domingo, janeiro 14, 2007

Bussiness Man



A lua não passa de um grande queijo suíço. E que será comida por ratos alienígenas.



Ele era, antes de tudo, um homem de negócios. Ilícitos, mas negócios.

Armas – todas as gangues precisavam de armas. E seu tino de negociante, herdado dos seus pais sicilianos, foi fundamental. Giorgio tinha uma mente prática e racional, e um raciocínio afiado como a ponta de uma faca. E mesmo assim se casou e teve filhos.

Não que ele não gostasse das crianças, mas cedo ou tarde aquilo atrapalharia sua vida profissional – ou assim pensava nos primeiros anos de Richard, seu primeiro filho. Em seguida, veio Gabriel. A essa altura, já gostava de chegar em casa e encontrar brinquedos espalhados na sala de estar. E afinal, ele teria que ter herdeiros.

Amava sua esposa, e ela era fiel e compreensiva. Assim pensava, até certa noite abrir a porta do banheiro e encontrá-la enforcada. Depressão pós-parto, disseram uns. Ela não agüentava a pressão, disseram outros. Giorgio, no entanto, sempre soube o verdadeiro motivo: vingança. Ele carregaria aquela visão consigo para o resto de sua vida, e sempre se sentiria culpado.

Talvez para se redimir, fez de tudo para manter a recém-nascida afastada da família. Nicole, a garota de sorriso fácil, a menina dos seus olhos. Com ela ele não poderia errar, como fez com os outros dois, que já tomavam parte de tudo. Com ela seria diferente: estudos, viagens, uma profissão, e uma vida tranqüila e feliz. Mas nem tudo sai como planejado.

Uma sabotagem – uma emboscada, na verdade. Em uma verdadeira guerra nos bastidores, vidas e mais vidas foram perdidas. Mortes violentas, brutais, que os jornais faziam questão de não divulgar, ou ao menos esconder a verdade. Ninguém disse que era um ramo fácil, afinal. Concorrência acirrada.

E quase que o derrubaram. Perdeu boa parte dos seus homens, mas eles poderiam ser substituídos. Um filho, no entanto, é diferente. Richard morreu, pelas balas que ajudou a repassar. Gabriel, o mais sensato da família, estava em coma no hospital. E seus negócios arruinados. Precisou chamar Nicole de volta.

E ela voltou, bem diferente. Ainda sorria, e não conseguira se livrar das sardas. Mas não era o mesmo sorriso fácil, e tinha sempre um olhar distante, como se não estivesse ali. Não era mais a mesma. Mas ele também não era, e não podia esperar o mesmo da filha que não via a... três anos?

No entanto, não esperava que ela tentasse se matar. Sua cota de suicídios por uma vida já havia chegado no limite. Encontrou-a semi-consciente, prostrada no chão do banheiro, sangrando. Parecia ter esboçado um sorriso de alívio ao vê-lo – teria se arrependido? Por que ela fizera isso afinal?

E ali estava ele, sentado numa cadeira de hospital, lendo revistas velhas, enquanto esperava o desgraçado do médico aparecer com alguma notícia. Estava virando perito naquilo. Olhou para o relógio de parede: oito da noite. Tinha um compromisso em meia-hora. Fez alguns cálculos mentais e se levantou. Deixou o número do celular com a enfermeira e saiu. O efeito da anestesia não deveria passar daqui a pelo menos três horas.

Ele era, antes de tudo, um homem de negócios.


E para quem não viu o começo, aqui vai: parte I

8 comentários:

Allana disse...

Mudando os focos da narrativa, ao estilo George RR Martin. E... bem, essa personagem promete. Talvez agora eu venda um livro com milhões e milhões de cópias, fique rica e famosa, e não precise trabalhar mais.

Wet dreams. -.-

Anônimo disse...

Eu disse que as possibilidades estavam aí (os scraps comprovam!), quero o meu pedaço na porcentagem dos seus milhões viu, não esqueça que eu sou o seu agente :P

Sobre o texto, gostei, principalmente pela quebrada no clima, agente saiu de um momento de desespero, pra uma análise fria e calculista da vida, um flashback reto de um personagem extremamente prático e direto nsa suas ações. O texto ficou bem com a cara do personagem mesmo.

Acho que um flashback mais completo sobre a "vida" dele antes de tudo também pode ser interessante, talvez ele não seja tão durão quanto parece, ou tenha endurecido depois de tantas rasteiras e revézes.

"He is still human after all" =D

Aiaiaiai, tenho que terminar a novelização da aventura hoje, não é possível...

Fernanda Eggers disse...

Sem saco pra falar muito. Você sabe.
Mas eu gostei.
=)

Anônimo disse...

Putz... se você não falasse eu nem me tocava que era continuação...

São textos bem diferentes e quando eu lembrei do primeiro deu aquele medo...

"putz grila (pra não escrever puta merda, que foi o que eu pensei), onde essa louca (da Allana) vai parar?"

Adoro essa sensação :D

Italo disse...

2007 começou sorrindo pra você, não negue. Mas não desista do seu sonho de vender milhões de cópias e não precisar mais trabalhar. Até a dona do Harry Potter conseguiu!! Você consegue.(e a danada era a mulher mais rica da Inglaterra ¬¬) Difícil vai ser bater a minha "heptologia" épica que eu vou lançar fora de ordem, ah, isso sim. ^^
;*

Fernanda Eggers disse...

Heptologia épica fora de ordem?!? Ô.Ô

*medo*

Ivo Brunet disse...

Muito bom. Muito bom mesmo, as duas partes.
Eu enxergo numa HQ, contando a saga da família, complementado por um pungente desenho, que também muda de estilo de acordo com as formas de ver o mundo do personagem.
Vai ficar bem expressionismo alemão cinematográfico. ;)
Show.

Anônimo disse...

Que maravilha esta continuação, amei, viu dona escritora!!
:))
Envolvente mesmo.
Vou ganhar um autógrafo, neh? E um livro grátis também!
:))