quinta-feira, dezembro 13, 2007

Gente

Natal é um problema, especialmente porque eu sempre acabo precisando ir ao shopping e ele normalmente está cheio. E eu não gosto de lugares cheios. Tenho um sério problema com gente. Não com pessoas, veja bem. Das pessoas eu até gosto. Ou não. Me reservo o direito de não gostar, ter asco, ignorar ou só ter "abuso" de algumas pessoas. De outras eu gosto, eu amo, eu me dou bem... Mas esse não é o foco dessa crônica. O tema aqui é outro. Depois eu explico a diferença entre pessoas e gente.

Gente que lota os shoppings e afins, gente que não anda, se arrasta, e não sai da sua frente. Gente que acha ruim quando são "ultrapassadas" por outra pessoa. Gente que não tem objetivo claro ali e não entende que há gente que não apenas tem objetivo bem definido como está com pressa.

Gente também cria umas modas estranhas. O motivo de eu estar no shopping à duas semanas do Natal é a necessidade de comprar um short. Não um short qualquer. Precisava ser um short preto, de malha e pequeno. Claro que não pretendo usar isso no meio da rua ou para malhar nem nada assim. É justamente para não ficar nua sob a roupa de dança do festival da semana que vem. E eu sei que tem gente que usa short assim, portanto tem que ter para vender em algum loja.

Acontece que a moda agora é outra e eu tinha esquecido Entrei numa loja, dessas grandes que vendem roupas para todas as idades e quase todas as ocasiões e, bem, não achei o danado do short. Não se usa mais short assim. A moda agora é usar calça de malha com um short folgado por cima, daqueles que lembram o dos boxeadores. Eu até acho a idéia boa, dependendo do short e da calça, mas não nesse momento.

Mudei de loja e, incrivelmente, achei o short. E mais incrivelmente ainda, só tinha 2 pessoas na minha frente na fila dos caixas. Ao sair do shopping vi que levara apenas 20 minutos para cumprir minha obrigação. E nesse momento eu até gosto de gente. Eles simplesmente não estavam lá para atrapalhar a minha vida.

O Castelo Animado - Resenha

Eu sei que eu havia prometido falar de Harry Potter e as Relíquias da Morte (talvez não para vocês, mas eu até já havida começado a escrever), até que eu li algo muito melhor: com muito mais estilo, personagens mais interessantes e costumes inexplicáveis que ninguém entende.

Talvez o nome seja familiar: sim, é aquele longa-metragem animado, dirigido por Hayao Miyazaki, que ficou em exibição nos cinemas obscuros de João Pessoa em horários mais obscuros ainda. Se o movie ainda não é familiar, talvez nomes como Princesa Mononoke e A Viagem de Chihiro talvez inflamem mais a memória de alguns leitores. Se não, paciência. Continue lendo para chegar na parte da resenha.

O fato é que o filme é baseado no livro de mesmo nome, da escritora inglesa Diana Wynne Jones (Howl's Moving Castle, publicado aqui pela Record, 318 páginas). E conta a história da jovem Sophie, que destinada ao fracasso por ser a filha mais velha, acaba sendo amaldiçoada pela Bruxa das Terras Desoladas, transformando-se em uma velha de 60 anos. Sem rumo, resolve buscar seu destino e acaba indo de encontro ao perverso mago Howl. Tem-se início assim uma louca jornada dentro do Castelo Animado, onde Sophie tenta livrar-se do feitiço lançado sobre si, ao tempo que cuida da limpeza do castelo e das roupas de Howl, que descobre não ser um mago tão malvado assim.

A linguagem é simples, e cada capítulo é introduzido por "Naquele em que Sophie faz isso, isso e aquilo", o que além de prender mais o leitor, pois dá uma idéia do que está para acontecer, sempre dá aquela sensação de "Ah, não, só mais um capítulo...". Nessa história, fui dormir de duas da manhã noite passada. Só depois que eu terminei o livro.

Se você gosta de histórias com magias, bruxas, magos e personagens charmosos e estilosos (e um tanto chiliquentos), estou certa de que irá adorar O Castelo Animado. Principalmente o final.












Capas da edição brasileira e da edição em inglês, respectivamente. Prefiro a nossa. :)

quarta-feira, dezembro 12, 2007

"Old loves they die hard...

... Old lies they die harder."

Bem, elas podem demorar a morrer, mas um dia elas morrem. Há mais ou menos dois meses, ouvi no carro de um amigo meu o álbum novo da banda de metal finlandesa Nightwish. E eu fico feliz em poder atestar que o Nightwish, diferente do que eu cheguei a pensar, não "perdeu as penas" com o que aconteceu. Pode ser que quem não conheça não entenda patavinas desse post, mas vamos assim mesmo.

Escutei o álbum, admito, com um pouco de preconceito. Afinal, há alguns meses atrás, a "diva" Tarja Turunen havia saído da banda - e ela sendo metida a besta ou não, tem uma voz belíssima. Continuando, ouvi o álbum da primeira vez e estranhei um pouco: o som continuou de qualidade, um pouco mais agressivo talvez, mas muito bom. E tinha a vocalista nova.

A vocalista nova... Anette Olzon. Suíça, só conheceu a banda depois da demissão de Tarja. Cheguei em casa, baixei o álbum Dark Passion Play (não façam isso em casa, crianças :P) e ouvi-o novamente. Perdoem-me os fãs de Tarja, mas o Nightwish vai muito bem sem a diva do metal. Sem as amarras do canto pseudo-lírico da antiga vocal, a banda se esforçou para compor um disco mais variado e com muito mais metal. \,,/ O som, além de mais agressivo, está bem mais trabalhado. Parece que a musa fantasmagórica parou de assombrar a banda.

E eu, leiga como sou, continueu ouvindo as músicas com a novíssima Anette, até saber que o álbum solo da filandesa Tarja havia sido lançado desde meados de novembro! Como eu sou desatenta... baixei o tal My Winter Storm, título que, segundo a cantora, diz respeito a sua situação. E bem, ela disse que encarou a tempestade de sua vida com bons olhos, pois trouxe uma nova fase e blá-blá-blá. Coisa que eu duvido.

A voz dela está excelente, sem dúvida, mas eu quase dormi na metade do cd. Acho que as novas músicas cantadas por Tarja Turunen servem muito bem como pano de fundo para uma sessão de terapia, ou para aquelas dinâmicas realizadas por profissionais de Recursos Humanos que acham que entendem algo. Seus fãs podem ficar com seus vocais líricos. Eu prefiro uma cantora que além de cantar bem possa andar no palco.






















E claro, que não se vista como uma senhora de 65 anos. Vejam e comparem. :)

terça-feira, dezembro 11, 2007

Um Pensamento que Puxa Outro, que puxa outro, que puxa outro...

Para a cadeira de pesquisa da universidade, fomos hoje à biblioteca ver a estrutura de monografias, teses e afins. No meio delas havia uma sobre traição. Beleza. Era de um aluno de Ciências Sociais e falava sobre o corno. Tinha pesquisa empírica, realizada com os colegas desse aluno, tinha extratos da internet (inclusive uns 30 dessa lista), tudo o que se pode imaginar.

Vou pegar o trabalho para ler no fim de semana. Não apenas para rir, mas pra ver se tem algo sério. Afinal, o cara concluiu o curso, se formou, deve estar fazendo alguma coisa por aí (o Google me informará quando eu tiver o nome dele, que esqueci). Deve ter algo sério no trabalho!


O caso é que eu estava pensando nisso e me veio uma música dos Mamonas Assassinas na cabeça:

Ser corno ou não ser
Eis a minha indagação
Sem você vivo sofrendo
Pelos bares bebendo
Arrumando confusão


(Relembrando a infância geral!)

Aí comecei a viajar nas músicas da banda e, sem querer, estava pensando em outras pessoas cantando as músicas.

Caetano Veloso cantando Pelados em Santos.
Falcão ou ou brega qualquer cantando Bois Don't Cry (a música citada acima).
Uma banda de hardcore tocando 1406 e Cabeça de Bagre II
Uma banda de metal cantando "de verdade" Débil Metal (Talvez o Léuzinho, combina com ele...) [interna]
Banda de pagode genérica tocando Lá Vem o Alemão. Inclusive até parece que os Mamonas pegaram uma letra que deveria ir para uma banda de pagode e nem adaptaram.
Sábado de Sol por uma banda de reagge também seria legal.
Sabão Crá-Crá tem aquele jeito de música de roda (des)educativa. Pelo menos ensina a ordem das vogais.

Aparentemente não houve um estilo que escapasse às piadas e paródias do grupo. Ainda bem.

"Ligua pra minha chave! Não sei aonde ela está!"

Ontem eu perdi a chave do meu carro por cinco minutos. Carro cheio de sacolas, a chave escorregou e ficou ali pelo meio e eu procurando feito louca. Os poucos minutos de estresse já valeram pelo ano todo.

Nessa eu fiquei pensando numa daquelas coisas que ninguém jamais inventou: um chaveirou ou chave que tivesse um número. Não sei se daria certo, se têm como fazer um troço desses, mas que a idéia me parece boa, isso parece!

Imagina: a chave solta no meio das sacolas. Ao invés de abrir uma por uma, eu poderia simplesmente sacar o celular da bolsa e ligar para o número da minha chave, que piscaria e apitaria, facilitando assim que eu a encontrasse.

Isso já teria poupado muita gente de arrancar os cabelos!

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Scary Skinny - not a movie.

Muitas são as reportagens em revistas, jornais e em programas de televisão acerca da necessidade de se combater a tal ditadura da magreza, entretanto o tão batido e rabatido assunto fica ofuscado no primeiro comercial após o programa ou na página seguinte à reportagem de revista.


São elas e eles, por todos os lados, em todos os ramos da mídia, altos, magros, tonificados, saudáveis e plásticos, ilustrando de capas de revista à propagandas de canos d'água.

Você não vê uma pessoa "comum" nem em propaganda de margarina, pois a família que se senta à mesa exibe cabelos sedosos ao extremo, sorrrisos brancos que se aproveitam nos comerciais de creme dental, além de serem magros e até atléticos, como se assim pudessem ser comendo margarina todos os dias com pão francês.


As roupas são desenhadas para mulheres altas, magras e sem quadril, e o mais interessante, são assim até as desenhadas aqui no Brasil. A rima é tão infame como a situação em si, visto que as mulheres curvilínias do nosso país são famosas em todo mundo exatamente por isso.

Então, tocar no assunto da ditadura da magreza e rebatê-lo sem nada mais fazer torna-se meio vazio para mim, visto que acredito no poder da mídia e acho que se de fato quisessem diminuir este império scary skinny começariam a colocar nos comerciais aquela menina bonita e saudável, porém com o padrão mais "comum", não mulheres de 1,80 que pesam assustadores 50 e poucos quilos...


Acredito que seria até um bom marketing, pois vejam bem, fazer Adriana Lima parecer bonita numa lingerie Victoria's Secret não é lá grande coisa, aliás, acho que numa calcinha de camelô ela ficaria bem, mas fazer aquela mulher "normal" parecer uma deusa...isso sim, para mim, mostraria o poder da tal lingerie. Além do que é meio frustante ver uma calça exposta numa modelo com as pernas da Ana Hickman ou uma blusa numa modelo com a barriga da Gisele.


Com a ditadura da magreza veio também a busca excessiva pela perfeição. Como já disse, os cabelos que são exibidos na mídia têm uma perfeição computadorizada, a pele é quase a de uma animação gráfica, os dentes eternamente brancos, perfeitamente alinhados.


Mulheres hoje fazem cirugias até nas panturrilhas, antes só a barriga incomodava. Tem aplicação de botox pra todo lugar e as pessoas vão ficando cada vez mais parecidas e com as mesmas expressões, como moldadas na mesma forma. Me lembram uma certa boneca loira, alta, com cintura de poucos cm e um namorado sarado apelidado de Ken.


Não sou contra rituais de beleza, aliás sou bem vaidosa, entretanto acredito que cada um tem perfil próprio, cada um tem um tipo de beleza que pode ser realçada. Todos podemos melhorar e se cuidar faz um bem danado pra auto-estima, mas não podemos fazer da busca por um ideal estético quase inatingível o nosso objetivo de vida, é meio vazio, não?

Melhor é ser saudável, praticar esportes, rir muito, comer uma fruta, mas não ter medo de um chocolate, escovar o cabelo ou enrolá-lo em cachos, cuidar da pele, mas assumir algumas sardinhas e rugas, se sentir bonita num número diferente do 36, não ter medo de envelhecer, mas usar alguns recursos da ciência em favor próprio, sem obsessões...é bem mais "classudo", não?



domingo, dezembro 09, 2007

Na Farmácia

23h25 aproximadamente. Noite de domingo. Vêem-se poucos carros na rua. Imagino que, como eu, estão voltando para casa depois de um fim-de-semana feliz, pouco ansiando pelo retorno às obrigações da semana. Antes de ir para casa me preparar para a fatídica segunda feira, resolvi parar na farmácia e comprar um item ou outro do qual estava precisando e observei algumas coisas que, talvez, valham uma pequena atualização do blog.

***


As farmácias de hoje são praticamente lojas de conveniência. Ou talvez até melhores. Em qual loja de conveniências você entra para comprar um pacote de absorventes, por exemplo, e encontra, logo do lado, um pacote de calcinhas de algodão sem costura? E qual mulher vai resistir a um item desses? Calcinha sem costura é a coisa mas confortável do mundo e, venhamos e convenhamos, mulher está sempre precisando de calcinha por esse ou aquele motivo.

Além do mais, isso estimula a dar uma voltinha na loja, com calma, ver o que mais tem. E olhe que tem coisa! De desodorante à perfume. De band-aids à protetores auriculares e até mesmo rolos de EVA. Mas protetor solar labial tá em falta, né?

***

Muito solícitos os atendentes da farmácia, sempre perguntando se queremos ajuda para algo. Havia uma mulher na seção de camisinhas e dois aproximaram-se com a famosa: "Quer ajuda?" (Não ao mesmo tempo, pelo menos isso).

Quando um homem estava lá, comparando marcas e preços, nenhum dos dois atendentes se aproximou. E se ele quisesse saber se a camisinha extra-fina era também extra-lubrificada ou era melhor levar algo mais para acompanhar?

***

Fugindo da farmácia e entrando no mundo das camisas-de-vênus (Õ.o), será que uma camisinha "dry" é realmente uma boa opção? Aliás, será que alguém REALMENTE encara isso como opção?!

Fui pesquisar à respeito e vi que essas camisinhas são utilizadas para exames médicos. Ah tá. Mas a lubrificação externa ainda é necessária.

Não tem ninguém me pagando para eu continuar explicando função de cada tipo de camisinha, então deixo os sites para que vocês confiram por si sós.

Jontex Bastante diversificado
Blowtex O mais cheio de coisas. É também a marca com maior variedade.
Inal Produz as camisinhas Microtex, Lovetex e Olla.

***

Quando entrei, a fila era pequena. Dois caixas funcionando, duas pessoas numa fila, uma noutra. Ótimo! Posso fazer minhas comprinhas noturnas sem grandes problemas ou transtornos. Ao me dirigir ao caixa vejo 6 pessoas numa fila e 8 noutra.

O que leva alguém a sair do conforto do seu lar e ir para uma farmácia nos últimos minutos de um domingo?

Ah, é. Provavelmente estão ali pelo mesmo motivo que eu. Quem sabe nem chegaram a ver o tal conforto do lar ainda. Bem, olho para uma fila. Dois homens, um velho, uma senhora cheia de coisas, outro velho... Na outra havia uma senhora cheeeeia de coisas sendo atendida, um homem, uma mulher, outro homem, outra mulher... Algo me diz que é melhor ficar na segunda fila e para lá me dirijo, enquanto a primeira aumenta.

Quando vejo, os dois homens à minha frente estão com fraldas e mais uma ou duas coisas. As mulheres carregam apenas suas bolsas. Ótimo! Escolhi a fila certa! Fila de casal é ótimo, quando se nota que apenas uma pessoa está na fila "de verdade", a outra está apenas sendo solidária e fazendo companhia. Principalmente porque poucas pessoas notam que a fila de casal é uma fila de casal e o número de compradores pode ser reduzido pela metade.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Imposto sobre Beleza


Imposto sobre beleza
por Mônica Vitória

Um escritor argentino está defendendo uma idéia polêmica e curiosa: quer que as pessoas consideradas muito bonitas paguem imposto! Segundo Gonzalo Otálora, a cobrança compensaria o sofrimento daqueles que não foram contemplados pela natureza com um belo semblante ou um corpo escultural.

O escritor afirma que as pessoas comumente chamadas de "feias" não usufruem dos mesmos direitos que os mais bonitos e que são prejudicadas pela sociedade. A campanha de Otálora critica o enorme culto à beleza que há na Argentina. Seu livro, intitulado "Feio", relata os preconceitos dos quais ele mesmo foi vítima durante sua vida.

Imaginem se a moda pega no Brasil... Um domingo de sol na praia seria o suficiente para denunciar os sonegadores!

Dizem que beleza não põe mesa, mas se dependesse dessa campanha, ela ia esvaziar os bolsos de muita gente...

Notícia de O Globo.


Pois é. Copiei essa matéria na íntegra do site Bolsa de Mulher (que eu indico, inclusive) e li o "original" do Globo e, sinceramente, achei um absurdo. O autor diz que sofreu preonceitos por ser feio e acredita que quem é bonito deveria pagar imposto.

Aí entram os questionamentos: o que é ser bonito? Como se pode classificar alguém como bonito ou não, se os gostos são os mais diversos possíveis? Para que tal imposto pudesse ser aplicado, deveria ser criado um padrão, que não seria justo. Principalmente porque teria que ser baseado no gosto de alguém, que já é diferente do de outra pessoa. O que você acha bonito eu posso não achar, e vice-versa.

As pessoas consideradas bonitas têm alguma culpa disso? Ou tem alguma culpa sobre a feiúra alheia? Será que não é simplesmente uma questão de auto-estima? Tenho uma amiga que é baixinha, 1,55m. Cabelos loiros cacheados, olhos castanhos e tem seios pequenos. O padrão de beleza imposto pela mídia não é esse, é o de mulheres altas, magérrimas, com seios grandes (é a moda da vez), cabelos lisos e que mudam de cor a cada estação. No entanto essa minha amiga é feliz da vida. Vai à academia e trabalha seus pontos fortes, cuida muito bem dos cachinhos dela e não conheço um cara que não diga que ela é linda ou, no mínimo, muito bonita. Tenho amigos que se encantaram por uma conhecida minha que está acima do peso - condição génetica. Ela se cuida, é elegante, faz academia, dança, sabe o que usar para valorizar suas qualidades. No entanto tem outra pessoa que conheço que tinha um lindo cabelo castanho e pintou, agora está todo ressecado; tem um formato de rosto muito bonito, mas que está desvalorizado por causa do cabelo e pelo excesso de peso, que também tirou atributos do corpo dela.


Quem não nasceu igual à Ana Hickman não precia enfiar pinos entre os ossos para ficar com 1,80m de altura, deixar de comer para deixar os ossos à mostra, gastar fortunas com lentes de contato azul e rios de dinheiro (sem falar no tempo) para manter o cabelo lindo, liso e loiro.

Deve, sim, fazer um exercíciozinho físico, dar uma voltinha na praia ou na praça durante o dia e aproveitar que tomar sol moderadamente faz um bem danado, cuidar do que tem, valorizar os pontos fortes, não tentar a todo custo parecer algo que não é. É isso, dentre outras coisas, que vai fazer com que cada um se sinta bem consigo mesmo e, pra melhorar, se sinta bonito.

Claro que é um absurdo o preconceito, seja lá porque é feio, bonito, branco, preto, azul, verde-com-bolinhas-cor-de-rosa... (E obrigar alguém a pagar imposto porque foi favorecido pela genética não seria também preconceito?)

Além do mais, como é que isso iria ser cobrado? "Ah, você é alto, vai pagar R$10. Além de tudo é malhado, tem que pagar metade do que gasta com academia. Xi, que sorriso bonito, branquinho! Vão uns R$50 aí. Por cada dente. Quer dizer que você corta as unhas com freqüência, usa produtos condizentes com seu tipo de cabelo e sabe se vestir? Ah, eu sinto muito, mas acho melhor você desistir de comprar um carro. Por uns dez anos."

No site do jornal, o autor fala que o ambiente escolar deve desestimular o preconceito com as pessoas feias. Isso não é da escola, é da educação de cada um dos alunos. Dos pais dos alunos, que abdicaram da educação das crianças, jogando a responsabilidade para outros meios. No caso dos desfiles, o que está sendo exposto ali não é uma pessoa, é a roupa. A pessoa não passa de um cabide. Não vou entrar em maiores detalhes, que isso dá material para um outro texto.

Quando ao sr. Feio (escritor argentino Gonzalo Otálora), ele diz que aprendeu a gostar de si mesmo e leva a vida com bom humor. Ele deveria, então, ser condizente com as próprias palavras e gastar o tempo dele com algo menos inútil. Não é por aí que se vai combater o culto (ridículo, eu concordo) à beleza.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Minha Amiga Vai Casar

Sim, a informação no título é verdadeira. E ela me espanta, mas não é disso que vou falar.

Ela tem 19 anos, está no segundo ano de um curso universitário que dura 4 anos e meio e não tem emprego. Isso faz com que eu me espante com o noivado, mas não é esse o assunto de hoje.

Ela vive uma situação complicada em casa, com um padrasto meio "pinél" e faria bem em ir morar só, isso me faz apoiar a decisão do casal. Mas ainda não é o motivo dessa postagem.

O casório está marcado para 2010, provavelmente em abril e ontem estávamos conversando sobre esse assunto e sobre um Manual da Noiva da década de 50 (que é ridículo, mas deve render umas boas risadas). A moça já desenhou o vestido, já planejou o buquê, já está pensando na cerimônia, na festa e em outros pormenores do gênero.

Dei uma pausa nas minhas atividades acadêmicas (que me fizeram faltar o estágio hoje)e, aproveitando a folga e a hora do lanchinho, fui dar uma pesquisada nessa história de noivado, casamento e etc. Apesar de bonitinho (em termos), cheguei à conclusão de que o noivado como é feito é meio... inútil.

Veja no que conssite o noivado: uma festa que reune a família da moça e do moço, na qual ele pede a mão da moça ao pai dela. Ou pior: o pai do rapaz pede a mão da moçoila ao pai dela. Acertado isso há uma troca de presentes muito intrincada que eu não consegui decorar e os pais da noiva oferecem um jantar à família do noivo, ao qual os pais do noivo devem retribuir. Durante esses jantares o noivo deve fazer discursos de agradecimento à noiva e aos pais da noiva, discursos esses que também devem ser retribuídos.

A partir de então a noiva ganha mais liberdade com o noivo, podendo freqüentar a casa dele e os pais (da noiva e do noivo) ficam oficialmente se conhecendo.

Me diga se um negócio desses faz sentido atualmente? Difícil é ver um casal que se mantenha "puro, santo e casto" (até porque não teria graça nenhuma e seria um belo desperdício de tempo). O relacionamento entre pais deveria se dar naturalmente. É fato: uma hora eles vão se conhecer e vão conviver, nem que seja só nas festas de aniversário. E depois, para que toda essa formalidade de discursos e "blá blá blá"?

Não seria muito mais bonitinho um belo dia os dois saírem pra jantar num lugar legal e o cara (ou a mulher, tanto faz) propor o noivado, assim, bem na intimidade? E dali os dois irem comemorar a sós e já saírem com data de casamento marcada? Sem drama, choro, burocracia e ninguém metendo a colherinha no relacionamento alheio.

Um amigo meu costumava dizer que noivar era assumir pro pai da noiva que "tá comendo" (para usar o termo original). Não que seja grande novidade, mas quanto mais desconforto a ser evitado, melhor.

Estou tentando levantar o Membrana Seletiva. Fazia tempo que não escrevia, tá na hora de desenferrujar as juntas.

domingo, agosto 26, 2007

Jornal do Reino
Príncipe Busca Moça do Sapatinho

Após arrecadar olhares admirados (e enciumados) dos convidados do Baile Real, que aconteceu na noite de ontem, e dançar durante boa parte da noite com o Príncipe, uma bela moça sai correndo ao ouvir o relógio bater 12 badaladas. O Príncipe tentou alcançá-la, mas só conseguiu pegar o sapatinho que a jovem deixou cair na escadaria do palácio.

O Baile Real foi organizado pelos funcionários de Suas Majestades, tendo como convidados os membros da nobreza e todas as moças casadoiras do reino, bem como seus acompanhantes (pais ou mães). Sua Majestade, o Rei, deseja que o Príncipe se case o mais rápido possível com um bom partido para poder assumir o trono, já que Sua Majestade encontra-se doente.

No início do Baile, o Príncipe foi apresentado às moças ali presentes e dançou com uma ou outra, até a chegada de uma bela e misteriosa jovem, ligeiramente atrasada. Sua entrada fez com que todos parassem para ver quem ousava chegar tão tarde a uma festa real. Os convivas ficaram admirados com a delicadeza dos detalhes de sua roupa e com a própria jovem, nunca tinham visto uma moça tão bela nas redondezas. O mensageiro real relatou achar a moça parecida com a empregada de uma família rica, composta por uma viúva e suas duas filhas, mas aquela jovem estava vestida de forma muito requintada para ser uma simples empregada.

O Príncipe não esperou que o apresentassem à moça, aproximou-se dela enquanto ainda descia a escadaria do salão de festas e os dois dançaram até o momento em que ela saiu correndo. Até tal momento tudo parecia estar correndo bem para o casal.

o Jornal do Reino procurou o Príncipe para saber o que ele fez ou disse para que a donzela corresse daquela forma, mas ele não quis dar declarações. Soubemos por seu cocheiro que ele iria iniciar uma busca ainda hoje pela dona do sapato, que é feito de cristal e de numeração muito pequena (o cocheiro não soube informar o número). Espera-se encontrar a dona do sapato dentro de uma semana.

quinta-feira, agosto 16, 2007

O Cinema e suas "relações"

Ele já veio na cola de outra Arte, como quem não quer nada. A Fotografia estava tendo os seus problemas, suas complicações, quase como que um vírus desses "brabos" que pegam as crianças e botam de cama e os pais ficam desesperados, achando que o pirralho vai morrer! Ainda mais naquela época, que a gama de medicamentos era pouca... Ou talvez eu esteja fazendo drama pra você ler o meu texto!

Enquanto a Fotografia dava seus passos, com uma certa dificuldade, tirando empregos de retratistas, sendo chamada de "coisa do demônio", o Cinema chegou sorrateiro, na França, quase que como brincadeira dos irmãos Lumière. Eles filmaram a saída dos operários do trabalho, a chegada do trem na estação, o almoço do bebê... Tudo com pouquíssimos minutos de duração e feito de forma bem simples. Eles chegaram a exibir esses "filmes" e as pessoas que estavam assistindo "A Chegada do Trem" saíram correndo da sala de exibição, com medo de que o trem saísse da tela e as atropelasse.

"Hm! Eu acho que aqui tem um filão bom pra ganhar dinheiro!" Alguém deve ter pensado isso, mas o fato é que o kit de filmagem era bem barato e, ainda que não pareça, o Cinema nasceu documental, não ficional como estamos acostumados hoje.

Mas o fato é que com pouco tempo de nascido, uma criança serelepe basicamente, o Cinema chegou para o Teatro e pediu pra ficar ali, assistindo. Depois convenceu o irmão mais velho a se deixar filmar. Dessa forma vieram alguns dos primeiros filmes ficcionais, mas demorou para os cineastas se darem conta de que poderiam ir além da câmera estática e filme sem cortes.

Quando o dia chegou, o Cinema passou a procurar seus irmãos e irmãs e fazer propostas. Chegou uma hora em que ele viu que se exibir calado não era tão divertido, foi ter uma conversinha com a Música e os dois se uniram. União essa que deu certo, mesmo quando o Cinema passou a falar em público, cheio dos diálogos, monólogos, pensamentos exteriorizados e sempre embalado por uma trilha sonora.

Vendo que dava certo isso de se unir com os outros, consultou uma das mais velhas: a Literatura. Vez por outra, eles produzem algo juntos. Tem vezes que o Cinema rouba algo dela e faz o trabalho escondido, em cima das coxas (e acaba saindo uma porcaria e as pessoas saem do cinema dizendo "ah, o livro é melhor!"). Acontece também de Literatura empurrar algo para Cinema e cotar um grande nome pra estrelar o filme. Por mais que ele pense "Ih... Sei não!", acaba fazendo o gosto da irmã. Dessa forma saiu "O Diabo Veste Prada", por exemplo. O livro é bom, mas não vendeu muito. No entanto, Meryl Streep deu aquele empurrão que faltava à trama e se tornou uma das vilãs mais amadas das telonas nos últimos anos.

A Dança também se uniu ao Cinema e à Música e os três produziram musicais, filmes de dança e fizeram (ainda fazem) muita gente sair da sala de exibição (seja numa rede de cinemas, seja no sofá da casa do namorado) direto para uma academia de dança: "Moço! Eu quero fazer dança de salão / dança latina / tango / street dance / flamenco / dança do ventre / whatever! Me matricula aí!" O bom pra essas pessoas é que dança faz bem e é altamente viciante. Pelo menos elas não podem ser chamadas de sedentárias.

Enquanto boa parte das Artes estavam em crise e apelaram para o surrealismo, o Cinema estava com toda! Era muito novo para ter crises, era praticamente um adolescente espinhudo criativo e apaixonado, produzindo algo novo para alguma musa inspiradora com uma bela energia.

Atualmente eu acho que o Cinema tá precisando de uma nova paixão. Não tem criado muitas coisas novas. No entanto, se juntou com uns irmãos mais novos, uns tais de Quadrinhos e Arte Gráfica (irmã gêmea bivitelina do Games) e anda fazendo umas coisas interessantes. Por mais que não esteja com a criatividade em alta, aproveita as idéias e a ajuda dos irmãos e cria umas técnicas interessantes, umas formas diferentes de recontar uma história que foi apresentada em algum outro tipo de mídia, por alguma outra Arte.

Veja só: até filho Cinema já teve! Veja a Animação e a Animação Gráfica por exemplo... (Sim, eu estou falando dos desenhos animados!) Eu acho que houve incesto aí no meio, mas quem sou eu pra dar pitaco numa família doida dessas?

Eles produzem, eu aproveito e ainda me meto a besta de fazer uns comentários de vez em quando.

  1. Fernanda acha que tem pouca coisa pra fazer e inventou um blog novo... Um tal de 16 Milímetros em Papel Couché. E ela ainda se comprometeu a atualizá-lo uma vez por semana! Não é uma ousadia? Mas diz ela que se conseguir, vai trazer umas coisas novas pra cá também. Então eu sugiro que você freqüente os 2 blogs, que a coisa vai começar a ficar interessante.
  2. E parabéns a Daniel, que venceu o concurso do Membrana Seletiva! ^^ (Agora cobra o prêmio da Allana, tá?)

domingo, agosto 12, 2007

And the oscar goes to...

... Daniel Bartolomei!

*placa de aplausos sobe, a platéia aplaude fervorosamente*

Na verdade, esse prêmio deveria ser meu. Mas como a idéia é fazer o concurso, e premiar outras pessoas, tornar esse espaço mais democrático e tudo o mais, bem, não poderia ser um texto meu a ser premiado.

Brincadeiras à parte, Daniel Bartolomei, juntamente com Sandro Albertini, criaram o personagem Taltos para uma campanha de RPG no cenário de Forgotten Realms, bastante conhecido entre o público. O texto foi devidamente reduzido para ser aplicável ao blog, como o próprio Daniel declarou em entrevista aos nossos estúdios. O fato é que o conto vencedor trabalha bem o tema fantasia, trazendo criaturas fantásticas (convenhamos, o dragão é uma das criaturas mais referenciadas na literatura, perdendo talvez para os faunos e fadas) e é dono de uma narrativa envolvente.

Sabe, eu acho que realmente deveria escrever aquelas contracapas de livros...

E sem mais delongas, conheçam o conto merecidamente vencedor do concurso Membrana Seletiva!

Taltos

“Mais voa o sábio do que o dragão”.

Por toda a torre se espalha o ensinamento. As palavras de meu pai ecoam por entre livros e escadas, escadas que jamais subirei. Entretanto, as conheço como ninguém. Conheço seus atalhos e segredos. Sei a posição de cada livro e corredor; mas jamais os percorri.

Jamais fui a lugares que tão bem conheço. Conheço folhagens que sequer vi. Sei línguas das quais nunca conheci representante. “Mais voa o sábio do que o dragão”; foi o consolo de meu pai que me direcionou ao estudo. Em seu lugar não seria capaz de tal nobreza, afinal criar sozinho um filho inválido e ainda tornar sua vida agradável não é tarefa fácil.

Nunca cheguei a aceitar o sofrimento por minha debilidade graças a ele. O “velho elfo” sempre alimentou meus sonhos de cura enquanto aguçava minha sede por conhecer. Acabava por criar a imagem em minha mente de que quanto mais eu sabia, mais próximo estava de subir as escadas.

E aqui continua Taltos no mesmo quarto, já medido e examinado mentalmente milhares de vezes. Aqui estou cuidadosamente sentado. Como cristal que pode facilmente partir, entre livros, línguas, heróis e monstros. Aqui estou, como estive a tempo suficiente para entediar um elfo.

**********

Esta noite tive um sonho.

Queria que meu pai estivesse aqui, para ele todos os enigmas são simples. Meu sonho, aos seus olhos, seria tão visível como placa de estalagem, ou pelo menos tão visível quanto eu imagino que elas sejam. Mas ele não está.

Estava sozinho em meu quarto, e de cada móvel, cada livro, cada objeto nesse maldito cômodo, partiam correntes que agarravam meu corpo fraco, mas tais amarras não me desesperavam, convivia com elas como se sempre tivessem estado ali. E então Allana Lianon entrou no quarto, não estranhei quando reconheci a mão que jamais vira, da qual me foram negadas até mesmo as descrições.

– Cresceu forte Taltos – disse ela sentando em meu leito. – É bom ver o adulto em minha criança.

– Tenho sono – meus lábios eram capazes de autonomia, criando mensagens de sua própria cunha. – Tenho que dormir.

– Não é hora, criança. O Dragão se aproxima. Vem seguido de três e atrás deles, outros.

– Não me notarão. Permanecerei em silêncio. Descansando, pensarei em algo.

– Se esse é seu caminho, Corellon abençoe suas botas. No entanto, filho sábio, engana-se pensando que não o notarão.

Sem olhar para trás, partiu.

E eu restei em medos. Meu quarto era seguro, minhas correntes me protegiam. Nada podia me alcançar, mas meu quarto tem janelas. Quando debrucei e vi a fera, dei-me conta de quão sábia fora minha mãe.

O dragão era de tal magnitude que de minha janela só se viam as garras. Atrás dele caminhavam um casal e uma criança. Mais ao longe, havia outros.

Entrei em desespero. Quanto mais tentava fugir, mais firmes as correntes apertavam. De fora vinha a certeza de que estavam cada vez mais perto. Agora entendia o erro que minha mãe me apontara: eles jamais passariam sem me notar: eles vinham por mim.

Então, outra câimbra me despertou. Quando o velho voltar, penso em narrar-lhe meu sonho. Talvez ele tenha tempo de interpretá-lo. Talvez fale sobre mamãe…

**********

O velho esteve em casa, não está mais. Ficou somente à noite e partiu. Estava ocupado, tinha visitas. Pouco o vi nesta noite, porém foi a ocasião em que mais se mostrou. Apareceu ainda de madrugada, pouco antes de partir.

Taltos, ouça o que tenho a dizer.

Sem muita dificuldade despertei de meu transe e vi meu pai, imponente, vestido com seu melhor manto. Pude ver sua sabedoria estampada em seu porte. Senti orgulho.

– De pé tão cedo? Partirá novamente?

– Sim, devo. Mas é a última viagem. Logo, tudo será sanado.

– Aonde irás?

– Vou ao lugar que tenho planejado ir todo esse tempo. Fazer algo que deveria ter feito há anos. Porém, falaremos disso quando eu retornar. Diga-me Taltos, eu falhei em cuidar de ti?

Nesse momento pela minha mente passaram-se os abandonos constantes, o excessivo zelo e conselhos contínuos. Vi meu pai parado diante de mim buscando aprovação.

– Tenho orgulho de você, meu pai.

Abraçamo-nos e nos despedimos. Quando já partia, lancei-lhe a pergunta:

– Pai, como ela era?

Olhou por sobre os ombros, sorriu e disse:

Taltos, mais voa o sábio do que o dragão. Mas sua mãe via ambos metros abaixo dela.

E partiu.

**********

Hoje enterrei meu pai.

Tudo começou com o mesmo sonho. Parece-me que desde que vesti a Garra que veio com seu corpo tenho dormido. E o sonho se repetiu, mas dessa vez ele foi adiante. Quando o Dragão se aproximava seguido de sua tríade e horda, que se mostrava mais próxima do que eu jamais desejaria. Quando debatia meu frágil corpo inutilmente, algo novo aconteceu. Ouvi uma voz cochichando em minha orelha direita:

– Pare de se debater como uma truta e livre-se desses anzóis, Taltos.

Virei para ver a bela humana que falava atrás de mim. Parecia uma jovem de cabelos encaracolados tão louros que chegavam a luzir.

– Quem é você?

– Não é hora para conversas, “garoto”. Por que não se levanta? Tenho um lugar para lhe mostrar, conversaremos no caminho.

– Se pudesse me levantar, fugiria, mas as correntes me prendem.

– Fala dessas linhas? – começou então uma dança estranha ao meu redor tocando minhas correntes como se fossem fios de seda. – Ora, Taltos, por um segundo tenha orgulho!

– Do que está falando mulher!? Achas que brinco? Se pudesse fugir do Dragão, fugiria!

– Em primeiro lugar, chame-me Enoa; em segundo, por que fugiria do Dragão? Não vê que ele está adormecido?

E tive consciência de que era verdade.

– Então de quem devo fugir? Dos outros três?

– Quais três? Vejo apenas dois, e eles têm outros assuntos a resolver no momento.

E tive consciência de que era verdade.

– E os Outros?

– Se eu fosse você, levantaria antes que cheguem. Por que não parte esses fios com sua garra?

E eu tinha garras. As correntes que por tanto tempo me seguraram partiram-se como raios de luar quando as forcei com meu corpo poderoso. Ela já estava no corredor.

– Corra Taltos, não há tempo.

E corremos por entre livros e estantes, por cômodos e escadas até que chegamos a um dos muitos esconderijos da Torre, e lá entramos. Tudo era muito real, eu sentia a pedra fria sob meus pés, a umidade. Num minuto tão real, no outro…

Estávamos em uma caverna, acho, estranhamente trabalhada, mas uma caverna.

– Aqui, “garoto” – ela estava na frente de várias estantes repletas de livros. – Aqui está toda a sabedoria que procurava.

– Que livros são esses? – indaguei.

– São os livros que falarão de você. Suas histórias.

– Livros falarão de mim?

– Todos esses falarão de você. Menos a última prateleira.

– E que são aqueles livros?

– Aqueles, – sorriu. – são os livros que já falavam de você! – disse isso e pôs-se a gesticular de maneira estranha, como se desenhasse símbolos no ar. E a cada gesto dessa dança foi como que absorvido pelo meu corpo. E ao final ela riu e gritou.

– DESPERTA TALTOS!

E eu acordei.

sábado, julho 28, 2007

Awakening - Parte II



"Contos de fada são inteiramente verdadeiros. Não por nos dizer que dragões existem, mas por dizer que eles podem ser vencidos."


Sempre me disseram que conhecimento é poder. E agora eu posso entender o porquê.

Sempre me disseram, também, que a ignorância é uma bênção. E graças a tudo o que me ocorreu, eu também posso entender o porquê.

Já não estava mais no hospital, nem no prédio. O lugar me era completamente diferente agora. Um vento seco cortava o meu rosto, e uma paisagem desértica abria-se diante dos meus olhos. Decadente é o melhor termo, na verdade. Ruínas de prédios, carcaças de carros... o lugar cheirava a ferrugem, a decadência. A medo.

Comecei a andar, embora não fizesse idéia de para onde eu estava indo. O lugar parecia deserto, mas algo dentro de mim dizia que não. E que na verdade eu não gostaria de encontrar quem realmente habitava. Mas aquela não era uma escolha minha.

Crack.

Olhei para trás, a tempo de perceber uma movimentação atrás de uma carcaça metálica. Havia alguém além de mim, sem dúvida. E por mais que eu quisesse saber quem era, ou onde estava, tinha certeza de que aquele ser não era o mais indicado para eu pedir informações. Apressei o passo, e não demorou muito para que eu me visse correndo no meio de tudo aquilo.

Arrisquei virar o rosto, somente para ter mais vontade de correr. Criaturas retorcidas, com dentes afiados e amarelados me perseguiam. Cada vez que se movimentavam seus ossos pareciam estalar, como se desacostumados à atividade. Não falavam – mas emitiam barulhos, que mais pareciam ter saído de uma garganta à qual faltavam cordas vocais. Os sons eram vários – minhas botas no cascalho, metal retorcido... Com esforço pude distinguir

- Viivaa... ela está.... vivaa...

Diferente de mim, aquelas coisas não pareciam se cansar. Sentia meu peito arquejar, a respiração faltava, e eu não sabia por quanto tempo mais aguentaria. Os barulhos se aproximavam, assim como o cheiro de enxofre que exalavam. Minhas pernas doíam, e o vento forte fazia minha cabeça rodar. Se o inferno existe, definitivamente deve se parecer com aquele lugar.

Mal percebi quando comecei a pisar em algo aquoso. Água, ali? Não havia lugar diferente para onde ir, então continuei. As criaturas pararam, mas ficaram cercando a margem. Às vezes tentavam avançar, mas não tocavam a água. Havia, aparentemente, alguma vantagem em estar viva naquele lugar.

Percebi então que era um rio, cuja foz se estendia longamente a perder de vista. Uma névoa densa limitava a visão, de modo que só conseguia ver, de fato, até umas dezenas de metros de distância. E uma sombra, mais escura que a névoa, se aproximava lentamente de mim. Por instinto recuei alguns passos, mas o cheiro de enxofre atrás de mim lembrou-me de que estava encurralada.

Conforme a sombra se aproximava, percebi uma silhueta de alguém em um barco. Carregava uma longa vara, com a qual guiava o barco simples, de madeira, sem adornos. Trajava um longo manto com capuz, e a única coisa que ficava à mostra era seus dedos pálidos, e seus cabelos enegrecidos, de aparência úmida.

- Uma moeda.

Caronte, o barqueiro do rio Aqueronte. Lembrei-me da ilustração de Gustave Doré, que havia feito para a Divina Comédia, de Dante. Segundo a lenda, ele levava a alma dos mortos pelo afluente do Estígia, dirigindo-os para o Inferno. Os antigos tinham o costume de cremar os corpos com uma moeda embaixo da língua, para que eles pudessem fazer a passagem pelo rio. O Detalhe era: eu não estava morta. Nem tampouco tinha um óbulo comigo. Ou será que, de fato, eu havia morrido? Olhei para trás e as criaturas continuavam ali, à espreita, apenas esperando um deslize.

- Mas... eu não tenho nada aqui.

- Sua alma.

Um vento frio roubou-me o fôlego. Minha alma? Eu não tinha muitas opções, no entanto. Voltei o rosto para a margem, e as criaturas continuavam ali. O cheiro de enxofre chegava até mim, suas vozes disformes e seu hálito exageradamente quente.

- A troco de quê? – falei, enquanto recuava lentamente na direção da margem. Se eu estava morta de fato, não importava muito para quem a minha alma fosse.

- Conhecimento. Sobre você. Sobre o que você é. E o que você pode fazer.

Sem pensar duas vezes, subi no barco. E a embarcação seguia, sem remos, pelo rio.

Parte 1: aqui.

E claro que seres mitológicos podem aparecer no conto que você vai escrever pro nosso concurso. O que está esperando? Veja os detalhes aqui.

terça-feira, julho 10, 2007

Motivos pelos quais não escrevi pro blog, parte 2 - By another girl





Eu brinco de pular fogueiras. Antes eu tinha medo de me queimar por ter as pernas curtas, mas a cada dia vejo o quão alto eu consigo pular.




:: Tive uma crise existencial que durou todo o mês de junho, coisa chata que consumiu minha energia, minha vontade de escrever, minha vontade de malhar, minha vontade de fazer as mil coisas que sempre faço.

:: Tive problemas com algumas pessoas, com algumas coisas, com alguns sentimentos, com algumas fotos, com alguns telefones, com algumas roupas, com alguns animais, com alguns minerais...com tudo tive problemas em junho. Imaginei até que tinha nascido em julho, pois meu inferno astral definitivamente estava ocorrendo até então.

:: Fiz amizades novas, reestabeleci contato com amigos muito queridos, ampliei meus horizontes, dei assistência à pessoas muito amadas, fiz coisas diferentes que nunca tinha tido oportunidade de fazer, estou cuidando muito bem de mim agora, estou com mil idéias profissionais, além das fúteis de sempre. [ isso se você considera futilidade momentos de diversão, sorrisos, loucurinhas e afins].

:: Recomecei a pegar pesado na combinação academia e dieta saudável, a primeira ocupa metade das minhas manhãs, a segunda está sendo levada da melhor forma pelo resto do dia. [ou você acha que não consome tempo fazer uma linda salada para almoçar com um franguinho grelhado no lugar de pegar aquela pizza pronta e colocar 5min no microondas?].

:: Tive que ir ao médico cirurgião [não se assustem] para marcar a intervenção que ajeitará os furos das minha orelhas...é isso que dá usar brinco pesado desde os 13 anos...

:: Tive dengue. [isso é auto-explicativo e consumiu uma semana minha].

:: Viajei e passei meia semana em Recife. [aniver do namorado].

:: Minha inspiração, como a de Fernanda, também tirou férias...acho que foram férias coletivas então.

:: E não...não fui abduzida por aliens, mas assisti alguns filmes de terror ultimamente [coisa rara para mim] e estou até ficando mais corajosa. Acho que estou pronta para enfrentar os aliens.



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quarta-feira, julho 04, 2007

Novo e-mail




Fumaça de fogueira sucks. ¬¬



Fui obrigada pela Microsoft a abrir uma nova conta de e-mail, pois o MSN Live me fez o favor de não abrir meu e-mail do gmail. Isso só na minha casa, claro, na casa dos outros funcionava normalmente.

Depois de mexer, catucar e futucar em tudo, apelar pra macumba, reza braba e pedir por favor educadamente (e grosseiramente, mais tarde), desisti e resolvi abrir uma conta no hotmail. Menos dor de cabeça, né?

Apesar dos pesares, logo de início teve uma vantagem: pude "filtrar" os contatos. Sabe quando você olha praquela sua lista enorme que tem uns 5 e-mails diferentes da mesma pessoa, gente que nem se sabe de onde surgiu e um povo com o qual vc não tem contato algum e sente a preguiça do mundo todo de sair excluindo? Uma nova conta de e-mail faz isso por você.

Para início de conversa, eu não adicionei ninguém. Dei meu e-mail novo e expliquei a situação para que os outros me adicionassem. Assim, já evitei ter vários e-mails diferentes da mesma pessoa e ter gente na lista que não faz nem sentido que esteja lá. E quem também não sabe porque você dá as caras no Msn se nem te conhece ou não fala contigo há 5 anos não te adiciona, uma pessoa a menos na lista de contatos interminável e, por vezes, inútil.

Mas o melhor de tudo é abrir a caixa de entrada. 5 ou 6 e-mails recebidos, um ou outro novo, zero spans. Não que não goste de receber e-maisl, muito pelo contrário! Mas gosto de receber e-mails de amigos, não de sites, empresas, avisos...

Enfim, agora tenho mais uma conta de e-mail para olhar. Conta essa que entro uma vez por semana e me dou por satisfeita de ver uma mensagem perdida, nada de e-mails repetidos que já vi em outras contas e não tenho trabalho nenhum para deletar spans, já que eles não existem.

sexta-feira, junho 29, 2007

Motivos Pelos Quais Quase Não Escrevi Pro Blog




Fumaça de fogueira sucks. ¬¬




:: Meu computador não chegou. (Sim, eu tenho um, mas eu quero o outro, oras!)

:: Não estou em casa.

:: Estou na casa do meu namorado. (Sim, tem computador aqui... Mas fale sério! Quem é que vai passar o dia enfurnada no pc do namorado?)

:: A Inspiração tirou férias, no mesmo período que eu. Safada, não?

:: Tô malhando. (Ok, não tem nada a ver com computador, criatividade ou esforço mental, mas tá pensando que fazer exercício físico não cansa, é?)

:: Tem uma espinha no meu nariz. (Veja bem: não é tão simples quanto parece... A espinha não está fora, mas dentro do meu nariz. E cresce mais a cada dia. Ela dói, coça, me irrita e me incomoda. E me dá vontade de espirrar. É difícil se concentrar assim.)

:: Ganhei "300 de Esparta" de dia dos namorados. E "Lenore" chegou um dia desses. (Hm... Ok... Não gastei muito tempo lendo-os, até porque quadrinhos se lê num instante. E eu poderia ter aproveitado e me inspirado em algum deles pra escrever algo. Mas... Bem... Tá! Tá bom! Sei que não é desculpa! Mas eu escolhi lê-los a usar o computador, portanto eu não poderia escrever pro Membrana.)

:: O computador tem me dado dor de cabeça. (Ou eu já tenho uma leve dor de cabeça e o pc piora minha situação, depende do dia.)

:: Fiz maratona de anime. Alguém que passa 2, 3 dias seguidos inteiros vendo uma série na tv não pode estar no computador escrevendo, não é mesmo?

:: Fui abduzida por alienígenas estranhos sem rosto e que pareciam feitos e vidro, como em A.I., que se comunicavam por telepatia. (Ok, ok... Não fui abduzida por nenhuma forma de vida inteligene de fora da Terra. É mentira, eu admito. Mas devido à minha incomunicabilidade - diversas vezes opcional, mas não vou admitir isso - é quase como se tivesse sido.)


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sábado, junho 23, 2007

Eneida - Canto V



A única coisa boa do São João é porque é feriado. Mas nem pra isso o santo serve, que esse ano caiu em um domingo.



Ao longe, os marinheiros vislumbravam a grande fogueira que queimava no pátio. A maioria deles, no entanto, tinha coisas mais importantes a fazer, como se preocupar com o jantar, as cuecas sujas e limpar o convés. Outros se preocupavam com coisas mais inúteis, como por exemplo saber para onde estavam indo. Enéias, por sua vez, como um bom capitão de navio, dormia tranqüilamente na sua cabine.

Juno, ainda ressentida pela morte idiota de sua protegida, trama o destuino de Enéias. Na verdade o que ela faz é dar grandes nós na linha do Destino de Enéias, deixando a vida do herói mais emabaraçada que cabelo de mulher quando acorda. E tecendo, com as agulhas e linhas, a deusa teceu uma bela tempestade.

Tempestade é um eufemismo. O Dilúvio de Noé foi fichinha perto daquela tempestade. E os navios, se pudessem falar, falariam de lugares nunca antes vistos, de grandes guerras, e outras coisas. O navio de Enéias, se pudesse falar, naquele momento diria: "Putaquepariu, tempestade DE NOVO?!"

E sem rumo sobre a água, Enéias aportou en terras conhecidas. Por mais que não lembrasse o nome do reio, sabia que ele era um bom homem, e pediu hospedagem. A lei da hospedagem é muito simpes: você entra na casa de alguém, come do bom e do melhor, é presenteado e tem servas a seu dispor. A única coisa que você não pode fazer é roubar a esposa do anfitrião. Foi aí que Páris errou. E isso acarretou na guerra de Tróia, e toda aquela conversa que nós já sabemos.

E os dias no reino do qual não se lembrava o nome - mas é Drépano, caro leitor - seriam tranquilos para Enéias: rezar pela alma do pai, celebrar jogos em seu nome, e ir embora, rumo à terra prometida. Simples, não?

Seria simples, se não estivéssemos em uma epopéia. Enéias celebra seus ritos, promove seus jogos, e enquanto isso as mulheres da sua tripulação fofocavam:

- Ah, mas você viu os vestidos que a rainha usava? Um luxo! Ah, todos aqueles detalhes bordados...
- E as sandálias de salto alto? LIN-DAS! Só aquele cabelo dela que era meio cafona...
- UM HORROR! E aquele cinto...?

Juno era mulher também, obviamente, e pior: era deusa. Sabia divinamente como infernizar a vida de alguém. Mas não podia fazer isso diretamente, afinal, era a esposa do patrão. Mandou então Íris. Sua missão? Fazer com que as mulheres queimassem os navios.

O que Íris fez exatamente não se sabe. Dizem que ela jogou entre as mulheres alguns metros de seda chinesa, e de tanto se estapearem, as mulheres se pisotearam até a morte. As sobreviventes ficaram ensandecidas diante da visão e queimaram os navios. Outros contam que ela teria jogado um boneco inflável do Brad Pitt ou do Eric Bana, e o calor que se seguiu foi tamanho que ateou fogo nos navios. Alguns mitógrafos, no entanto, se perguntam porque a própria Íris não queimou os navios, usando querosene e fósforos. Acho que ela não achou que seria épico o bastante.

O fato é que os navios pegaram fogo, mas alguns foram salvos. Nenhuma das mulheres sobreviventes conseguiu explicar o que realmente tinha acontecido, e o herói toma uma árdua decisão: as mulheres ficariam em Drépano. Elas já não cozinhavam tão bem, nem cuidavam dos outros afazeres femininos como deviam. Além do mais, andar com loucas incendiárias por aí não seria saudável.

As mulheres se casaram com nativos, tiveram filhos, constituíram família e tudo o mais. Mas de vez em quando se reuníam às escondidas e iam incendiar algumas coisas. Só para matar o tempo.

Partes anteriores: confiram aqui.

Quer coisa mais fantástica que textos envolvendo mitologia? Pois é, com uma sátira desse tipo, você pode participar do nosso concurso! Veja as informações aqui.
Créditos da imagem: Willdan.

terça-feira, junho 19, 2007

Winter is Coming



"Dark words come in dark wings."




AVISO: Esse texto contém spoilers. Se você pretende um dia ler a série A Song of Ice and Fire, de George RR Martin, e não gosta de spoilers, não leia.

Cabelos negros como a noite sem luar eram levados aleatoriamente pelo vento frio do Norte, juntamente com lágrimas furtivas. Kateryn tentou sufocá-las, mas falhou miseravelmente. Passara a noite acordada, arrumando os pertences do seu pai, e estava cansada demais agora para se policiar. Não era mais uma garotinha, e tinha que ser forte. Prometera isso, e haveria de cumprir.

Palavras sombrias chegam em asas negras, costuma-se dizer. Daquela vez não havia sido um corvo o mensageiro, mas sim o seu pai, cavaleiro jurado ao Lorde Cerwyn. Sir Willam Goodhunt, homem simples, guerreiro disciplinado e um tanto rude, mas principalmente, seu pai. Fora ele quem chegara abatido da viagem e deu a notícia de que Lorde Stark havia falecido. Executado. Acusado de traição ao rei, decapitado em praça pública.

E então houve a reunião. O melhor homem do Norte, dissera Lorde Cerwyn. E Kateryn não precisava conhecê-lo para saber disso. A reputação de um homem de verdade o precedia, e não era diferente com Eddard Stark. Bondade, sabedoria, justiça e quase todos os adjetivos eram ditos pela maioria das pessoas quando falavam do Lorde de Winterfeel. E tudo isso foi relembrado por lorde Medger em seu discurso.

E além de morto injustamente, suas duas filhas eram mantidas cativas nas terras do sul. Sequer o direito de enterrá-lo junto a seus ancestrais havia sido dado à família. E Robb Stark, herdeiro da casa, chamava seus homens à guerra. E isso incluía a casa Cerwyn

Aquelas palavras caíram pesadas como rochas rolando de uma torre. Mesmo depois da noite de trabalho, e mesmo naquele momento, vendo os homens que mais amava na vida partirem para um destino incerto, o discurso do lorde ressoava na sua mente. Guerra. Seu pai, Medger Cerwyn, a quem tinha como um pai, e Cley Cerwyn cavalgavam para uma guerra que não era sequer deles. Era uma guerra de reis. O Rei do Norte, Robb Stark, garoto mais novo que a própria Kateryn, e Jeoffrey Baratheon, um infante feito rei pelas tramas do destino.

“Prometa que vai estar aqui”, dissera Cley. “Prometa que vai estar aqui quando eu voltar.”

Queria ir com ele, queria estar ao lado dele. Morreria protegendo-o, se preciso fosse. Mas as lágrimas não a deixaram dizer. O povo do Norte não era muito bom com palavras, e por mais que ela quisesse, não conseguiu. Amava-o, tinha certeza disso. Mas o máximo que conseguiu dizer foi:

“Eu prometo”.

quarta-feira, junho 13, 2007

Damien


"- Nobody is really ready.
- For knighthood?
- For death."


Um instante. Tudo o que ele precisava era de apenas um instante - o tempo de um simples piscar de olhos era mais que suficiente para levar um cavaleiro ao chão. Não tinha nada contra duelos - apesar de serem um tanto burocráticos e fantasiosos demais - mas o campo de batalha era diferente. Justa alguma poderia se comparar à batalha: suja, lamacenta e escorregadia, onde os homens lutam por suas vidas. Em uma batalha, você mata, pisoteia, esmurra e até tortura. Com sorte você aprende a gostar disso.

Damien escutava os tambores dos inimigos, soando ao longe, mas aqueles bastardos não o incomodavam. Era um mercenário, sem fé, e que adorava matar - não importava o lado dos soldados, ou a quem servia. Era vassalo apenas de sua espada. Carregava a bandeira de quem pagasse melhor - desde que pudesse matar. Prisioneiros rendiam resgates, e por isso deixava os nobres emplumados para quem os desejassem. O dinheiro só era útil enquanto pudesse pagar uma boa armadura e uma espada melhor ainda. Sorriu quando o primeiro destacamento veio na direção de atacá-los.

Fez um gesto para que seus homens esperassem. Que a carga seguisse em sua investida desvairada, desfazendo a linha inimiga. Que eles os enfraquecessem com as lanças, e que eles morressem primeiro. Logo os primeiros gritos soaram, acompanhados pelo clangor de espadas. Damien não deixou de sorrir quando viu um cavaleiro ser atingido por uma espada, e tombar para a esquerda do cavalo, preso pelo pé no estribo, enquanto o animal andava erraticamente. Aquele era o destino dos heróis do rei: uma morte inócua, a profanação do seu corpo, e acima de tudo, seus bens pilhados.

Levantou-se em seguida, guiando seus homens para a esquerda. A infantaria já estava engajada em combate, e aquele pequeno grupo surpreenderia pelo flanco. Sangue iria encharcar aquele gramado, e apenas os céus presenciariam os corpos inchando sendo comido por abutres. E mais uma vez, ele não estaria entre eles.

Damien desembanhou a espada e sem cerimônia cravou-a num jovem que não parecia ter mais de 18 anos. A morte de um camponês não tinha honra ou glória - embora ele não desse importância a nenhuma das duas - e, acima de tudo, era apática. Raramente imploravam misericórdia, tão paralisados de medo que estão. Preferia ver o desespero nos olhos de um cavaleiro arrogante e ouvir seus últimos impropérios.

Sem o elmo, pôde ver quando uma lâmina brilhou à luz do sol da manhã, e virou o corpo a tempo de bloquear o ataque com facilidade. Aproveitou a força do golpe do inimigo e girou um pouco a espada, desarmando-o. Por um instante, o soldado ficou estarrecido diante da habilidade do mercenário. Só por um instante. Tempo mais que suficiente para que a espada de aço reluzente trespassasse sua carne, e o fizesse de cair de joelhos. Os olhos arregalados, a boca ensangüentada, os braços largados ao lado do corpo. Tentava balbuciar alguma coisa. Uma prece?

Tsk. Como se Deus fosse escutar. Bem? Mal? Todos os exércitos acreditam ter Deus ao seu lado. Todos dizem que seus inimigos são enviados do demônio, afirmam que queimarão no inferno. Damien não se importava com sua alma - e, se ela existisse mesmo, ele não poderia comprovar. Se pudesse, a trocaria por uma espada. Também não se incomodava em pagar a um padre para rendê-la. Se todos aqueles guerreiros realmente queimassem no inferno, ele deveria ser um bom lugar, afinal.

Bla, bla, bla, estamos com um concurso, bla bla bla, vejam os detalhes aqui.

Valentine's Day. Ou quase.


"Pleonasmo é quando você é redundante: hemorragia de sangue, subir pra cima, descer pra baixo, mulher burra..."



No carro, de noite, muita chuva. Saí mais cedo do trabalho, tomei aquele banho e passei mais de meia hora na frente do guarda-roupa, encarando minhas roupas. No final, escolhi um conjunto de saia-e-blusa que ele havia me dado de presente de... aniversário de namoro, e que eu já tinha usado algumas milhões de vezes.

- Amor, eu tava pensando, a gente nunca...

Olhei de soslaio, levantando uma sobrancelha, do jeito que ele batizara simplesmente de cretino. Acho que se olhares tivessem legendas, o meu teria uma de: "Seu cretino, você não está pensando em me levar para um motel imundo, está?"

- Não, amor, eu não estava falando da estrada de Cabedelo. Mas se você quiser...

Frequentadores de motéis que não se sintam ofendidos, mas acredito que é fisicamente impossível um motel ser um lugar limpo. Mas eu tenho uma mórbida curiosidade de conhecer um. Devo admitir, no entanto, que fiquei aliviada quando ele disse isso.

- E o que era, então?
- Eu lembrei que você nunca comeu comida japonesa. Não tem vontade?
- Vontade, vontade não... mas uma curiosidade...

Minha frase terminou aí, porque percebi que era a mesma posição que eu tinha em relação a motéis. E a comida japonesa combinado com o que se costuma fazer em motéis me remeteu automaticamente aos hentais. Desde monstros de tentáculos (o que todo mundo sabe que é básico na pornografia japonesa) até moças nuas servindo de bandejas para sushis e sashimis.

É, eu viajo.

Mas a noite pode se resumir em: de soja, só o óleo; consegui comer o sushi de primeira (apesar de ter vontade de cuspir logo em seguida); e por fim, eu tenho muito jeito com pauzinhos.


Esses pauzinhos.


E agora, um momento para nossos patrocinadores!

Vocês já devem ter visto, mas não há problemas em relembrar: o Membrana Seletiva está organizando um concurso entre os nossos leitores! Isso mesmo! É a sua chance de ganhar prêmios inúteis que não vão fazer nenhuma diferença na sua vida, e tudo isso arranjado por nós! Não é excelente? Detalhes do concurso vocês podem ter aqui.

terça-feira, junho 12, 2007

Voilá L'Invern



"Ni!"


Chove. Chove cântaros. Lembrei de um conto de Lygia Fagundes Telles, "Apenas um Saxofone", que além de falar de inverno no início, não tem absolutamente nada a ver com o que eu vou escrever aqui.

Eu não entendo muito bem essa coisa de alguém dizer que há quatro estações aqui no Brasil. Na maior parte dele só tem verão e inverno. No Nordeste, especialmente no litoral, tem estação de sol e estação de chuva(e ainda querem nos vender luvas...).

Com essa chuvarada toda, acordei tarde. E, ao ouvir o barulho da água batendo na pedra e sentir o friozinho ao qual só tenho direito no meio do ano, dormi ainda mais um pouco.

Quando finalmente me levantei, pensei na academia, que já tinha ido pelos ares, pelos menos o horário da manhã. Enquanto encarava calças de lycra, tops, tênis, meias de algodão pensava que a estação da chuva não fora feita para queimar calorias, mas para adquirir mais algumas. Não que eu realmente queira uns quilinhos a mais (senão estava minha alimentação básica seria batata frita e meu único exercício seria dirigir até o fast food mais próximo), mas certos prazeres da vida foram criados para o inverno.

Não estou falando apenas das confortáveis blusas de manga comprida, do dvd assistido agarrada com o namorado ou das horas a mais embaixo das cobertas toda manhã. Acho que todos sabem que comer é uma das coisas mais prazerosas e que graça tem dividir um fondue de queijo ou chocolate com os amigos em pleno verão? Ou um café com biscoitos doces, quem sabe um bolinho, numa tarde de fofoca com as amigas mais proximas?

Inverno é época de comer essas coisas. De tomar aquele chocolate quente que queima o esôfago de tão quente (mas cujo sabor compensa) na entrada do cinema. De dividir um petit gateau e um capuccino com o namorado. Ou de comprar trocentos gramas de pastilhas de chocolates naquela loja de chocolates caros e se deliciar com cada uma delas. Nada acompanha melhor que um belo prato de macarrão ao molho de quatro queijos do que a chuva tamborilando na janela.

Em compensação não é muito interessante trocar todo o guarda-roupa por outro dois números maior quando overão chega. Se esforçar mais nos exercícios pra se sentir a vontade naquela blusinha linda. Readquirir fôlego para agüentar o passeio light de tarde, a balada de noite, o longo passeio na praia. Tudo isso requer uma disposição que 5Kg a mais não me proporcionariam.


Fernanda não gosta da idéia de fazer exercícios na chuva, mas adora poder comer um extra no fim de semana e não está nem um pouco disposta a brincar de "io-io" novamente.


Que tal exercitar a sua imaginação e nos escrever um conto? Pode ser uma cronica também. Quem sabe uma fábula... Esforços mentais também gastam calorias! Clique aquie participe do nosso concurso! Garantiremos a diversão do verão para o nosso ganhador. ;)

sábado, junho 09, 2007

Awakening - Part I


"Give me Cersei Lannister and I'll show you how a woman can be gentle".
(George RR Martin, A Game of Thrones)


Os uivos soavam alto, e tudo o que eu podia fazer era fechar a boca com mais força para não ouvir meus dentes se batendo. O apartamento cheirava a mofo, mas também a éter e drogas como maconha e cocaína. O reboco descascava nas minhas mãos, e eu não precisei fazer esforço para ver que havia preservativos espalhados e pedaços de agulhas usadas no chão. Não que aquilo importasse agora, pois tudo o que eu sentia era o meu coração acelerado e uma vontade imensa de não estar ali.

- O que está acontecendo por lá? – ouvi Simon perguntar a Mike, que acabara de voltar. Os uivos pararam por um momento, e dessa vez eu quase podia ouvir meus ossos se batendo.

- Um... lobisomem. Eu nunca achei que fosse dizer isso com tanta certeza, mas tem um lobisomem na entrada. De quem foi a idéia maluca de vir nesse lugar mesmo?

- Acho que temos coisas mais importantes para nos preocupar agora...

Todos nós temos momentos de questionar nossas ações e escolhas. As minhas escolhas tinham me levado àquele lugar, e àquela situação. Um lobisomem, ele havia dito. Desde aquele dia na igreja o mundo deixou de ser o que parece – alguém que vê gente morta sabe que há muito mais atrás dos bastidores. E se eu estava lá, que fizesse aquilo direito. Um lobisomem. Se ele estava lá, eu queria vê-lo.

Aproveitei o momento de distração dos dois, a escuridão do apartamento e passei despercebida. O mundo, as coisas... tudo funcionava de alguma maneira. Nada acontecia de graça. Se eu estava ali, tinha algum motivo. Coincidência? Definitivamente não. Coincidência, sorte e azar são palavras que as pessoas usam para explicar o que elas não conseguem entender. Nossas escolhas nos fazem. Se não as escolhemos, elas nos escolhem. O próprio Simon havia me dito isso.

O corredor estava tão escuro quanto o apartamento, mas havia iluminação no lado de fora. Barulho de lataria amassada, talvez? Jurava que podia ouvir também uma conversa. Uma voz gutural, certamente inumana, falava algo, embora eu não pudesse entender daquela distância. Dei mais um passo, queria chegar mais perto, queria ver...

E então tudo mudou. Eu ainda estava no prédio, mas agora as paredes eram verdes e o chão de metal. Eu já não ouvia os uivos, nem as conversas, nem nada. Simon e Mike não estavam lá. Toquei na parede, e ela era real. O que teria acontecido?

Não tive muito tempo para pensar, pois logo ouvi um grito alto e desesperado, além de muito familiar. Procurei as escadas e subi apressada, meus passos soando alto conforme eu quase corria. Botas tinham estilo, mas definitivamente não eram nada práticas.

Nada no primeiro andar, embora eu já soubesse disso. Os gritos vinham de cima, do terceiro andar. Continuei correndo, mesmo que eu não soubesse bem o motivo. Eu apenas tinha que estar lá, precisava ajudá-la.

- Nicole? Nicole, é você?

Parei, quase tropeçando. Aquela voz, aquele tom... Olhei para trás e não vi ninguém, mas sentia a presença. Saberia quem era mesmo que eu estivesse drogada. Richard, irmão mais velho que morreu baleado na última “negociação calorosa” do meu pai. Nosso último encontro não foi dos mais amigáveis, devo confessar. Mas ele era o meu irmão, e isso que importava. Ele precisava de ajuda.

- Rick, onde... onde você está? Cadê você?

- Nicole, eu preciso... me ajude... isso é terrível... ME AJUDE!

E então eu pude sentir seu desespero, uma dor indescritível. Por uma fraqueza minha, o ar saiu dos meus pulmões e minhas pernas fraquejaram. A voz dele reverberava na minha cabeça, e por instantes o mundo pareceu rodar a uma velocidade vertiginosa. Quase agradeci quando ouvi novamente o grito alto da mulher, que me tirou daquele torpor. Voltando a mim, tornei a correr. Não sabia bem como, mas aquilo era um teste. Eu tinha que chegar a ela, precisava...

Os gritos do meu irmão ainda ecoavam na minha mente quando voltei a subir os degraus. Por Deus, aquela escada não acabava nunca? Quando finalmente cheguei ao último andar, meus passos ecoavam no metal. Os gritos haviam parado, mas eu sabia que ela estava ali, em algum lugar. Comecei a andar pelo corredor, olhando para os lados sem saber ao certo o que esperar.

Então eu vi algo... ou talvez alguém. Era um homem, ou ao menos eu tinha a impressão de que fosse. Conforme se aproximava, parecia ganhar tamanho, se agigantar diante de mim. Por instinto, ou medo, eu recuei um passo. E como se acionando um gatilho, gritos vários começaram a soar na minha mente, e por uma fração de tempo indefinida, me vi em uma igreja de arquitetura mista. Não, aquele lugar de novo não...

- Você não devia estar aqui. Este não é o seu lugar!

Embora ele abrisse a boca para falar, a voz não parecia vir dele. Ecoava por todo o andar, todo o prédio. As paredes pareciam se avantajar, me sufocando, me abatendo... e o homem se aproximava, os gritos se juntando à voz ininterrupta, minha visão turvava... Caí de joelhos, fraquejando. Senti o chão gelado na minha pele, baixei os olhos e de relance percebi que ele não tinha sombra. Ele não tinha sombra! Não era real! Consegui me colocar de pé e passei por ele, fazendo assim todas as ilusões desaparecerem.

Mas o pior ainda estava por vir.

E agora, um momento para nossos patrocinadores!

Vocês já devem ter visto, mas não há problemas em relembrar: o Membrana Seletiva está organizando um concurso entre os nossos leitores! Isso mesmo! É a sua chance de ganhar prêmios inúteis que não vão fazer nenhuma diferença na sua vida, e tudo isso arranjado por nós! Não é excelente? Detalhes do concurso vocês podem ter aqui.

sexta-feira, junho 08, 2007

1 Ano de Membrana: O Concurso



"Ni!"




Estamos a dois meses do primeiro aniversário do Membrana Seletiva e, para comemorar, resolvi lançar um concurso, com o apoio de Allana e o consentimento de Denise (quem cala, consente, oras!).

O Tema: Fantasia.
Pode ser conto, crônica, fábula... O formato tanto faz, desde que seja em prosa, por favor.
Os textos devem ter em média 800 palavras (o Word conta por vocês) e não deve conter erros gramaticais, para facilitar a nossa vida. Queremos ler os textos, não corrigi-los. =)

Os textos podem ser enviados a partir de... hm... hoje, 08/06/2007. Receberemos todos até o dia 01/08/2007 no e-mail membrana.seletiva@gmail.com. Mandem com o Assunto "Concurso Membrana Seletiva" ou algo parecido para podermos identificar. No e-mail, além do seu texto, inclua o seu nome completo e o endereço do seu blog, caso possua um.

Escolheremos 5 textos para publicar e o melhor será publicado no dia 08/08/2007, além de ganhar uma cópia do filme "O Senhor dos Anéis" e uma do livro "Entrevista com o Vampiro". (Nenhum dos dois originais, sinto muito... Mas é melhor do que um bombom xáxá!)

Esperamos ansiosas os textos de vocês e que vença o melhor, o mais engraçado, o mais sensível ou... enfim... o que acharmos que mais vai agradar nossos leitores e o que mais vai merecer nossos lindos prêmios.
Crédito da foto: Fernanda Eggers.

terça-feira, maio 29, 2007

Bom dia

Para Gustavo





Criatividade é bicho ruim, nunca aparece quando você chama.






Seis da manhã. O sol iluminava timidamente o quarto através das frestas da janela fechada, dando a ele um tom levemente alaranjado. O cômodo estava frio, foi a primeira coisa que ela notou, ainda num estado entre o sono e a vigília.

O frio a fez estranhar o ambiente, antes de abrir os olhos, antes mesmo de pensar em algo. Seu quarto não era frio, normalmente.

Ligeiramente mais desperta, considerou abrir os olhos. Antes que o fizesse, numa fração de segundo, a memória da noite anterior veio à sua mente. Mexeu-se de leve e sentiu um outro corpo na cama, deitado ao seu lado. Sorriu.

Só então abriu os olhos, vagarosamente, e encarou a luminosidade pálida do quarto. Uma luminosidade acolhedora, delicada. Até mesmo morna, aconchegante, apesar da temperatura.

Encolheu-se um pouco mais na coberta e virou-se devagar, com cuidado para não acordar o rapaz ao seu lado. Encarou-o por longos minutos, observando cada detalhe do seu rosto. Rapaz... Ou seria um homem? Evidente que sua postura era de homem, é um adulto, são ambos adultos. Mas esse rosto... esse rosto parece até mais jovem do que a verdadeira idade dele. Sorriu ao pensar nisso, nessa dicotomia.

Notou que ele estava descoberto, com as costas expostas ao frio gerado pelo ar-condicionado e abraçou-o, beijando o seu rosto, procurando não acordá-lo. Ele sorriu, beijou-a de volta sem abrir os olhos e virou-se, para encaixar-se melhor no abraço.

Ele dormiu mais um pouco, ela manteve-se cochilando e acordando periodicamente, pensando sobre onde estava e o que era aquilo tudo, sempre com o mesmo sorriso bobo. O mundo poderia desabar assim que se levantasse daquela cama, mas estava confortável ali. E, acima de tudo, estava feliz.

Por fim dormiu novamente. Enquanto ela dormia, ele acordou, virou-a cuidadosamente e abraçou-a, invertendo a posição em que estavam. Ela acordou com o movimento, mas preferiu manter seus olhos fechados e simplesmente sentir. Sentir o calor dele contrastando com o frio do quarto, sentir o cheiro e o toque de sua pele, sentir que ele estava tão satisfeito quanto ela própria se sentia.

Passou-se algum tempo. Poderia ter sido alguns minutos ou algumas horas, não havia ninguém contando ou se preocupando realmente com isso. Ele ergueu-se ligeiramente, tocou o nariz dela com o seu e deu-lhe um beijo.

- Bom dia.



Edicão do conto meio que feita em cima da hora e com sono, vontade de publicar logo...
Perdoem qualquer coisa.