva. Apolo, um dos personagens mais poderosos do grupo, quando realmente explode, alguém sai com um braço quebrado. O roteiro é construído de maneira diferente - não só pela narrativa, mas pelos temas. Basta mencionar uma side-history, que não vai trazer spoiler nenhum: o gibi começa com um monstro saído das meninas-superpoderosas atacando uma cidade genérica, acho que na Índia. A pancadaria está rolando solta, e o tal monstro está prestes a comer todo o grupo, quando o "mago" do grupo, o Doutor, descobre que o tal monstro é na verdade um menino de 10 anos que, cansado de ver o pai bêbado bater na mãe, despertou super poderes que o transformaram no tal monstro. Matou o pai e, assustado, o menino saiu correndo pela cidade, matando pessoas.

O que o Superman faria em um momento como esses? Ou o Homem Aranha? Seriam eles expostos a uma situação como essa?

Bem, o The Authority fez o que foi necessário: o mago invadiu a mente do guri, tomou a forma do pai dele, e começou a brigar com o menino, como o pai faria. O resultado? O cérebro do menino virou gelatina, e ele ficou deitado em cima de uma cama pro resto da vida.

Confesso que quando eu li esse número, fechei o programa e tentei dormir. Só tentei, não consegui. "Como eles fizeram aquilo? COMO?"

Os quadrinhos, tal qual a literatura, tal qual o cinema, tal qual a arte em geral, são produtos da época. Hoje em dia os personagens clássicos (Deus, como eu esqueci o Capitão América?)
ficam simplesmente deslocados, irreais, para o gosto do público. Por que o Homem Aranha faz tanto sucesso? Um cara frustrado sexualmente, que usa óculos de fundo de garrafa, estudante, que mora em Nova Iorque. Confessemos, essa é a situação de muitos nerds americanos, maioria esmagadora no mercado de quadrinhos. Em suma, o público se identifica, e questiona as situações nas quais os personagens são postas. Essa é a tendência atual da indústria da arte. Histórias que questionam. Que nos fazem pensar: "Caramba, e se fosse comigo?"

Bem, é isso. E eu estou produzindo uma nova história, em breve nos bites do Membrana.

Se os personagens serão "reais"? Não sei.

No final das contas, criar uma boa história fica cada vez mais difícil.

São Paulo Limpa ?

Acho que todos nós conhecemos a cidade de São Paulo. Muitos não a conhecem pessoalmente, mas já viram fotos ou já ouviram falar. E a memória que a maior parte das pessoas têm é de uma cidade cinza, sem-graça, pichada e cheia de outdoors.

Oras, os centros empresariais são cinzas e sem-graça, mas acho que em qualquer cidade é assim. A periferia também é cinza e sem-graça, como qualquer outra. Mas há parques, há áreas verdes e há bairros residenciais que são a coisa mais linda! Estive lá esse ano, posso dizer. Mas não estou aqui para defender a cidade de sua "cinzentudez" e "sem-gracice", mesmo porque não há necessidade. Toda cidade tem uma área assim.

Mas sabe os zilhões de outdoors, panfletos e etc? Pois é. Foram proibidos por lá! E eu acho legal! Não tem coisa que eu mais ache chato do que andar na rua e um moleque enfiar um panfleto na minha cara, que ele jogará no chão se eu não pegar e eu jogarei no lixo sem nem ao menos olhar, se eu pegar. É desperdício de papel e causa uma poluição grande. Assim como zilhões de outdoors causam poluição visual.

Veja bem, estou falando isso porque eles não se contentam em colocar os outdoors nos lados das ruas. Eles os colocam em cada buraco que consigam achar. É chato. Imagina, você sai de casa para dar uma caminhada matinal numa pracinha e ao invés de se deparar com plantas, com outras pessoas caminhando, levando seus cães pra passear e outras coisas triviais de caminhadas às 4h da manhã, você é logo bombardeado por propagandas e ofertas e modelos semi-nuas e extremamente maquiadas e retocadas por photoshop para anunciar uma calça jeans. Ou uma sex-shop.

Uma coisa que eu acho: as propagandas nos relógios-termômetro espalhados pela cidade deceriam permanecer. Mesmo porque eu achava uma graça sair do apartamento da minha avó e passar por vários deles, cada um com um personagem diferente de Carros piscando pra mim e me dizendo que são 8h da manhã e fazem 16 ºC.

*Estive em SP em julho, só para explicar.*

Acho bom eliminarem grande parte da poluição visual da cidade. Os publicitários que tratem de bolar propagandas mais eficientes e chamativas para jornais, revistas e televisão. De repente poderiam exibir telões dentro dos inúmeros shopping centers da cidade, fazendo propaganda das lojas (sem som, por favor). Quer lugar melhor pra dizer "compre" pras pessoas do que dentro de um centro de consumo?

Agora só falta cuidarem melhor das aparências dos prédios, praças, jardins adotados...



Para ver a matéria, clique aqui ou então aqui e procure o arquivo com o nome "sao_paulo".


Catedral da Sé, São Paulo - SP

sábado, dezembro 09, 2006

O Cravo e A Rosa

O Cravo não brigou com a Rosa. Isso é balela. De vez em quando talvez ele tenha vontade. Ela também, mas ele é um Cravo calmo e ela está conseguindo controlar seu lado explosivo. Nada de sacadas envolvidas, essas coisas são perigosas.

A parte de feridos e despetalados é verdade, mas é o inverso. Ele anda se despetalando, às vezes com besteiras. Ela está ferida, mas não deixa ninguém saber. Também não sabe explicar exatamente porquê ou onde está ferida. Coisas de mulher, é complicado.

O Cravo realmente ficou doente, mas foi depois da Rosa. A Rosa adoeceu primeiro, mas inquieta do jeito que é não quis saber de ficar em casa. O Cravo foi visitar e ela fez com que ele a levasse para passear. No passeio ela teve alterações de humor extremas que acha que ninguém notou. Além de alterações no estado de saúde, porque ela melhorou, depois piorou, aí melhorou de novo... Já viu, né? Mas fazer o quê?!? Essa Rosa não sabe ficar quieta, precisa de atenção mas precisa também que o ar circule. Não é como a Rosa Branca, aquela Rosa calma de voz suave que se desmancha ao primeiro toque.

Enfim a Rosa ficou quase boa. Aí então o Cravo ficou doente e foi a vez da Rosa visitar. O Cravo passou mal e estava semi-consciente e a Rosa, que não é adepta disso de chorar por qualquer coisa, tirou sua temperatura, fez o que podia fazer (que era únicamente verificar se ele estava confortável) e foi embora, assim o Cravo poderia descansar em paz e ela também.

Daqui a pouco ambos estarão em suas condições normais. A Rosa ferida sem saber como explicar e o Cravo despetalando-se enquanto a Rosa tenta mostrar que não precisa disso tudo. A Rosa pensando como seria se ela fosse um Girassol, só na boa, deixando o Sol guiá-la, e o Cravo olhando pra Rosa Vermelha ao seu lado, de quem ainda gostava apesar das pontas das pétalas meio queimadas, mas pensando como seria se a imaculada Rosa Branca estivesse plantada ao seu lado.

Felizmente uma nova Estação está por vir. Novas Estações costumam consertar as coisas. Vamos ver se essa trás alguma animação e alguma decisão para esse jardim estranho.




terça-feira, dezembro 05, 2006

Um Dia de Formiga

Os humanos são seres estranhos. Eles sempre deixam alguma comida disponível para nós, mas nos matam assim que nos vêem. Sendo assim, temos fugido desses seres, procurando a comida que eles nos oferecem apenas quando não estão por perto.

Uma noite dessas reuni meu batalhão e após verificar aquele cômodo que os humanos chamam de cozinha e me certificar de que estava vazio, marchamos em direção às empadas que deixaram para nós em cima da Caixa Branca. Estavamos, eu e minhas companheiras, juntando pedaços para levarmos para nossas casas quando um humano chegou.

Era um humano fêmea, penso eu, que nos viu e tentou evitar que juntássemos nossa cota de comida, fechando as empadas num pote de um material que não conseguíamos atravessar. A maioria das minhas companheiras escapou. Eu fiquei, com algumas outras.

O tal pote começou a esfriar de repente. Foi esfriando mais e mais e mais e decidimos que o melhor seria ficarmos o mais quietas possível e suspender qualquer atividade no nosso corpo. Quem sabe assim sobreviveríamos.

Passaram-se horas intermináveis. Talvez dias, quem sabe? Eu estava dormindo, não posso ter certeza de nada. De repente, o pote começou a esquentar. Esquentava cada vez mais. Várias de minhas colegas morreram no processo. O pote não estava mais fechado e pude ver que a mesma humana que nos prendera ali havia nos colocado na Caixa Branca e agora nos tirava dela. Pouco a pouco as colegas vivas foram despertando. Cada uma de nós que acordava tentava se comunicar com uma que ainda dormia. mexiamo-nos lentamente e acho que a humana notou isso.

A humana separou nosso alimento de nós e levou-o embora. Nós ficamos no pote, tentando decidir o que faríamos com as amigas mortas e como sairíamos dali. Algumas queriam ficar. Acreditavam que logo haveria alimento no pote, mas eu e outras três achamos perigoso e fomos embora. Bem a tempo, devo dizer, pois o pote foi enchido de água e presenciei a morte de quase todo o resto do batalhão naquela piscina maldita.

Devo avisar a toda a Comunidade Formiga. Esses humanos estão zombando de nós e preparando diferentes técnicas d tortura. Já viram que sobrevivemos ao frio e ao calor, ainda que com dificuldade. Daqui a pouco acharão uma forma eficaz, lenta e dolorosa para nos matar, além do afogamento. Devemos nos preparar para a batalha e atacarmos o quanto antes.