terça-feira, agosto 15, 2006

A Saga de um Pinto

Ele era um pinto, sim, mas não um pinto qualquer. Ele era um pinto americano. Ele não piava em inglês, eu acho. Não entendo muito do pio de um pinto, mas acho que qualquer pinto do mundo seria capaz de entendê-lo. Acontece que aquele pinto não conhecia pintos de outros cantos, apesar de viver na cosmopolita cidade de Nova Iorque.

Você deve estar se perguntando o que diabos um pinto está fazendo em Nova Iorque, não é mesmo? Isso não tem relevância alguma, mas vou satisfazer sua curiosidade.

Havia essa garota que conseguiu uma bolsa para estudar em uma universidade dos Estados Unidos. Pulando etapas, ela se formou com mérito, conseguiu um bom emprego, que lhe deu uma certa estabilidade financeira e conforto e escreveu um livro, o que lhe rendeu uma conta gorda no banco. E daí que a garota era brasileira? Os americanos a amavam do mesmo jeito. Ela estava na moda. Essa garota tinha uma avó, cujo marido faleceu e a família resolveu que ela iria morar nos EUA com a netinha preferida. A garota não teve escolha... Já que a senhora ganhara um visto para permanecer naquele país, apesar de todas as probabilidades em contrário, era melhor que ela ficasse, com todo o conforto possível.

A avó morou a vida toda em fazenda e resolveu que iria porque iria criar galinhas no quintal. E assim fez. E um dos pintinhos fugiu e está passeando pelas ruas da cidade. Satisfeito? Posso contar o que aconteceu com o pinto? Ok, então.

O pinto passou pelo gradeado, achou uma brecha para a rua e lá se foi. Não muito longe dali, havia um restaurante chinês e, atrás do mesmo, um beco. Nesse beco, havia um lixeiro, daqueles enormes e retangulares, cheio de restos de chop suey.

Bom, como era de se esperar, o pinto achou o tal lixeiro. Como ele pulou para dentro é o menor dos problemas. Uma vez lá, ele estava feliz da vida. Jogava pedaços de carne e pimentão para cima, batia as asinhas... Dava quase para vê-lo sorrir. Comia, ciscava e piava e comia mais um pouco. Sua felicidade durou pouco, no entanto.

Não, não foi um gato que passou por lá. Na verdade, havia um gato no restaurante. O dono o adotara por acreditar que os gatos trazem sorte e prosperidade a um estabelecimento comercial. Se trazia ou não, a história é outra. Mas ele com certeza estava muito bem alimentado e dormia serenamente no chão da cozinha, tanto que nem ouviu os piados do infeliz pinto.

Passados quinze minutos desde que o pinto chegara ao beco, passou o caminhão de coleta de lixo e virou aquela lata gigante, com pinto e tudo, para juntá-los ao resto dos dejetos em sua traseira.

“Pobre pintinho, tão feliz e tão amarelinho” você deve estar pensando. Em primeiro lugar, eu nunca disse que o pinto era amarelo, mas se é nisso que você crê, muito bem. Temos um pinto amarelo soterrado pelo lixo. Agora, pense bem. Pinto é um bichinho burro, ele não imaginava que estava sendo tragado para a morte. Ele estava saltitante no lixo e no lixo morreu, de papo cheio. Se pensarmos bem, podemos até dizer que ele morreu feliz. Tão feliz quanto... quanto um pinto no lixo! Oras! Há dúvidas a respeito?

2 comentários:

Anônimo disse...

Pobre pinto "amarelo"...mas eu torcia para que fosse daqueles cor-de-rosa de feira...

Fernanda Eggers disse...

Huahauhauahuahau!!!

Vc pode imaginar ele cor-de-rosa de feira, eu deixo! =D