sábado, janeiro 20, 2007

Personagens Femininas no RPG




A lua não passa de um grande queijo suíço. E que será comida por ratos alienígenas.




Lendo A Game of Thrones, de Martin (cuja mini-resenha vocês podem encontrar em posts anteriores) e conversando com Fernanda, me ocorreu uma conversa que tive com meu digníssimo a algum tempo atrás: por que todas as jogadorAs fazem personagens com o arquétipo "mulher decidida e corajosa"?

Na ocasião da conversa, my lord groom(1) perguntou: por que todas as personagens de vocês seguem esse tipo? Parei para pensar e fiz uma rápida retrospectiva mental sobre as protagonistas da minha vida rpgística (ou ao menos as mais queridas), que segue abaixo:

  • Aila, barda com sangue celestial, devota da deusa da beleza. Cresceu com a mãe, não conheceu o pai, e aos 15 saiu viajando como aprendiz de um elfo bardo pela qual se apaixonou. É uma mulher independente, metida a casamenteira, e certas vezes toma decisões que se afastam das do grupo. Faz parte do arquétipo.
  • Akane, atualmente guerreira. Supostamente abandonada pelos pais, cresceu adotada por um taverneiro. Aos 13 anos fugiu de lá para tentar descobrir de onde veio. Acabou se juntando a um grupo de aventureiros famosos, e graças a uma reviravolta envelheceu 10 anos em 10 dias, que foram passados no plano do deus da guerra. Também se encaixa.
  • Tessa, abandonada pelos pais (repararam que eu adoro um drama?), cresceu nas ruas de Sharn. Traz como marca de nascença uma misteriosa marca que lhe concede um certo poder místico de influência sobre as pessoas, e graças a essa marca ela sempre esteve à margem da sociedade. Adotada aos 11 anos por um professor de universidade, seguiu os passos do amado pai adotivo e hoje é uma exploradora à lá Indiana Jones. Se encaixa tanto no perfil que transborda nele.
  • Edrien, personagens de Star Wars. Não tem força combativa alguma, mas é dona de uma mente rápida como um tiro de blaster bem dado. Com um talento nato para construir coisas, pretende fazer um droid protocolar que vai fazer todo o serviço pesado pra ela: lavar roupa, carregar coisas, e só. Pilotar naves, construir armas, veículos, consertar coisas diversas é a sua vida. Bem, apesar de meio dependente combativamente, age por si só na maior parte do tempo. Também se encaixa no perfil.
E então, lendo o romance referido acima, eu noto: as personagens que mais me atraem são as mulheres decididas, que respodem, que agem, e que, de preferência, carreguem uma espada. Ou ao menos seja uma personagem realmente interessante, com desejos além de "casar, tornar-se rainha e ter muitos filhos". O mesmo acontece em outras coisas: séries, quadrinhos e filmes. Mais exemplos? Eden, de Heroes. Jenny Sparks, do Authority. E eu gostei da Arwen de Peter Jackson. E claro, a Lust de Full Metal Alchemist, do meu avatar.

O motivo é óbvio: nós vivemos numa sociedade pseudo-igualitária. Mulheres seguem carreiras outrora seguidas apenas por homens (ou melhor, mulheres seguem carreiras), o inverso também é válido, e hoje em dia já se vê saltos altos no meio de uma construção civil. E claro, há mulheres por demais dirigindo(2). E o RPG, assim como a arte, imita a vida. Afinal, não seria nada atraente para uma garota jogar com uma lady que passa seus dias bordando ou com uma camponesa que morre de trabalhar o dia todo para ser tomada pelo marido quando a noite cai. Ao menos isso não parece nada atraente para mim.

No entanto, a vero-semelhança (grafia intencional, vale salientar) não pode faltar de todo. Devem existir personagens chatas e melosas que sonham em se casar, ter filhos, e não necessariamente amando o seu marido. Se assim for, tanto melhor. Se não for, paciência. Amantes servem para isso. Essas personagens, normalmente, se encontram sob o controle do mestre. Ou do roterista. Ou do escritor, e normalmente não são personagens protagonistas.

Um outro detalhe inerente à personalidade feminina é o drama. Eu mesma adoro um drama. Pais perdidos, um inimigo jurado, um amor não-resolvido... quanto mais background, melhor. Pena que nem sempre eu tenha criatividade para isso. Ainda partindo das minhas personagens: Tessa conseguiu em suas jornadas um amor proibido; Akane está grávida de um homem que atualmente ela odeia e prestes a fazer um casamento por conveniência; Aila fez um acordo com uma criatura infernal e sua alma pertence agora ao lorde do segundo círculo dos infernos, e Edrien acabou de se ver metida em uma intriga que lhe tomou muito mais que um braço (sim, ela tem um braço mecânico).

E mais uma vez caímos na premissa de que tudo se adapta às necessidades de mercado. ^^

(1) Eu realmente acho que estou lendo romances de fantasia medieval demais...
(2) Sim, um pouco de machismo: sou contra as mulheres dirigirem. Principalmente eu.

12 comentários:

Anônimo disse...

Eu acho que existem dois motivos principais para que as personagens mulheres do RPG sejam assim:

1)mulheres que ficam em casa, fazendo refeições e esperando pra serem tomadas pelos maridos à noite não são aventureiras, no sentido rpgístico da palavra. (noutros, no entanto...)

2)e, deve ser uma reação à toda a cultura machista de que mulheres são delicadas e não devem se envolver em coisas perigosas, não devem arriscar a vida, não devem se machucar.

Mas, sei lá, a primeira razão, é também, por extensão, a mesma razão que nenhum jogador de rpg é um garçom, dono de um negócio que exija que ele fique num lugar só, e bla.

O que tu acha?

Allana disse...

Mas isso não se estende somente a personagens de RPG. :P Quadrinhos, filmes, etc. E uma "aventura" não precisa incluir viagens, pilhagens e orcs mortos. Uma campanha poderia se passar inteira mas intrigas de uma corte, por exemplo.

Anônimo disse...

Realmente, não se estende somente a personagens de RPG. Eu usei esse exemplo porque as mulheres do RPG eram quem estava sendo discutidas.

Mas, acho que em algum nível, mesmo inconsciente ainda, muuuuitas (!!!) mulheres têm essa necessidade de parecer ou ser "corajosas e independentes e etc." para lutar contra o preconceito, pra lutar contra o machismo, mais do que por necessidade própria. Feministas servem como um exemplo razoável.

(essa discussão tá indo loooonge...)

xD

Fernanda Eggers disse...

Em um romance medieval, realmente não tem graça nenhuma uma mulher ser dona de casa.
Mas tem um ou outro livro que se passam na atualidade em que a mulher não trabalha fora, mas ou ela é a personagem principal ( "Como Ser Legal" - Nick Hornby) ou ela é o estopim da história ("Odisséia" - de um autor escocês, se não me engano, cujo nome eu esqueci).
A mulher não deixa de ser inteligente em nenhum dos casos. E não vou falar que 2 livros trazem histórias de adultérios, porque isso não vem ao caso.
Mas a não ser que a história seja um drama familiar, qual a graça de fazer uma "Guinevere" ("Brumas de Avalon", a de "Crônicas de Artur" é mais decidida, independente e aventureira que muito homem daquela trama)? Qual a graça de ficar em casa bordando um estandarte e tentando parir enquanto o marido tá na guerra?
Outra... Allana, dirigir é uma questão de costume. E o que acontece é que chega uma hora em que você não precisa pensar em um zilhão de coisas, vira tudo reflexo. E depois, a liberdade que isso dá é fantástica! Agora mesmo estou indo na UFPB com minha prima resolver problemas da matrícula, no dia e na hora que eu escolhi. Dirigir bem não é privilégio do sexo masculino. Aliás, os do sexo masculino fazem MUITA merda no trânsito, tá? Eu sei bem disso. Acho que o maior problema são iniciantes inseguros e velhos. Velho no trânsito é uma desgraça. E iniciantes inseguros são uma ameaça a si mesmos, se não aos seus carros (a lateral direita do meu que o diga, apesar de eu achar que não dirijo tão mal).
Eu devia escrever um post, não era? =D mas parei por aqui!

Anônimo disse...

Acho que como a galera já disse, personagens que não vivem "além" da nossa vida normal não interessam a ninguém, sejam eles homens ou mulheres. Tem que ter algum brilho, alguma coisa diferente que chame a atenção ou que nos leve pra o mundo deles.

E dependendo do contexto, até uma dona de casa que fica em casa cuidando dos filhos pode dar histórias interessantes, já imaginou o que as crianças são capazes de fazer, ou o que ela tem que fazer pra dar conta de criar os filhos, cuidar da casa e ainda botar grana pra manter tudo isso?

Acho que a procura pelo que é diferente é uma coisa natural no RPG, afinal, se não for pra viver uma vida diferente (mesmo que os arquétipos que fazemos costumem se assemelhar muito a nós mesmos), não há necessidade de se interpretar nada e o RPG vende exatamente a fuga do lugar comum, da vida real (assim como outras formas de arte que imitam a vida de sua própria forma pra criar uma realidade paralela).

Um pouco fora do assunto, mas tem um cover que os Beatles fizeram, "Act Naturally", que fala sobre um cara que diz que vai ser muito famoso no cinema, porque ele vai interpretar ele mesmo nas telonas. As vezes "reviver" a própria realidade é interessante também né :P

Allana disse...

Uhul, polêmica! o/

Anônimo disse...

Ah, tinha esquecido, só sabe o quanto Allana vai dirigir bem quem já andou com ela de carona, auhauhauahuahuhauahuhauhauahuahuahuahuahuahuaha!

Ou ela vai ser daquelas motoristas desesperadas que vão parar o carro pra descer o tamanco no resto do povo ou vai ser daquelas que vai andar tão devagar, mas tão devagar, que é capaz de fazer engarrafamento na BR :P

Allana disse...

He-he-he. ;P

Anônimo disse...

Pxa, todo homem que eu vi fazendo personagem inseguro e meio bobo acabou matando o personagem rapidinho, ou enchendo o grupo pra parar com a campanha besta logo.

Homem também faz isso... se bem que eu gostei da idéia de fazer agora uma dona de casa apaixonada pelo marido que é raptado, e como o filho mais velho fugiu e sumiu, e os mais novos já estão querendo ir também, ela decide ir procurar o marido ela mesma antes de mais filhos que ela ama tanto se matarem numa busca insensata. Felizmente ela é vizinha da irmã que adora cuidar de crianças, podendo deixar os pimpolhos com ela.

Alguém aí quer mestrar pra mim?

Anônimo disse...

Bom, não posso dizer com certeza, pois nunca joguei mesmo rpg, só participei de umas brincadeirinhas que não duraram mais que uma tarde. De qualquer forma, minha personagem não seria feita pra ficar em casa...eu mesma já não gosto de ficar...gostaria mais é que ela se metesse no maior número de confusões possíveis e arrumasse formas inusitadas de se desvencilhar delas.

Fernanda Eggers disse...

Ah! O livro não era "Odisséia". Era "Ulisses" de James Joyce, que é irlandês.

Italo disse...

Bom, minha opinião é semelhante a de muitos outros. Quando estamos jogando rpg, queremos fugir da realidade e de nossa vida normal. E todo cenário de rpg - pelo menos os que eu conheço - têm boa dose de ficção, de coisas especias ("supers") ou sobrenaturais.

Para muitos, não parece interessante interpretar uma mulher que fuja às qualidades que você mencionou. Mas eu certamente aplaudirei àquela(e) que um dia tentar. Mesmo assim, mulheres decididas e corajosas podem ser de muitos tipos e formatos, cores e tamanhos. E ter momentos - dramáticos? ^^ - de medo e indecisão. Ou seja, podem ser personagens interessantes.

PS: Fiquei honrado por você ter posto Edrien na sua lista de personagens mais queridas. Star Wars às vezes não é muito favorável para criação de personagens muito profundos.