domingo, abril 22, 2007

I Haz a Kitty




"membranaseletiva() é uma função que dependendo do valor de entrada pode retornar um valor completamente absurdo( ou não)."



Correndo o risco de bancar a ridícula, quero protestar aqui a respeito da falta de um gatinho na minha casa.

Eu não posso criar um gatinho. Wando não deixa. Wando faz inferno. Wando se pendura nas janelas. Wando late e choraminga o dia todo. Wando fica dando cabeçadas e peitadas (isso existe?) na porta. Wando tenta comer o gatinho. E isso não é justo com o pobre coitado.

Eu não posso criar um gatinho. Meu irmão é alérgico a gatinhos. E a passarinhos. E a ácaros. E a tomate. E a limpeza e organização (especialmente a do banheiro). E a livros. Espera! Acho que aí é preguiça mesmo.

Eu não posso criar um gatinho. Eu não tenho tempo. Eu estudo. Eu faço curso de línguas. Eu faço curso de um bocado de coisas, pra falar a verdade. Eu saio nos fins de semana (e nos dias de semana também). Quem vai fazer companhia pro pobre gatinho? Quem vai alimentar o pobre gatinho? Quem vai fazer escândalo porque o pobre gatinho resolveu fazer suas necessidades no jardim interno, arancá-lo de lá e levá-lo correndo pro jardim? (Believe me: eu já fiz isso inúmeras vezes.)

Mas seria legal ter um gatinho. São uns bichinhos companheiros e que têm um sexto sentido poderoso que os avisam de quando precisamos deles. São uns bichinhos legais que demoram pra precisar de um banho (isso quando não se tem um Wando babando neles e enrolando eles na terra). São uns bichinhos engraçados que se enfiam em cestos, baldes, caçam mosquitos imaginários, dormem em cima da tv e escolhem colocar o rabo bem na cara do Brad Pitt (ou outro ator/atriz bonito/a de sua escolha).

Eu não posso adotar um gatinho, infelizmente. Mas recomendo que quem dispuser de tempo e não tiver um cachorro doido (ou irmão, de repente), adote.

Pelo menos um virtual eu posso ter! E lilás, ainda por cima!

sábado, abril 21, 2007

Eneida - Canto IV




"I'm a whole lot of lot of trouble, baby, since the day that I was born"






Enquanto isso, no Olimpo...

- COMO?! COMO ELE PÔDE?! Ah, aquele Netuno¹ de uma figa... pagará caro por isso! - Juno² esbravejava, andando de um lado para outro no seu quarto divino. - Pois eu lanço uma maldição: que seu nome perca tanto o prestígio que vire marca de carne de peixe!

A deusa jogou-se na cama, que só não rangeu em protesto com medo de apanhar mais. Pensou em reclamar para o sindicato das camas, ou até mesmo entrar em greve, mas achou que as outras camas de deuses não adeririam à causa. Carregada de raiva, a mulher recorreu ao seu espelho mágico, vendido por uma bruxa decadente com uma cesta de maçãs,e viu o jantar dado em honra a Enéias. Viu o olhar ardente de desejo da rainha Dido para o herói, e percebeu que ela já estava perdida. Isso era que dava ficar fazendo voto de castidade depois da morte do marido! Qualquer herói metido a besta se torna um semi-deus! Ah, mas ela ainda inventaria um artefato que pudesse satisfazer as necessidades de uma mulher. Como é que as amazonas se viravam nesses tempos de necessidade?

- Tudo bem, Vênus³. Sua trama deu frutos. Dido se apaixonou pelo seu querido filho Enéias. Satisfeita?! Mas veja bem, eu não quero que Cartago caia, como dizem os oráculos, e você não quer que seu filho passe por provações desnecessárias, certo? Que tal então nos juntarmos? Nós os casamos: Cartago permanece, e Enéias se torna rei do mesmo jeito. O que acha?

A deusa do amor sorriu com a pequena vitória. Não era rancorosa, mas não havia perdoado Juno pela enganação na Guerra de Tróia. Sim, essa mesma Juno, que agora implorava por uma aliança, havia-a enganado, pedindo seus dons em prol do casamento de outra deusa querida. Vênus, muito atenciosa, cedeu-lhe seus segredos especiais, que foram usados pela própria Juno para fazer Júpiter4 dormir enquanto ela, Minerva5 e Apolo destruíam a cidade. Ah, sim, ela ainda se vingaria... Com um andar de fazer inveja à serpente de Eva, Vênus sentou-se delicadamente na cama, como se fossem melhores amigas.

- Casá-los? Não é má idéia. mas não sei se Júpiter irá concordar...

- De Júpiter cuido eu. Acho que ainda tenho alguns daqueles cremes que você me emprestou. Mas o fato é que nós vamos juntá-los, e disso eu também cuidarei. Amanhã, na caçada, uma chuva torrencial cairá, e eles se abrigarão em uma caverna. E bem, deixar sozinhos um homem que viaja por mais de anos, e uma mulher que não toca em um homem por mais tempo ainda, você já sabe no que resulta.

- Ah, sim, se sei...

- Estamos resolvidas então?

- Claro, claro, querida... mas me deixe dar um conselho: se continuar com esse rosto franzido vai acabar criando rugas!

E a caçada de fato começou. Os homens se armavam com arcos, setas e lanças, e até mesmo os mais jovens se empolgavam. O grupo partiu na floresta e pouco tempo depois uma forte tempestade caiu no norte da África. Não que caçar na chuva fosse impossível, mas quando trovões, relâmpagos e raios caíam por toda a parte, a coisa ficava só um pouco mais complicada, compreende? Todos se abrigaram como podiam. Estrategicamente a rainha se perdeu de suas criadas, e se juntou a Enéias. Os dois encontraram uma caverna onde se abrigar da tempestade, e...

- Sabe, vocês deviam usar roupas mais escuras.

- Hã? - perguntou a rainha confusa. Púrpura era a cor do reino; o que ele esperava que ela vestisse?

- É que essa sua túnica lilás, molhada, é... bem, meio... transparente, rainha. Com todo o respeito, claro.

- E que parte do "Eu não quero que você me respeite" você ainda não entendeu? O til?

E dali em diante, Enéias passou a dormir no quarto da rainha. Na verdade, dormir era o que ele menos fazia. Afinal, não é todo dia que se encontram heróis com o vigor de semi-deuses por aí. Dido estava completamente apaixonada, para não dizer abobalhada. Já não dava tanta importância para o reino, se preocupava mais com os vestidos que usava, e era completamente ciumenta. Possessiva, egoísta e rancorosa, não suportava quando o seu marido ia se preocupar com os seus homens sobreviventes de Tróia. Oras, ele era só seu e precisava fazer o seu papel! E o nosso herói até que estava tendo uma vida feliz, apesar das crises de ciúmes da rainha, até o dia em que Mercúrio 6 resolveu aparecer, com suas sandálias douradas de asinhas e sua coroa de louros.

- Enéias, Enéias... você por acaso esqueceu do que tem que fazer?

- Hã... cuidar da construção das muralhas?

- Bem que a sua mãe disse que você não é muito esperto. É um bom homem, audacioso e feroz em batalha. Mas não se pode ter tudo, não é mesmo? Uff, bem... eu não sei se você se lembra, mas você saiu de Tróia para fundar o seu reino, sabe? E se você não fizer isso, Roma não poderá exsitir. Você tem noção do quanto isso significa, Enéias?

- Mas... a rainha, e meus homens já estão até procurando casamento, e...

- Seus homens são leais a você, como todo e qualquer soldado de contos épicos! Não seja idiota, Enéias. Você precisa sair daqui. Ordens superiores.

- Assim... o quão superiores?

- Ou você vai, ou um raio cortará a sua cabeça em duas.

- Ah, tudo bem. Esse superior. É. Ok. Diga a ele que eu partirei amanhã.

Cabisbaixo, Enéias se dirigiu ao palácio. Seria difícil explicar à rainha. Mas eram Ordens Superiores, afinal. Em maiúsculo mesmo. Dido era meio... louca, às vezes, mas era uma pessoa de bom coração. E ele estava feliz lá. Não queria ter que ficar viajando de novo, se perder no mar, ver seus homens morrendo à toa... mas eram ordens superiores. Ordens superiores. Imaginou o que poderia acontecer se resolvesse não obdecer, mas não podia. Ah, como ele queria uma garrafa de vinho agora...

- COMO ASSIM?! Como assim você vai partir? Enéias, você... você não pode! Nós... nós vamos nos casar! Você será meu rei! Meu rei! Isso não é suficiente para você?!

- Mas, querida, compreenda... não é bem minha culpa, eu tenho que ir...

- NADA DISSO! Você não tem que ir coisa nenhuma! Você vai porque você já cansou de mim, não é? Homens, homens! Por que, deusa, por que eu perdi minha sanidade justamente com esse crápula?! Você, que chegou às minhas praias cansado e com fome, e eu gentilmente te abriguei! Você, que com esse corpo escultural e essa sua cara de bocó me conquistou! Ah, claro que não! Não bastava você romper com meus votos de castidade, se aproveitar de toda a minha fortuna, e me... me... SAIA JÁ DAQUI, SEU CAFAJESTE DOS INFERNOS! Que seu povo vague sem alma no Inferno, e que você... que você... SAIA DAQUI!

Desconsolado, Enéias saiu. Rumou logo para seus homens, e mandou que se aprontassem. Partiria assim que possível, não esperaria pela manhã. Algo dentro de si dizia isso. Sim, o inverno estava começando, mas ele não tinha escolha. Pensou que louca como estava, a rainha poderia mandar seus homens matá-lo enquanto dormia, ou coisa pior: desprovi-lo de certas... marcas de nascença. Não queria que ela ficasse assim, não estava gostando nada daquele desfecho, mas nada podia fazer. Não tinha escolha.

E seus homens trabalhavam, enquanto a rainha andava de um lado para outro no seu quarto. Na cama, jazia a espada de aço troiano, dada como presente pelo filho de Vênus. Desgrenhada e com olhos como brasa, Dido mandou que acendessem uma grande pira funerária. Iria queimar todas as lembranças desse canalha. Como pôde entregar-se desse jeito? Deixou de casar com reis locais, ganhar mais influência e dominar o resto da África, e talvez o mundo, só por conta daquele abdômen espartano. Por isso que mulheres não podem ser rainhas! Voláteis que são, acabariam pondo fogo no reino! Se bem que um certo homem viria a fazer isso em Roma...

E conforme Enéias e seus homens partiam mar tempestuoso adentro, Dido, do alto da pira funerária, observava-os. Jogou as sedas, o colchão, a camisola que havia comprado para a noite de aniversário. Seus olhos ardiam, e os cabelos loiros, desgrenhados, acompanhavam o crepitar do fogo. E naquelas visões que todo moribundo em poemas épicos tem, Dido desembanhou a espada e gritou aos ventos:

- Vai, Enéias. Vá e cego com Édipo cumpre o destino que os deuses te impuseram. Mas não te esqueces, Enéias, que haverá de vir um filho desta terra, que será a ruína de Roma. E eu não só falo da eterna rivalidade que a partir de agora surgirá, mas de um homem, que passeará por entre as tuas terras como um cidadão. Tudo bem, ele vai morrer e perder a guerra, mas não é isso que vem ao caso.

E Dido até tinha pensado em desistir da idéia de se matar, mas quando tentou se virar tropeçou no vestido e não sabendo manejar a espada, acabou se matando.
______________
MITOLOGIA FOR DUMMIES

1. Netuno é o deus dos mares, irmão de Júpiter e o equivalente romano a Posídon. Foi ele quem acalmou a tempestade mandada por Juno no Canto I.
2. Juno é a rancorosa irmã-esposa de Júpiter, ciumenta e possessiva. Por vingança, ela não quer que Enéias chegue à Itália, e é a equivalente romana a Hera.
3. Vênus é a deusa do amor, amante de Marte (Ares) e esposa de Vulcano (Hefesto). Mãe de Enéias, é a equivalente romana a Afrodite.
4. Júpiter é o deus dos deuses, manda-chuva do Olimpo. Equivale a Zeus.
5. Minerva é a filha de Júpiter, representando a sabedoria, conhecimento e a guerra justa. Equivalente a Palas Atena.
6. Mercúrio é um deus mensageiro, mas também ligado ao comércio e subterfúgio. Equivale a Hermes na mitologia grega.

Créditos da Imagem: Kedralynn

terça-feira, abril 10, 2007

Manias



"Pra sempre é pra sempre"




Nem vem me dizer que você não tem uma, porque todo mundo tem! As manias alheias vão do básico roer de unhas até a loucura obcessiva do abrir e fechar a porta 6 vezes antes de sair e jamais pisar nas linhas da calçada.

Tem gente que não pára de mexer no cabelo, tem gente que não pára de mexer nos óculos, tem gente que simplesmente não pára de mexer. Precisa ter algo nas mãos o tempo todo, anda de um lado para o outro e não consegue passar mais do que 10 minutos sentados na mesma posição.

Quando criança, eu tinha uma mania de pisar ou no preto ou no branco daquelas calçadas bicolores, que não encontro com tanta freqüência em João Pessoa, mas foram bastante presentes no pouco tempo que passei em São Paulo e nas visitas à Santos. Isso atrasava um bocado a vida dos meus pais. Eles tinham que arrastar por aí uma coisinha loira desse tamanhico que se recusava a pisar na parte preta/branca da calçada (cada dia era de uma cor).

Hoje em dia eu ainda faço isso, se estiver só e com tempo disponível. Mais como uma brincadeira. Tenho umas de não pisar das rachaduras também. Às vezes é até mais seguro, porque do jeito que sou desastrada, seria capaz de prender a sandália em uma rachadura um pouco mais larga e me estabacar no chão.

Outra mania que tenho é de arrumar os ovos na geladeira. Eles ficam tão mais bonitinhos quando estão em duplas! Claro que isso não se restringe à minha geladeira. Seria muito egoísmo. Se algum dia você me disser: "Sinta-se em casa" e pedir para eu pegar algo na geladeira, por favor, me dê um minutinho, ok? Será por uma boa causa. Isso se os ovos estiverem em número par.

Não sei bem se isso é mania ou vício de linguagem, mas misturo os idiomas enquanto falou. É um "whatever" aqui, um "pour moi" ali... Já cheguei a encaixar palavras em espanhol, italiano e alemão em algumas frases, e olha que nem estudo esses idiomas! (Ai que saco que vou ser quando começar a estudá-los!... XD)

O que mais posso dizer sobre mim? Eu reclamo no trânsito, mesmo que não esteja estressada, eu me esgüelo enquanto dirijo (sim, porque a palavra "cantar" não seria tão bem aplicada, nesse caso), eu "absorvo" manias dos outros e invento novos hobbies como ninguém. Arrumo os ovos da geladeira, mas sou incapaz de arrumar meu quarto.

Mas eu sou normal, como todo doido... er... como toda pessoa que tem suas manias. E as minhas até que são bem suaves e inofensivas comparadas às dos outros.

Tem gente que tem mania de impor opinião, de mexer na gaveta de roupa íntima alheia, de ouvir música no último volume, de dormir com o controle da tv no colo e acordar bem quando outra pessoa vai mudar de canal com a frase: "Eu estou assistindo". Tem gente que adora cutucar os outros. Tem gente que fica fungando o tempo todo. Tem gente que aplica "bom ar" em cada ambiente que entra e tem quem tenha mania de limpeza.

Já ouvi milhares de vezes que "cada doido tem sua mania" e não duvido da veracidade dessa afirmação.


E você?
Qual a sua mania?
Opine!

sábado, abril 07, 2007

For Sparta! For Freedom!



"Pra sempre é pra sempre"




Como prometido aqui e aqui (e, eventualmente, aqui), cá estou eu, na frente do computador para, mais uma vez, falar de 300 de Esparta. O trabalho não é fácil, como foi dito em "This is Sparta!", faltam palavras para descrever um filme tão bem feito e bem trabalhado.

Talvez eu deva começar justamente por aí, pelo "bem feito e bem trabalhado", porque os cenários nos transportam diretamente para a Grécia antiga, sem escalas. O filme não teve cenas externas, foi todo rodado em estúdio. Li em algum canto que 10% do trabalho foi feito com um fundo verde. Os outros 90% foram feitos em fundo azul, que combinava melhor com as capas dos Espartanos. Fui assistir o filme pela primeira vez sem essa informação e, se não tivesse lido sobre isso, não desconfiaria. Imaginaria que tudo havia sido construído. (Depois ficaria pensando no trabalho que teria dado, pois duvido que exista uma locação perfeita para que essa história fosse rodada, mas isso não vem ao caso).

Outra coisa que me impressionou foi a fotografia. Cada trecho do filme é marcante. As imagens são belas e cada uma delas deve ter sido trabalhada para serem perfeitas para as fotos de divulgação. Achei interessante o efeito granulado logo no início do filme, quando Dilios está contanto a história de Leônidas (Gerard Butler) para o exército espartano, contrastando com as imagens perfeitas do resto da história.

Falando em história, não há muito o que se contar, até porque eu já falei sobre as Guerras Médicas aqui no Membrana. Há algumas alterações. Na história real, os espartanos não foram à Primeira Guerra por motivos religiosos. Nesse caso, eles foram impedidos de ir, por esses mesmos motivos, pelo oráculo deles. Como sei que ainda tem uns gatos pingados que não foram ver o filme, vou poupá-los do spoiler e não vou dizer que o oráculo foi comprado. Ops! Pelo menos foi besteira, não influi em muita coisa.

Xerxes (Rodrigo Santoro) manda mensageiros exigindo que Esparta se submeta ao seu domínio, Leônidas não aceita, tenta reunir o exército, o oráculo não deixa, ele reúne alguns homens, os melhores de Esparta e vai para as Termópilas, barrar o exército persa lá.

Aproveitando que falei em Xerxes, Rodrigo Santoro desempenha muito bem o seu papel e faz de Xerxes um Rei-Deus convincente. E não, ele não foi dublado. Assim como teve seu tamanho praticamente duplicado, teve a voz alterada por computador para ficar mais condizente com o personagem. Eu notei isso ao notar um deslize mínimo de pronúncia e fui atrás de informações.

Devo também elogiar aqui a maquiagem, pois cada uma das criaturas horríveis, dos quase-seres-mitológicos (e seres mitológicos, se você prestar atenção no harém de Xerxes), dos doentes e deformados ficou perfeito.

Enfim, temos uma super-produção, o primeiro blockbuster de 2007, que impressiona, fascina e empolga. Acho que empolgaria até aquelas mocinhas mais seletivas, que não assistem a filmes de ação (sim, eu não posso deixar de falar sobre os guerreiros espartanos e modelos da Calvin Klein nas horas vagas). Não li os quadrinhos de Frank Miller (nem entrei no mérito por causa do texto anterior), mas ouvi várias e várias vezes que foi a melhor adaptação de qualquer coisa para o cinema. Ouvi inclusive que chegou a ficar melhor que o original. Não posso dar uma opinião concreta a esse respeito, mas eu acredito no que dizem.

****

Como prometido, vou falar brevemente da manifestação do Irã contra o filme.

O filme foi lançado num momento em que o Irã está sendo criticado por seus planos nuclerares e tomaram o filme como "anti-iraniano". Ele foi classificado como "um comportamento hostil, resultado de uma guerra psicológica e cultural".

Segundo políticos e blogueiros iraniados, seus ancestrais estão sendo difamados pelo filme. Eles acreditam que o filme transmite uma imagem ofensiva e fraudulenta e afirmam que a Pérsia (Oh, yeah: a Pérsia ficava aonde hoje é o Irã. Got it?) era o império mais poderoso e civilizado do mundo.

Aparentemente virou moda achar ruim que Hollywood produza um filme que "fale mal" de qualquer país, como se de lá também não saíssem filmes que também trazem acontecimentos negativos dentro dos Estados Unidos e protagonizados por estadunidenses.

Se a Pérsia era um império vasto, devia isso às guerras, pois era assim que se conquistavam - e ainda se conquistam - territórios. É com mortes, derramamento de sangue, um país/povo/nação sendo derrotado e outro saindo vitorioso.

Talvez o filme não tenha sido lançado no melhor dos momentos para o Irã, mas acho que já está na hora de reconhecermos que é apenas ficção, não uma propaganda anti-qualquer-coisa.

This is Sparta!
(And a damn nice spartan)


quinta-feira, abril 05, 2007

Eneida - Cantos II e III




"Preparem-se para a glória!"




E aqui segue a tragetória do herói fundador de Roma. Depois de vagar longa e penosamente por uma tempestade mandada por Juno (ou eu poderia chamá-la de Hera? Acho que não faz muita diferença...), aporta nas praias de Cartago e segue para encontrar a raina Dido. Dido, como toda rainha que se preze, convida o herói para jantar. Mal sabe ela da artimanha perparadas por Afrod... hã, Vênus: escondendo o pequeno Ascânio, filho de Enéias, ela pede que Cupido tome a forma dele e induza no peito da rainha furioso amor.

Enéias suspira, toma mais um bom gole do vinho africano, e a pedido da rainha, começa a contar a história da queda de Tróia.

- Um dia estávamos lutando e no outro dia *ic* PUF! Nada! Os gregos *insira aqui algum xingamento proibido para o horário* simplesmente sumiram! De primeiro achamos que... *ic* era algum tipo de estratégia idiota... mas bem, não é como se eles tivessem muito para onde ir, afinal. Mas o mais estranho era um *ic* cavalo! De madeira, enorme, maior até mesmo que as nossas muralhas! - gesticulava o herói exageradamente, enquanto tomava mais vinho. No fundo, um aedo (aquele sujeito que ficava cantando histórias, acompanhado de uma harpa, e normalmente era cego) cochichou com uma das escravas:

- Depois eu quem invento histórias...

Enéias fingiu que não ouviu, e continuou sua narrativa. Falou que um sacerdote de Posídon tentou convencer o rei a queimar o cavalo, que não se podia confiar nos presentes dos gregos. Mas os troianos, cegos que estavam pelo fim da guerra, não lhe deram ouvidos, e quando uma cobra "que era desse tamanho, juu*ic*uuro!" sufocou e devorou o sacerdote, acharam por melhor deixar o cavalo entrar.

E o resto do dia foi somente festa: a guerra de dez anos, narrada em mais de 8 mil versos por aí, havia finalmente acabado! À noite, enquanto todos dormiam o sono dos justos, os soldados gregos escondidos no cavalo começaram a chacina.

- E bem*ic*, eu achei que havia sido algo pesado que eu comi *ic* antes de dormir, mas naquela noite eu tive um sonho. Heitor, filho de... de... de... como era mesmo o nome dele, do rei de Tróia... bem não importa. Ele era um bom homem. Heitor. Mas o rei também era. Onde eu estava? Ah, sim, eu sonhei com Heitor. Sim, sim. Foi um sonho estranho, na época. Ele disse que eu saísse correndo, pegasse os Penates de Tróia, e fugisse, que um reino me aguardava. Um bom reino, com água, terras férteis e todas essas coisas que se diz em profecias.

- E claro, eu acordei, e vi a cidade queimado. E o que eu fiz?

- Fugiu com sua comitiva? - perguntou um figurante qualquer.

- Claro *ic* que não! Eu sou um guerreiro, oras! Peguei minhas armas! Me juntei *ic* a um punhado de homens e se fosse para morrer, que morresse como homem! Até que resolvemos usar as armaduras dos gregos, matando a maior quantidade deles disfarçados. E essa até que foi uma boa idéia, até o momento em que os troianos passaram a nos atacar. Tivemos que fugir para o palácio do rei... Príamo! O nome dele era Príamo! E foi onde eu o vi morrer pelas mãos do filho de Aquiles. Era um bom homem, o rei. E Aquiles também, apesar de meio esquentado.

- E eis que eu vi Helena: a grande *insira aqui um xingamento bem forte* que causou toda a guerra. Por um momento eu fiquei cego. Sim, eu morreria, enquanto ela iria só jogar um charminho para o marido chifrudo dela e sair ilesa. Ah, não, não. Eu não poderia deixar aquilo passar. Quando levantei a minha espada, minha divina mãe apareceu. Me lembro até hoje das palavras sábias e carinhosas dela.

- Olha aqui, seu mané! Você acha que isso é trabalho desses mortais? Não, meu filho desprovido de inteligência. São os deuses, os deuses que estão fazendo isso. Deixe essa vadia pra lá e vá cuidar da sua família, como um homem de verdade deveria fazer! Pegue seu pai, os Penates de Tróia e vá embora! Entendeu ou quer que eu desenhe?

-
Bem, então eu fugi. Carregando meu pai nas costas, e ele segurando os Penates, e meu filho pela mão. Só que no meio do caminho eu meio que perdi a minha esposa... como era mesmo o nome dela? Bem, ela morreu, não importa. E bem, daí juntei os sobreviventes e comecei a viagem.

- E como foi a viagem? - perguntou a rainha, que já sentia uma coisa estranha no peito quando ouvia o herói falar. Tanta coragem, tantas provações, braços tão fortes, pernas tão bem trabalhadas, e o tanquinho, nem se fala...

- A viagem foi um inferno na terra. No mar, *ic* quer dizer. Na terra e no mar, na verdade. Ulisses? Rá! Ele *ic* deveria agradecer por ter tido uma viagem melhor que a minha! Ficou anos e anos com uma deusa imortal e ainda queria voltar para Ítaca... *ic* cara burro. Vi vários lugares, enfrentei monstros terríveis, ouvi *ic* oráculos dos mais estranhos... mas nunca me preparei para *ic* a morte do meu pai. Ah, meu pai. Era um bom homem, ele também. Como era mesmo o nome dele...? Bem, depois de queimá-lo e fazer toda aquela frescura de ritual fúnebre, segui o caminho. Mas pegamos uma tempestade grande no meio do caminho e agora estamos aqui. Agora, se me permite, rainha... *ic* eu preciso descansar da viagem...

E assim Enéias terminou sua história, se levantou meio trôpego e foi dormir.

quarta-feira, abril 04, 2007

Vendo a Noite com Outros Olhos



"Pra sempre é pra sempre"




Hoje vi uma poesia no pôr-do-sol. Um poema trágico, que ninguém mais viu. Os versos não escritos começavam rubros sobre minha cabeça e iam perdendo as forças em direção ao horizonte, até que terminavam num amarelo desfalecido.

Me pergunto quem - ou o quê - terá morrido. Se apenas o sol, para nascer de novo, se apenas o dia ou se alguma vida teria realmente se esvaído.

A rua de terra à minha frente se mostra completamente diferente, porém igual ao que é todo dia. A luz turva forma uma cortina à minha frente. Esses caminhos que eu percorro todo dia me parecem antigos, muito antigos para uma cidade que não conta 500 anos.

Pouco depois, nasce a Lua. Cheia, soberba, num trono de nuvens fofas e coroada pela própria luz. Toda a graça de uma deusa antiga - e todo o seu mistério.

A lua-deusa se ergue do mar, eu vislumbro por entre os prédios, que parecem tão mal encaixados na cidade. Esses prédios, essas casas, o asfalto mais adiante, os carros que teimam em correr as ruas, com seus ruídos, faróis e buzinas. Tudo isso parece descontextualizado. Por algum motivo eles não deveriam estar ali. A cidade não deveria estar ali. Apenas a praia parece estar no lugar certo.

A luz sobrenatural da Lua parece exigir a extinção da cidade, ao menos por alguns momentos. Páro de ouvi-la, de vê-la. Só há a praia, a luminosidade lunar e eu; que nem lembro de ter caminhado até a areia. Sento-me e ouço a rebentação das ondas. Tão calmas e relaxantes e ainda assim tão furiosas e dominadoras.

A noite parece me lembrar de tudo aquilo que li um dia, que estudei em aulas de história, que sei de culturas antigas. Parece me falar de como era soberana e temida. De como era venerada. Me conta das danças sagradas, oferendas e sacrifícios. Me conta das suas sacerdotisas. Me leva para o seu tempo.

Com o passar do tempo, a Lua se afasta da terra, se afasta de mim. Diminui e se esconde por entre as nuvens, quase como em protesto. Havia perdido suas oferendas, suas danças, seus sacrificios e a devoção antes a ela devotada. Deixa de ser uma Deusa e volta a ser um simples satélite. Deixa de ser sagrada, é só mais um fruto do acaso. Um corpo celeste girando em torno de outro. E eu sou tragada devolta a esse tempo.

E o sol nasce. Uma outra poesia sendo escrita. Um outro dia nascendo. Os raios como lanças a rasgar o véu da noite, vindo do mesmo mar onde a lua havia nascido. Uma poesia delicada como bruma, que se desfaz sob o calor do próprio poeta.

terça-feira, abril 03, 2007

Não deixe ninguém derrubar você

É incrível como certas pessoas parecem ter nascido pra fazerem o mal. Pessoas carregadas de amargura, despeitadas, frias, impiedosas, que transbordam inveja com um simples olhar.
Sou adepta daquela corrente que diz: se não tem nada bom pra dizer, fique calado. E mais, acho que sempre devemos tentar enxergar na pessoa o que ela tem de melhor.

Se não é a mais linda para mim (sabe-se que beleza é algo extremamente subjetivo), vou louvar suas qualidades intelectuais, seu bom humor. Se é dona de cabelos lindos, porque olhar para o nariz que talvez destoe do rosto? Se escreve maravilhosamente, porque comentar que não tem jeito para esportes? Se é a pessoa mais engraçada que você conhece, porque criticar a dificuldade que ela tem com números? Se tem um rosto lindo, porque não apenas elogiá-lo no lugar de acrescentar um “mas ele é tão burrinho” no final da frase? Cada pessoa tem seu potencial. Ninguém pode ser bom em tudo.

Você já viu alguém super belo, inteligente, excelente em esportes, que tem uma genética abençoada podendo comer muitas porcarias sem engordar, com um senso de humor aguçado, educado, com uma família estruturada, fiel, bom caráter, com dotes musicais e defensor da natureza? Que graça teria ser assim? O que motivaria tal pessoa a acordar e pensar em fazer algo melhor, superar uma dificuldade, vencer um obstáculo?

É incrível ver nosso nome numa lista de aprovação de um concurso disputado, mas o gosto é maior quando para isto foi feito um esforço, quando houve uma dedicação, quando trabalhamos para isto e conquistamos tal vitória.

Uma garota que suou na academia e disse não algumas vezes a um doce “desnecessário” vestirá muito mais feliz uma blusinha mais curta do que aquela pessoa que sempre foi magra e nenhum esforço fez para tal.

Uma pessoa que não tem a melhor coordenação motora, mas de tanto treinar faz um lindo solo de guitarra com certeza vibrará mais do que aqueles que têm “o dom”.
Não quero desmerecer as pessoas que conseguem certas coisas de forma mais fácil, ao contrário, quero apenas dizer que todos temos pontos mais fortes e pontos mais fracos, que sempre somos bons em algumas coisas e que teremos que batalhar duro para sermos bons em outras. Eis uma das graças da vida.

Comecei o texto falando sobre pessoas que só enxergam os defeitos alheios, que só nos aparecem com críticas...o que aconselho é: não deixe tais pessoas ofuscarem seu brilho próprio, não deixe ninguém olhar pra você e dizer que você não é capaz de fazer algo.
Também não seja uma daquelas pessoas do início do texto, tente enxergar o que os outros têm de melhor, não as critique desmedidamente e sem propósitos, ajude-as a levantar e...não deixe ninguém derrubar você.


* Dedicado a uma pessoa especial demais pra mim. Acho que uma das mais especiais da minha vida.