sábado, janeiro 06, 2007



Góticos de verdade não existem. Góticos de verdade se matam.




TLEC.

Esse foi o barulho que fez o interruptor quando Nicole entrou no banheiro acendendo a luz. As paredes revestidas de cerâmica branca já estavam meio fofas, mas o cômodo era limpo e organizado. Suspirou, cansada de mais um dia de trabalho, e distraidamente se despiu, largando as roupas de qualquer jeito no chão. Olhou de relance para o pequeno espelho ovalado mas logo desviou o olhar. Detestava aquelas sardas, por mais que quase ninguém as notasse. Faziam-na parecer uma adolescente.

Ligou o chuveiro e deixou que a água banhasse seu corpo desnudo. Nada como um banho quente depois de uma tarde inteira tendo que aturar uma excursão escolar na galeria. "Você finge que explica algo, eles sequer fingem que prestam atenção, e você ainda precisa responder perguntas imbecis. Nem parece que eu fui assim um dia", pensava, esperando que a água levasse seus aborrecimentos ralo abaixo.

Fechou os olhos para retirar o xampu e percebeu que uma escuridão repentina tomou conta do banheiro. Levou a mão a uma das paredes, buscando apoio, mas a luz voltou. "Ufa, achei que tivesse queimado... de novo". A oscilação continuou, e logo Nicole percebeu que não era um fenômeno puramente elétrico. Fechou os olhos novamente, e desligou a ducha, temendo algo mais sério.

Um calafrio súbito desceu-lhe pela espinha, e a jovem continuava de olhos fechados. Não queria ver, não de novo...

Igualmente repentino um vento forte invade o cômodo fechado, derrubando vidros de produtos diversos. A oscilação na lâmpada continuava incessante, cada vez mais rápida. Nicole tremia, e não era de frio. Por instinto tapou os ouvidos, mas em sua desorientação escorregou no chão, caindo indefesa. Não resistiria por muito tempo, e logo se ouviu gritando:

- O que você quer?! O que diabos você quer de mim?!

O box abriu-se estrondosamente, certamente rachando o vidro temperado em algumas partes. A jovem encolheu as pernas, abraçando-se. Seu maxilar tremia, e todo o seu corpo parecia suar frio, suor se misturando à água. Mas não conseguia desviar o olhar.

Conforme a lâmpada acendia e apagava, no espelho ovalado Nicole via sendo escrito com o vapor da água quente: Ajude-me. Logo abaixo, rompendo o branco da cerâmica, viu as letras se formando, dessa vez em sangue: AGORA!

E como aqueles pensamentos que nos ocorrem nos momentos mais importunos, veio à sua cabeça: "De onde vem esse sangue?" Seguindo o rastro do líquido vermelho com os olhos, percebeu a origem: do seu lado, um pedaço da embalagem de sabonete líquido estava suja de sangue, enquanto seu pulso esquerdo sangrava abundantemente.

Seu impulso foi gritar, e, irracional que estava, esfregava o ferimento. Trêmula e em pânico, a respiração lhe faltava, e a hemorragia não parava. Via seu sangue escorrer livremente - como podia ter tanto sangue assim? - até que uma fagulha de sensatez a atinou para tentar estancar o ferimento. Puxando uma toalha, tentou improvisar um curativo, quando vozes ecoaram na sua mente:

- Ajuda... eu preciso... de você... tortura... dor... ajuda...

As vozes ganhavam cada vez mais força, mais ímpeto, mais vigor. Pedidos de ajuda, gritos de sofrimento, e em meio a tudo aquilo, a voz lhe era conhecida.

- Minha... irmã... ajuda...

Mas como? As últimas palavras fizeram gelar seu coração. Seu.. irmão...? Mas... por quê...? Como... por que não a procurou antes? Por que tanta tortura...? Seus pensamentos se confundiam e se esvaíam juntamente com o sangue do seu pulso. O corte devia ter sido mais profundo do que julgara, afinal. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, sentiu a consciência se esvair conforme a porta do banheiro era aberta violentamente. Nunca ficara tão feliz em ver seu pai.

10 comentários:

Fernanda Eggers disse...

O que virá em seguida?!?
*Suspense*

Está muito legal! Muito mesmo!
Gostei dessa Nicole, mas imaginei que ela morasse só.

Anônimo disse...

OMFG!!! O.O'

Quando sai seu livro? Eu quero um autografado!! (de preferência que eu não tenha que comprar xD)

Está muito bom!

*Esperando a continuação*

Allana disse...

Hã... e vai ter continuação? o.O Lol!

Italo disse...

Tá do caraalho!! A narração me cativou totalmente. A cena também ficou massa. Me senti dentro do banheiro.
Fabuloso, amiga, fabuloso. \o/

Anônimo disse...

Mas é claro que vai haver continuação, na verdade, vão haver várias outras histórias com Nicole, a vida dessa personagem está apenas começando né :P

Ficou ótimo, a narrativa tá muito massa e as reclamações dela sobre o "trabalho" deram um charme a mais (pobre patricinha, não sabia o que era pegar no pesado né).

Agora você vai ter que dar uma volta na vida ela também né, explicar de onde ela veio e pra onde ela vai (eu tava lá quando ela nasceu em Chicago =P), porque tem muita coisa massa pra se falar, principalmente sobre o pai dela.

Acho que também vale a pena puxar esse conto aí pra página da campanha, quem sabe o resto do povo num se mete a escrever também =D

Anônimo disse...

Espero que realmente haja a continuacao, estou curiosa!!
A narraca...a descricao...sao incriveis!!!

Anônimo disse...

*narracao (meu teclado nao tem cedilha, nem til,nem acento algum...

Anônimo disse...

Como assim "e vai ter continuação? o.O" ?
e porque não teria? xB

Anônimo disse...

Putz Allana, você tem que avisar: não leia esse texto as quatro da manhã sozinha numa casa grande com um quintal enorme, portas de vidro que dão pra ele, todas cobertas por cortinas brancas esvoaçantes, ainda por cima ouvindo uma das música mais lentas de ERA...

Pensando bem, avise PRA LER nessas condições sim... fica massa!

Anônimo disse...

putaquepariu. a narração é muito cativante mesmo, prende bastante. me senti dentro do banheiro.

nicole é gatinha, tem uma pernas que... ahm. *cof cof*

pensei nela sendo magrinha, branquinha, com um cabelo preto, liso e curto. e uma tatuagem na nuca.

ai, ai.