segunda-feira, janeiro 29, 2007

Rainy days

Como fazer Deus rir? Conte a ele seus planos futuros.

"Admirar um velho quadro é verter a nossa sensibilidade numa urna funerária, em vez de lançá-la adiante pelos jatos violentos de criação e ação. Você quer portanto estragar suas melhores forças numa admiração inútil do passado, do qual você sai forçosamente esgotado, diminuído, espezinhado?"
(F.T. Marinetti, Manifesto Futurista)



Chovia pesadamente aquele dia. Era fevereiro, afinal. Chovia pesadamente quase todos os dias daquele mês. Giorgio sempre acreditou que chuvas em dias de funeral queria dizer alguma coisa, embora ele nunca soubesse o que. Preferia pensar que a torrencial chuva ia levar embora aquele sentimento vazio que, ironicamente, o preenchia.

Já era viúvo havia anos - e aquele buraco foi preenchido por um espírito prático e racional. Naquele dia, no entanto, não pôde evitar de lembrar dela. Sofia. O que ela diria se estivesse ali? O que ela teria feito se tivesse presenciado a morte do seu primogênito?

Era estupidez pensar naquilo. Ela estava morta, afinal. Talvez ela tivesse feito isso justamente para não precisar passar por aquele momento. Ele estava sozinho, isso que importava. Seu filho mais velho, Richard, havia morrido por vingança de um grupo rival. Todos os seus homens de confiança também. Pensando agora, eles também tinham família. Filhos e esposas estavam chorando sobre túmulos agora.

Não que aquilo fosse um pensamento reconfortante.

Fez um sinal-da-cruz, pensando que não queria enterrar outro filho. Mattew estava no hospital, estado grave. Coma. Ao menos tinha alguma chance. Ao menos ele não estava enterrando seu irmão, a quem sempre fora tão apegado.

Giorgio amou Sofia, e conscientemente ela o havia deixado. Enforcada. A imagem dos seus lábios arroxeados pela falta de ar surgiu em sua mente. Amou Richard desde quando segurou-o quando ainda era um bebê chorão até quando fecharam o caixão antes de enterrá-lo. Amou Matt, o mais introvertido e talvez o mais sensato dos três. E amava Nicole, a garota sonhadora e a menina dos seus olhos. Teria que trazê-la de volta por mais que não quisesse.

Então seu telefone tocou.

Olhou o número e não conseguiu evitar um meio sorriso. Aquele massacre não ficaria em branco, afinal. Logo prepararia sua vingança. Deu as costas ao túmulo, levantou o capote, deu uns passos na grama molhada e atendeu o celular.

- Créditos do avatar: li-bra's deviantart
- Sim, eu sou péssima com títulos.

6 comentários:

Fernanda Eggers disse...

Uia!
Uma continuação decente!
Tô gostando geral!
Só eu nã sei fazer continuações decentes... ¬¬
A imagem ficou fantástica!!!

Allana disse...

Não é bem uma continuação... :D Afinal, isso aí é logo depois que o filho dele morre, e antes da Nicole voltar. Mas bem, os textos não precisam ser escritos na ordem que serão futuramente publicados. Sim, porque eles serão publicados e eu vou ganhar MILHÕES, MILHÕES! XD

Anônimo disse...

Faltou o "muahuahaha" no final do seu comentário. E, poxa, é legal ver histórias que são conectadas entre si. Bah, "de uma mesma campanha". Não duvido não que essas histórias possam se tornar algo maior e maior.

Anseio por mais.

Anônimo disse...

Ai..ai..ai... Eu ia comentar que gostei do texto, mas parece que é uma continuação...
Bom, então, vou achar por aqui a primeira parte para comentar tudo de uma vez, ok?
Mas que a narrativa está muito boa, esta!! Parabéns!

Anônimo disse...

Estou adorando as seqüências...mesmo que não sejam exatamente seqüências...hehehehehe
Cada narrativa melhor que a outra!!
E a imagem tá lindíssima!!

Ivo Brunet disse...

Tá foda.
=)